21 September 2006

entrevista ao Senhor F

Há um tempo atrás, o escritor e biógrafo Nélio Rodrigues, autor do livro "Os Rolling Stones no Brasil", procurou a mim e aos meninos da Equipe Mercado, porque estava levantando dados pro seu próximo livro. Foi ótimo conhecê-lo, viramos amigos, e ele fez uma entrevista comigo na revista virtual de rock Senhor F. Ficou no ar por um tempo, depois foi pro arquivo, nº 22. Agora infelizmente não está mais acessível e acessável, não sei porque. Várias pessoas me perguntam pela entrevista, e resolvi transcrevê-la aqui no blog, onde estará guardadinha e ao mesmo tempo inteiramente legível clicável indeletável para o deleite de todos que aqui entrarem. Ei-la pois:

NR-Como e quando você se tornou cantora da banda que veio a se chamar Equipe Mercado?

DD-Estávamos no ano de 1969, em plena ditadura militar, estava cursando o 2º ano da Faculdade de Arquitetura da UFRJ, depois de ter feito o curso de piano com Nise Obino na Academia Lorenzo Fernandez , teatro com Nelson Xavier e expressão corporal com Klaus Vianna. Achava que -agora sim!- tinha encontrado o que queria. Naqueles corredores compriiiiiiiiiiiiidos da FAU eu vivia passarinhando, cantando, soltando a voz, o eco me dava um timbre danado!! Então num desses vai-e-vens, eles- Marcos Stul, Trajano Lemos, Antonio César Lengruber- me ouviram e me convidaram para fazer parte da sua banda intitulada César, Marcos et Trajanus.
A coisa mais importante que estava acontecendo para mim no momento era o Tropicalismo. Gil e Caetano. Me identifiquei inteiramente. Esse Movimento foi fortíssimo... me virou de ponta-cabeça.... me descompassou o coração... me deu força pra fazer coisas nas quais eu sempre acreditei...mas não ousava... Eu, que estava estudando pra ser arquiteta (tinha jeito, desenhava bem), de repente, com esta explosão estética-moderna-contemporânea-musical, não tive dúvidas: era isso que eu queria: a música popular... o Tropicalismo me fez descobrir a mim mesma, e foi inspirada nele que eu comecei a minha carreira.

Topei fazer parte da banda dos meninos.

Ensaiávamos no Rocha num pátio no último andar da casa da avó do Lemgruber, entre biscoitinhos e refrescos. Instrumentos precários, difícil acesso, mas cheios de ideais utópicos, sonhos, ansiedade, alegria, alegoria, fantasia, trópicos, repertório de Beatles, Stones, Mutantes, e surgindo nossas primeiras composições. Lá fora o pau comendo no Vietnam, Janis e Hendrix nos embriagando, tudo era tão novo, tudo era tão forte, tudo era tão aqui e agora, e o aqui e agora, tudo. Nasceu o Mercado.

NR- Desde sua entrada, a banda sofreu uma rápida transformação. Tanto estética quanto musical. Quais foram os fatores que contribuiram para que a Equipe se tornasse um grupo de vanguarda?
DD- Um dos fatores foi o encontro do Mercado com Ricardo Guinsburg e seu parceiro Ronaldo Periassú, quando vieram nos chamar para participar de sua composição no programa da Dercy Gonçalves na TV , cantando Xaxerú.

Ricardo e Ronaldo faziam umas músicas inteiramente surpreendentes, influenciados pela poesia concreta dos irmãos Campos, Décio Pignatari, música de vanguarda, Stokenhausen, Rogério Duprat, e por aí vai... Deste encontro com a dupla nasceu a Equipe Mercado.

A banda básica era sempre igual: Stul no baixo, Lemgruber na guitarra, Guinsburg no violão acústico microfonado (!), eu cantando, tocando percussão, dançando. O baterista variava... Nascimento... Áureo.... Cláudio Jaguaribe.... Trajano.... Carlinhos Graça... João del Aguila. Às vezes Periassú participava com voz e corpo, e sempre com idéias para happenings.

Era uma equipe mesmo: fora a banda, havia as mulheres, os maridos, os amigos, os parentes, cada um ajudando, dando uma força no que podia... Época das comunidades, de morar junto, de se abraçar, de se entender, de mudar o mundo.... Eu particularmente senti que aí podia acontecer muuuuita coisa, não só pelas composições tão originais de Guinsburg e Periassú, mas também pelo espaço que eu teria para criar criar criar, usar minha voz como instrumento, meu corpo como pássaro e nuvem, meus olhos como janelas para a esfera terra. Me soltar, voar e voltar etérea.

Outro fator (não determinante, mas inspirador) foi o fato de a gente ter se matriculado no Instituto Villa-Lobos, ali na Praia do Flamengo, antiga sede da UNE (hoje virou o estacionamento do velho Cipriano). Essa escola era a vanguarda da época (para se estudar música, só tinha a Escola Nacional de Música, o Conservatório e a Academia Lorenzo Fernandez, todas com aquele ensino tradicional clássico). Dirigido pelo Reginaldo de Carvalho, que fazia música eletro-acústica e aleatória, o Instituto Villa-Lobos era também um ponto de encontro de hippies, de artistas de todos os setores.... Rose Marie Muraro, Cecília Conde, Bohumil Med, J.Lins, entre outros, eram os professores, e Celia Vaz, Paulinho da Viola, Nelson Jacobina, Mauro Senise estavam entre seus alunos.

Outro fator foi o fato de nós do Mercado sermos como éramos, abertos a todos os tipos de música, sem preconceito algum, querendo experimentar, fazer coisas novas, arriscar, nos aprimorar.

E claro, o momento histórico-cultural foi decisivo.

NR- O estilo da Equipe era único, pois misturava o psicodelismo (tanto na melodia quanto nas letras das músicas), a teatralidade, a dança...No palco, era um verdadeiro happening. Essa forma avant-garde de ser surgiu espontaneamente?

DD- Totalmente. Os arranjos eram de Ricardo Guinsburg, que vinha com uma idéia pronta e íamos acrescentando outras idéias e detalhes e a coisa ia tomando forma. Eu cuidava também da parte visual, cenário, figurino, expressão corporal. E muita coisa acontecia na hora, em cena mesmo. Cada show era diferente do outro, dependendo da situação, do local de apresentação etc. Por exemplo, no Teatro Poeira, que era um teatro pequeno e aconchegante situado na rua Jangadeiros, na Praça General Osório,distribuimos ao público presente panelas, tampas, objetos para que pudéssemos em conjunto fazer uma criação coletiva. Foi fantástico, pena que naquela época não havia meios para se gravar ao vivo uma experiência dessas, pelo menos nós não tínhamos.... Já não se podia fazer isso em espaços maiores.... aí fazíamos outros tipos de "happenings"(palavra usada naquela época pra dizer "performances") durante os shows.


NR- Vocês tinham consciência da ousadia e originalidade da banda? Era isso que vocês buscavam?

DD- Tínhamos consciência sim... Claro que antes da nossa primeira apresentação como Equipe Mercado (foi no programa da Dercy Gonçalves na TV), não sabíamos o que estava para acontecer, mas me lembro particularmente de uma reunião em Santa Teresa que se deu um pouco depois, na casa do Guinsburg e Periassú (a primeira vez que andei no estribo do bonde, e desde então me apaixonei pelo bairro onde moro até hoje). Era uma reunião para discutir o sucesso repentino, e traçar estratégias e nos preparar pro que vinha mais pra frente.
Isto foi nas vésperas da apresentação no Festival Universitário de SP, onde fomos tocar "Poesonscópio de Mil Novecentos e Quarenta e Quinze" , de Guinsburg e Periassú (depois gravado no lado B do compacto que saiu pela Odeon, com "Mary K no Esgoto das Maravilhas" no lado A). Teve a participação especialíssima do músico Naná Vasconcellos. Figurinos surreais de Vera Figueiredo. O grupo de teatro Oel, de São Paulo -umas quinze ou mais pessoas- escovando os dentes no palco enquanto a gente se apresentava. Hoje em dia isso pode parecer banal, mas em 69 era motivo de escândalo, com reações as mais imprevisíveis, desde meias-páginas iradas de cronistas no jornal, até.... É bom lembrar que estávamos em plena ditadura militar, sempre bom lembrar isto, porque essa nuvem era constante, pairando sobre a cabeça de todos.

Nosso objetivo, claro, não era fazer escândalo, mas sabíamos que nosso trabalho era de vanguarda, e que iria provocar muita polêmica. Mas como qualquer artista, buscávamos uma aceitação de público e crítica, um reconhecimento pelo nosso talento e ganhar o suficiente para podermos nos sustentar sem precisar trabalhar em outra coisa senão na Equipe Mercado.

NR- Num festival universitário, em São Paulo, vocês ganharam um prêmio de originalidade por conta desse estilo mas, em compensação, passaram maus bocados em Cataguases, de onde foram expulsos. Como é que vocês encararam esses dois fatos antagônicos? Em Cataguases, o público e as autoridades presentes ficaram chocados com a apresentação da banda. Como foi?

DD- Este Festival Universitário em São Paulo foi justamente a apresentação que descrevi acima, com Naná Vasconcellos e o Grupo Oel. Tivemos muito sucesso, com prêmio e muitas apresentações agendadas em vários pontos do país. Mas teve muita crítica contra. O Flávio Cavalcanti, um famoso apresentador da TV, nos chamou pra fazer o programa dele no Rio na TV Tupi não porque tivesse gostado, mas sim pra falar mal, pichar: Só a nossa presença no programa já iria aumentar o ibope dele. Foi assim. E nós fomos porque era uma baita divulgação...

Agora, em Cataguases, foi diferente. Tratava-se de um Festival Audio-Visual de Vanguarda. De Vanguarda, diziam. Fomos defendendo a música de Guinsburg e Periassú "Marina Belair" (depois gravada pela Odeon num disco chamado "Posições", com o Som Imaginário, A Tribo e Módulo Mil). Essa música era sobre uma manicure do "bas-fond" da Lapa. Levamos para o palco montanhas de papel, plásticos, objetos, uma caravana de amigos para fazerem a cena: o halterofilista de sunga, corpo azeitado mostrando seus músculos musculosos, casais em posições e movimentos sugerindo trepadas, baldes de suco de groselha, gente fazendo com que devorava carne crua. Eu vestia um lençól manchado de vermelho, eles, de mendigo. Nossa apresentação tinha a duração de aproximadamente 20 minutos. Quando saímos de cena, sentimos um clima tensíssimo... soubemos pelas pessoas do júri, que o povo da cidade queria nos linchar...neguinho tava doido de ódio. Tínhamos ido além dos limites para Cataguases... Logo a polícia entrou nos bastidores e apreendeu os nossos documentos. Entendimentos, desentendimentos, negociações... Ficamos até o final e fomos os últimos a sair do teatro, junto com o júri nos servindo de escudo, escoltados pela polícia até o alojamento. Passamos a noite em claro, e na manhã seguinte, às seis e meia da manhã, havia duas kombis nos esperando para sair da cidade. E só então os nossos documentos nos foram devolvidos. Fomos sem ao menos tomar um café da manhã. Saimos frustrados, sentindo-nos injustiçados, pois o júri nos informou que íamos tirar o primeiro lugar, e o dinheiro do prêmio, sem dúvida, iria vir em boa hora. Mas por que esta cidade hospedou um Festival Audio-Visual de música de vanguarda? não tinha condição...

A repercussão aqui no Rio foi intensa. Colunas de jornalistas (Luis Carlos Maciel, José Carlos Oliveira, Julio Hungria e mais), falando sobre o assunto dias seguidos. Revistas com a reportagem, com fotos com os dizeres: "A seminudez e a gesticulação erótica dos jovens do Mercado indignaram muitos espectadores"; "A apresentação do grupo Mercado provocou o grande escândalo do festival e causou a expulsão de seus integrantes pelo delegado". Como diria o Luis Carlos Maciel, em um dos seus artigos (foram pelo menos 4) no jornal Última Hora: ".... fazer um festival de vanguarda numa cidade do interior é fogo!!....."

NR- Como é que vocês foram parar num espetáculo com Betty Faria e Leila Diniz?

DD- Chamaram a Equipe Mercado para participar de um espetáculo que ficaria meses em cartaz, na Boite Sucata do Ricardo Amaral (onde ficava o Tívoli Park, por ali). Seria um musical picante, com texto de Luis Carlos Maciel, dirigido por Neville de Almeida (também autor de um filme erótico -super 8- com as duas atrizes, que foi filmado exclusivamente para ser rodado durante o espetáculo). No roteiro de músicas, canções de compositores conhecidos (por exemplo, Betty cantaria, dentre outras, "As Curvas da Estrada de Santos" de Roberto e Erasmo Carlos) e nós, além de apresentar o nosso repertório, tocaríamos, por exemplo, o "Cérebro Eletrônico" de Gil, etc.
Os ensaios foram divertidíssimos, a gente se deu super-bem com as duas, e o espetáculo saiu divulgado em jornais, outdoors e panfletos. Na estréia a casa estava super-lotada, muita loucura, muita confusão e aconteceu o que ninguém esperava: roubaram o tal filme delas, que mostrava, entre outras coisas, elas devorando, sugestivamente, um farto abacaxi. No dia seguinte, o "grude" estava formado. Elas se recusaram a participar, rescindiram contrato, e nós seguramos sòzinhos a peteca.

NR- O sucesso de "Mary K No Esgoto das Maravilhas" chegou a surpreender a banda?

DD- Sabíamos que tínhamos em mãos uma coisa boa, e que, com um pouco de sorte, seríamos recompensados. Não deu outra!!! Tirou o 6º lugar, com direito a contrato na gravadora Odeon (logo gravamos um compacto com Mary K no Esgoto das Maravilhas no lado A, e Poesonscópio de Mil Novecentos e Quarenta e Quinze no lado B, esta terrìvelmente mutilada para que durasse no máximo 3 minutos, exigência da gravadora...). E estourou!!! Por meses, 1º lugar no "Show dos Bairros" da Radio Mundial, Radio JB. Me lembro tão bem da sensação inenarrável que eu sentia ao escutar minha voz saindo ali no rádio. Primeira vez!!!!

NR- Que lembranças você tem daquela vida de hippie em Santa Teresa? Dá pra descrever um pouco?

DD- Vai ser difícil descrever "pouco"! São bilhares de lembranças devidamente guardadas em gavetinhas do inconsciente, que vou abrir, sacudir a poeira, pra poder responder a essa pergunta. Aquela "vida de hippie em Santa Teresa" citada, nem sei quando acabou, nem sei SE acabou.... Vou falar primeiro da chamada "casa da Equipe Mercado".
Bem, a primeira lembrança é do perfume que um cacho de bananas deixou pela casa toda ao amadurecer.

A casa de que falo é a mítica enorme casa na Rua Julio Otoni (Santa Teresa), de 2 andares, um vasto quintal, 5 quartos, que alugamos e fomos morar em comunidade. Os primeiros moradores fixos oficiais foram 3 meninos da Arquitetura e eu. Junto havia dezenas de "agregados", irmãos, namoradas, namorados, irmãs, amigos, primos, artistas em geral, produtores, que ocasionalmente passavam... e dormiam por lá. Fomos os primeiros da nossa turma de conhecidos a fazer isso, uma atitude mais que ousada, revolucionária. Difícil encontrar um proprietário que quisesse nos alugar algo, mas conseguimos depois de muito bater perna. Pra mim foi uma saída dramática, meu pai era contra -e olha que ele era músico, foi do Bando da Lua, tocou com a Carmem Miranda, foi com ela pros States filmar e se apresentar, conheceu minha mãe atriz, eu nasci (digo que foi por causa da Carmem que eu nasci!!!). Tudo isso pra dizer que ele era artista, tinha tudo pra ser mais aberto, mas que nada... foi uma barra, fiquei anos sem pisar os pés em sua casa... Agora, se ele era assim, imagina como eram os pais convencionais...

Bem, então afinal saimos da casa dos pais. E agora? agora era fazer tudo diferente deles, mudar a nossa vida, mudar o mundo... Mas como?? não sabíamos... mas isso não importava. Nos reuníamos semanalmente pra discutir "como". Tudo era posto em pauta, desde a posição do papel higiênico na parede, até o revesamento dos quartos (os da frente tinham uma vista pra baía de Guanabara, e chegamos à conclusão que seria justo que todos pudessem usufruir disso), passando pelo cardápio , atividades comunitárias e indo pra estudos esotéricos, e claro, era o local de ensaio da Equipe Mercado, onde recebíamos outros músicos, produtores, artistas. Tudo era feito em comunidade, em conjunto. Hoje em dia, com esse individualismo reinante, é difícil de imaginar, mas na época tinha tudo a ver... as filosofias orientais sendo descobertas... yoga, macrobiótica, tai-chi-chuan, Maharishi, Ravi Shankar, os beatniks, as drogas, Marcuse e MacLuhan, leitura dinâmica, Julian Beck e o Living Theatre, José Agripino de Paula, Zé Celso Martinez Correa, livros como O Despertar dos Mágicos e os de Carlos Castañeda, Ordens Místicas secretas, W. Reich, viagens de corpo astral, sexo grupal, amor livre, ninguém é de ninguém, feminismo, feminismo, feminismo, jogar fora o sutiã...uma verdadeira avalanche de novos conceitos estético-filosófico-culturais me dando a sensação de que eu tava nascendo, tinha estado até então na barriga da minha mãe. Como consegui chegar até essa idade (22 anos) sem conhecer o arroz integral? sem saber o que era uma mandala???? sem ter acampado em Arembepe???

E repetindo: não esquecer jamais que estávamos em plena ditadura militar. Amigos desaparecendo assim.

E lá fora a Guerra do Vietnam...

Quem viveu os anos 70 sabe.

Na mítica casa, passávamos o dia a compor, tocar, cozinhar nossas refeições macrobióticas, estudar, fazer artesanato, pintar, cuidar dos afazeres domésticos, ensaiar... Na decoração, nada de camas, dormíamos em esteiras no chão, caixas de alho eram transformadas em prateleiras, tampas de goiabada coloridas em quadros, costurávamos, tingíamos, bordávamos nossa própria roupa, criando a nossa própria moda... Fazíamos nossas sandálias de pneu, nossa bijuteria, que também vendíamos na Feira Hippie na General Osório (era MESMO uma feira hippie quando começou.... vendi muito colar e sandália lá feitos por mim).

Aliás, era muuuuuito difícil ganhar dinheiro com música naquela época. Não havia essa profusão de lugares pra se apresentar como hoje, nem os instrumentos, nem os equipamentos, nem a infra-estrutura, nem as facilidades de uma gravação de cd em casa, nem os livros de música, nem os songbooks, nem os cursos que existem hoje em dia, nenhum investimento em arte... e às vezes topávamos com alguém que achava que a gente tinha que tocar de graça... que era "feio" ganhar dinheiro com música... aquela idéia idiota que o artista tem que viver duro, esfarrapado: esse é o "verdadeiro" artista.... porque quem ganha dinheiro com música é vendido, comercializado, não tem valor, e a música é um "dom divino" a qual não se pode vender bla bla bla...


NR- Apesar do relativo sucesso da bonita "Campos de Arroz", em 1971, a Equipe não teve fôlego para emplacar 1972. Por que a banda se desfez?

DD- Foi um sucesso mesmo, a canção (minha letra com música do Guinsburg) foi gravada na Phillips, com a direção musical de Nelson Motta, com uma verdadeira orquestra atrás, arranjo maravilhoso, com aqueles scattia pensere abrindo a introdução, uma beleza mesmo. Mas, fazer parte da Equipe Mercado, como aliás de qualquer banda, era muita entrega, a dedicação era total, e a gratificação monetária pouca, o sacrifício era muito, e a vida de artista pop acabou sendo inviável para uns... Lengruber foi se formar como arquiteto, Guinsburg foi trabalhar em produção de jingles e música para propaganda em geral. Foi assim que Equipe Mercado se dissolveu. Os que ficaram -eu e Stul- decidimos sair da casa na Júlio Otoni -grande demais, recordações demais- e fomos morar por pouco tempo num ap., também em Santa Teresa, para um pequeno período tranquilo de reciclagem de baterias. Nascia o Diana & Stul.

NR- Com o fim da Equipe, você e Stul seguiram como dupla (Diana & Stul) e gravaram um compacto pela RCA. Você pode sintetizar esse período na sua carreira?

DD- Fiizemos vários shows como dupla (na boite Flag, com Edson Frederico e Juarez Araújo, por exemplo), e gravamos na RCA esse compacto maravilhoso que tem a participação de Paulo Moura e Maurício Einhorn na ótima música do Stul "Não é Preciso Correr"... Mas naquela época NADA estava fadado a ser um "período tranquilo" por muito tempo: aos poucos fomos morar com toda a banda do Diana & Stul: Mario Jansen (piano e teclados), Afonso Correa (bateria, substituindo João del Aguila), Barroco (guitarra), num castelo monumental na Rua Joaquim Murtinho, também em Santa Teresa, onde já tinham morado o Luís Sá (do Sá e Guarabira) e as nossas amigas, a dupla Luli e Lucinha.

Que castelo!!!

Ali continuou tudo, com a diferença de que, como os moradores oficiais eram todos músicos, e músicos da mesma banda, só se falava de música, respirava-se música, ensaiava-se música, comia-se música de dia e....de noite!!! Muitos agregados, hippies, hare-krishnas, artistas (hospedamos Zé Celso por um tempo), produtores passavam por ali. Carregávamos um piano de armário nos shows, estávamos trabalhando razoàvelmente bem, compondo bastante, ensaiando diàriamente, aparecendo na midia, fotos, tijolinhos de shows, reportagens de meia página, entrevistas, e conseguindo pagar o aluguel do castelo só com o dinheiro dos shows. Que nem na época da Equipe Mercado, não tínhamos carro, não tínhamos telefone, era tudo de orelhão e boca-a-boca, fazendo cola de farinha para colar pela cidade nossos cartazes de shows, que claro, eram feitos por nós. Mimeógrafo. mala direta. Chegou uma hora que não dava mais. A precariedade cansa... Apareceram outras ofertas e convites irrecusáveis de trabalho para cada um de nós, e cada um foi trilhar seu caminho.

NR- Depois, você encarou uma série de musicais, entre eles o "Rock Horror Show" que ficou em cartaz, no Rio, de fevereiro a junho de 1975. Como foi sua participação?

DD- O musical sempre foi o meu gênero preferido de filme, de teatro, de tudo. Desde criança eu achava que a vida deveria ser assim -cantada e dançada!... Era mais profundo... era mais leve... era mais solto... era mais completo... eu via (vivia!) aquelas operetas com a Jeanette Macdonald, depois as chanchadas da Atlântida, depois os musicais americanos -Gene Kelly, Leslie Caron, Cid Charisse, Fred Astaire- e filmes como South Pacific, Um Americano em Paris, Dançando na Chuva, 7 Noivas para 7 Irmãos, West Side Story (que perdi a conta de quantas vezes eu vi, umas 25...e continuo vendo)... Como eu desde os 8 anos de idade estudava dança (e meu trabalho posterior ter sido muito baseado em dança e expressão corporal), fiquei extasiada quando fui chamada pra participar do "O Casamento do Pequeno Burgues" de Brecht/Weill, dirigido pelo saudoso Luis Antonio Martinez Correa. Eu era uma das coristas, meu nome era Mameley Dan-Dan. Começava a peça tocando ao piano a Ave Maria de Gounod. Marieta Severo, Thelma Reston, tinha muita gente incrível no elenco. E a banda? Barrozinho, Tomás Improta....

Depois fiz um musical infantil de Paulinho Machado e Fernando Pinto (dos Dzi Croquettes), uma incrível fantástica fábula cibernética chamada "Roboneta, o Planeta dos Robôs", toda cantada e dançada, com um figurino belíssimo do Fernando Pinto, coreografia belíssima de Fernando, músicas belíssimas de Paulinho, belíssima peça, belíssimas pessoas, belíssimo trabalho!!!

E finalmente, o Rock Horror Show, que fez um tremendo sucesso, com direito a gravação pela Som Livre da trilha e tudo! Vivi, com essa peça, uma época de super-exposição na mídia: minha foto saía 3 vezes por semana em jornais, meu aniversário com repórteres e fotógrafos, fofocas, reconhecida na rua, esse clima... Dirigido pelo -nem sei que adjetivo dar, era uma pessoa tão tão especial, tão única- Rubens Correa. Eu era a protagonista, a noivinha que seria "corrompida" pelo vampirão. Os ensaios eram puxadíssimos, o dia inteiro varando a noite, mas... que prazer era trabalhar com o Rubens! O elenco, super-divertido. Quase toda dançada, com rodopios, sapateados, altas coreografias (hoje em dia é comum, naquela época os musicais estavam começando aqui)- a peça exigia um preparo físico perfeito... A voz tinham que alcançar a última fila da platéia, sem microfone... Sábado e domingo, fazíamos duas sessões... Só sei que quando acabou a temporada, eu estava precisando de umas férias... resolvi dar um tempo, uma reciclada, e fui passar uns meses no mato, em Lagoa das Lontras, Miguel Pereira, pra onde, claro, levei tinta, pincéis, papel de desenho, máquina de escrever, instrumentos, discos, fitas k7 e um gravador. Sem TV ou telefone.

NR- O Bando da Santa foi outro projeto efêmero, não é?

DD- Antes do Bando da Santa uma coisa importantíssima aconteceu na minha vida profissional: tive a oportunidade de conhecer e trabalhar com Walter Smetak, músico, filósofo, escritor, poeta, criador de instrumentos-esculturas. Smetak trabalhava com microtons (a primeira vez que ouvi falar dele foi naquela música do Gil "Língua do P": smetak tak tak tak. Depois saiu o LP dele produzido por Caetano). Foi num curso de Criação Espontânea que ele estava dando no MAM, e de noite era encenada a peça dele, A Caverna. No dia em que entrei, sentei na sala e nós nos olhamos, foi uma empatia muito forte, uma identificação total, como se nos conhecéssemos há muito. Pediu pra eu cantar. Assim... sem nada ...sem acompanhamento... sem letra... improvisar... Fiz o que ele pediu. Resultado: de noite já estreei como cantora na peça, e desde aquele dia mantivemos um relacionamento muito profundo, muito forte, me identifiquei inteiramente com o seu trabalho, e a participar com a maior paixão. Como ele morava em Salvador, eu "me mudava" pra lá a cada chamado seu. Eu passava de manhã à noite, todos os dias, no seu estúdio-oficina num subsolo dos Seminários de Música da UFBA. Tenho muito material gravado inédito que passei pra cd recentemente, é um trabalho do qual me orgulho demais, e que pouca gente conhece.

A verdade é que depois disso, senti que nada mais me restava a fazer aqui, e fui armando aos poucos a minha transferência para Europa (onde vim a trabalhar com Smetak de novo, no evento Horizonte 82, em Berlim, 1982). O Bando da Santa estava nesse meio entre uma coisa e a outra. Esse nome representava o conjunto de várias bandas, que juntaram seus trabalhos num verdadeiro "mutirão musical" . Gente que morava em Santa Teresa, que se conhecia e trocava figurinhas há muito tempo, se esbarrando no bonde, no colégio, nas esquinas do bairro. Na época não existia essa coisa de música ao vivo nos bares: o que fazíamos era ensaiar cada grupo no seu canto e íamos nos apresentar lá embaixo, na cidade. Resolvemos então nos juntar, conseguimos através da Região Administrativa de Santa Teresa, um bom espaço bucólico, cheio de mangueiras, bem no Largo dos Guimarães (ex-Colégio Brentano) pra ensaiar, e neste espaço - fato inédito- conseguimos realizar vários shows históricos. Mas como isso era incomum, em pouco tempo começou-se a ter um movimento contra o Movimento que estávamos criando (que considero precursor do Arte de Portas Abertas, um festival de música, teatro, artes plásticas que se realizou em 97, com shows ao vivo por todo o bairro), e tiraram a gente de lá. Cada um então seguiu o seu rumo. Fui pra Europa.


NR- Nos anos 80 você passou uma boa temporada na Europa se apresentando com o grupo Cana Caiana. Quem participava do grupo? Conte um pouco dessa sua aventura.
DD- Acho que a "vida de hippie" acabou quando eu fui pra Europa. Em país que não é seu não se pode vacilar, você vai estar competindo com gente dalí, você sempre vai ser estrangeiro, não vai ter a família e os amigos pra darem uma força, então tem que procurar ser o "melhor"... se vestir bem, fazer bons contatos, falar a língua do país, ganhar mais dinheiro pois tudo é mais caro, os invernos são frios, e é loooonge pra caramba...

Mario Jansen (tecladista do Diana & Stul e do Bando da Santa) tinha se mudado pra lá havia 2 anos, e sempre me chamava pra montarmos um grupo, que daria o maior pé, que teria muito trabalho, que tava um momento ótimo pra música brasileira... Quando senti que era a hora certa, lá fui eu, pela Royal Air Marroc (existe ainda?) com escalas em Casablanca (opiástica!) e Tânger (fantástica!) rumo a Madrid (de putísima madre!!!!!). Um mes depois chegou o Bida Nascimento (baixo do Bando da Santa), seguido de Walter Guimarães (bateria do Bando da Santa). Nascia o grupo Cana Caiana. Meu repertório mudou completamente: sai o rock and roll e músicas autorais, entra a bossa nova e o samba. Foi quando aprendi a letra de Garota de Ipanema, entre muitas outras.... Claro, porque o que nos diferenciava do resto, era o fato de sermos músicos brasileiros, e naquela época, ainda não havia muito músico brasileiro lá.

Mario estava certo, o momento era excelente, de Madrid fomos pra Paris, onde fizemos uma boa temporada no Via Brasil, além de turnês por toda a França (Biarritz, Rouen, Montpellier e Algerès-Sur-Mer na Riviera Francesa, etc), fomos fazer o reveillon de 80-81 no Hyatt Regency Hotel em Dubai (Emirados Árabes), nesta ocasião participando de um show turístico de mulatas chamado "Tangas of Brazil", além de shows na Suiça e em Londres. De lá, para Barcelona, onde resolvemos estacionar nossa carroça e criar uma base por um bom tempo. A cidade catalã de Gaudi, Dalí, Miró nos recebeu de braços abertos...era deslumbrante, acolhedora, gostosa, alegre, fizemos amizades que duram até hoje.... e havia muita oferta de trabalho... em relativamente pouco tempo o Cana Caiana juntou um público fiel que ia onde quer que a gente fosse... De lá conseguimos agendar show por toda a Espanha, de ponta a ponta, uma maravilha.... Foram mais de 30 cidades diferentes!!!

Nessa fase o Cana Caiana contava com o guitarrista brasileiro Alfredo Lemos (também do Bando da Santa), que veio do Brasil especialmente pra tocar conosco. De Barcelona fizemos contato também para uma temporada em Porto, Portugal, e pegamos 24 horas de trem não parador, com uma cesta cheia de "bocadillos de tortilla" (enormes sanduíches de omelete) que eu havia feito na véspera.

Portugal foi sucesso total, ficamos 2 meses tocando de segunda a segunda no Chico´s Bar, com a maior mordomia, casa cheia, um verdadeiro barato, e de quebra, um show de hora e meia na TV Portuguesa!!! De volta a Barcelona, Alfredo precisou voltar pro Brasil, Mario foi convidado pra fazer um trabalho solo, eu fui chamada pelo diretor do "Tangas" pra fazer uma temporada de 3 meses na........TUNÍSIA, ganhando muito dinheiro, oferta que não dava pra recusar.

Hospedada num hotel 5 estrelas (Diar-Al-Andaluz)em Sousse, à beira-mar, de dia na praia com camelos passando, de tarde na piscina, onde de noite estaria cantando à sua beira, a lua, o cheiro de jasmim, tudo foi tão perfeito que parecia um filme... por 3 meses eu conheci o Paraíso. Cenário enebriante. Romance no ar. Quando terminou a temporada, fui morar em Munchen (Alemanha). Mas, como Munchen não é Sousse, e o cheiro de linguiça com chucrute é bem diferente do de jasmim, a coisa não vingou... Voltei pra velha e querida Barcelona, que me acolheu de braços abertos.

Mas tinha um problema... como eu sou americana, com carteira de estrangeiro, tinha expirado o meu visto permanente no Brasil, pois fiquei mais tempo fora do que o permitido por lei. Fiquei em pânico, doente, entrei em depressão, havia me esquecido completamente desse detalhe. Fui no Consulado e soube que havia uma maneira de conseguir a permanência de volta, mas tinha que voltar ali e naquele momento. Passagem de ida e volta pela Varig. Mas chegando aqui, aqui fiquei. Foi o fim de uma coisa, renascimento de outra, nova fase, nova casa, nova gente... mudanças... o eterno deus mu....dança!!!!

NR- Seu primeiro (e único) disco solo (Fome de Javali), saiu em 1990. De lá pra cá o que é que você tem feito? Tem planos de lançar outro disco?

DD- Antes do lançamento do Fome de Javali (que foi em 1992), é interessante falar sobre o recheio do sanduíche (minha volta da Europa e o disco). Apesar de eu ter passado relativamente pouco tempo fora (um pouco mais de 3 anos), as coisas aqui tinham mudado muito! Pessoas que eu conhecia não trabalhavam nos mesmos lugares de antes (nas gravadoras, nos teatros, na produção), minha agenda telefônica ficou desatualizada, amigos casaram e se mudaram. O rock estava no auge: enquanto eu estava na Europa, houve um interêsse das gravadoras em investir no rock nacional, promovendo diversas apresentações para um público grande em praças, praias etc. Disto se beneficiaram diversas bandas jovens (Kid Abelha, Paralamas), e alguns músicos da minha geração, que então tiveram a oportunidade de divulgação do seu trabalho e a formação de um público (Lobão, Ritchie, Lulu Santos).

Fiquei meio sem saber como recomeçar. Antes de entrar em parafuso, resolvi estudar. Soube de um curso de Harmonia e Composição que Antonio Adolfo estava dando no Calouste Gulbenkian (na Praça Onze; naquele tempo ele ainda não tinha sua famosa e renomada e bem sucedida Escola. Hoje ele fala brincando que nós éramos suas cobaias!!!). Antonio é um professor fantástico, um grande músico, uma pessoa simplesmente maravilhosa. Ficamos amicíssimos e foi naquele curso (que pulou pra Copacabana, depois pra casa dele mesmo, e finalmente pro Leblon e que durou 4 anos), que eu compuz no piano mais de cem músicas (5 delas estão no meu LP), a maioria só instrumentais.

Continuando o recheio: em 1989 Mario Jansen voltou da Europa e reiniciamos nosso trabalho, compondo um bom número de músicas. Em 1990 eu e Nelson Jacobina iniciamos uma parceria, com shows com músicas nossas e de outros autores, como Maysa, Jorge Mautner, Luis Melodia, Thelonius Monk etc. Em 1992 produzimos o disco Fome de Javali (título de uma composição nossa), shows de lançamento... Paralelamente fiz uma pesquisa com o Nelson de repertório de sambas antigos para montarmos um show chamado Cachorro Vagabundo, com participação especial de Ignez Perdigão (flauta, cavaquinho) e Rubinho (cavaquinho), com músicas de Assis Valente, Wilson Baptista, Ismael Silva, Nelson Cavaquinho entre outros. No ano seguinte, eu e Mario Jansen montamos um show de blues (Noites de Blues), com participação especial de Barroco, repertório de Bessie Smith, Leadbelly, Chuck Berry, Jimi Hendrix, Muddy Waters, B.B. King, Robert Cray etc. Ainda participei de mais 3 trabalhos: um sexteto de bossa nova (Encontros com a Bossa); uma "big band" de covers dançantes (Itaipava Band), com músicas de Stevie Wonder, Marvin Gaye, Stones etc; e um trio de jazz (Jazzy Hours), com Bida Nascimento (baixo), Alfredo Lemos (guitarra), e eu no piano e cantando aqueles "clássicos" de jazz. Estes trabalhos todos estão gravados ao vivo, e umas músicas também em estúdio, o que já é material para novos cds. Há pouco tempo atrás me formei em Bacharelado de MPB pela UNI-Rio, e com isso surgem novos caminhos, novas possibilidades.

E vem aí um CD de inéditas.

Um leque de 360º de portas se abrindo e estou no meio disso tudo... epa!!! sinto que está tudo começando outra vez...

3 comments:

Anonymous said...

Maravilhoso túnel do tempo!!!

Anonymous said...

Olá! Adorei isso tudo, faço há 9 anos um programa sempre dedicado a cena nacional, não importa qual cena, se de hoje ou ontem ou até quem sabe amanhã, enfim... No programa rolam bandas dos anos 60 e 70 de rock brasil, psicoledico e prog mundial, além de bandas novas, estou com algumas músicas do Equipe Mercado e outras da sua dupla com o Stul, quero muito mostrar isso no programa, resolvi fazer uma pesquisa a respeito pq sempre gosto de falar um pouco de como era e tal, e achei seu blog, sensacional. Gostaria de saber se existe a chance de vc gravar um texto pra mim falando da banda, e tudo mais, diga sim!!!!! Aguardo uma resposta, mesmo que negativa, foi um enorme prazer te ler, beijo

dianadasha said...

Marcia,
a resposta é sim, claro que adoraria falar "da banda e tudo mais". manda um email pra mim, que a gente combina, bj e sucesso no teu programa