28 July 2006

nunca mais


Como é que é isto? Como é que a gente faz quando uma pessoa vai embora pra sempre? quando parte? quando tava ali falando com a gente na véspera, e uns dias depois inconsciente, e outros dias depois não se mexe mais, pra nunca mais??? Essa palavra -nunca- é radical. Tão radical, que não merece ser levada a sério, em se tratando de qualquer assunto em vida, como -nunca vou beber de novo- nunca mais vou viajar de avião- nunca mais vou falar contigo etc etc...A experiência nos ensina a nunca dizer nunca... Nunca só tem o seu significado pleno, cheio, verdadeiro, confiável, em presença da morte. Nunca mais vou ver essa pessoa- nunca mais vamos conversar. Nunca mais. Não tem meio termo. Não é mais ou menos. Não é de vez em quando. Não é raramente. Não se trata de um talvez. Nunca é nunca mesmo. Nunca é o absurdo. O que fazer? buscar explicações além-Terra? absurdo não se explica. Nunca mais. Minha única certeza é que não entendo nada, absolutamente nada da vida e da morte. É tudo mistério, e quero que continue assim.

24 July 2006

Thelonious Monk



Não tem pra ninguém. O Monk é o melhor de todos. Depois que ele apareceu, nunca a música americana de jazz (bem, e a internacional também...) foi a mesma. Estava a frente de sua época, e ao mesmo tempo enraizado no jazz tradicional. O mais criativo de todos. Original na sua música e em vários outros aspectos de sua vida- no jeito de se vestir, no modo de se expressar, no seu humor, no seu jeito de se apresentar no palco... Fala Monk:

"Anyone can use farout chords and seem wrong. It's making them sound right thats not easy" (Qualquer um pode usar acordes inusitados e soar errado. Fazê-los soar bem é que é difícil).

Pra quem não conhece, uma breve biografia tirado do seu site oficial:

Monk nasceu dia 10 de outubro (libriano!!!) de 1917 em North Carolina, e se mudou com a família para Nova York aos 4 anos. Desde cedo foi considerado um prodígio. Começou no trompete aos 9 anos, depois passando pro piano, e adolescente, tocava na Igreja Batista em quermesses e em shows amadores. Estudou no Peter Stuyvesant Music School, um dos melhores em NY. Em 1935 começou a se apresentar profissionalmente, e 2 anos depois montou seu primeiro quarteto.

Por volta de 1941 aconteceu uma revolução no ambiente musical de NY - o bebop, com novos conceitos sobre harmonia e rítmo- e um dos celeiros do movimento foi o bar Minton's, onde, junto com Monk, se apresentavam Charlie Parker, Dizzy Gillespie, Bud Powell, Kenny Clarke, Max Roach, entre outros. Só a nata. Só tinha fera. Gostaria eu de ter estado lá nesse exato momento (meu pai esteve...).

A maneira de Monk tocar já era por si só revolucionáriamente original: enquanto que a mão esquerda dos pianistas todos tocava poucos acordes, mantendo na direita solos muito rápidos, tecnicamente perfeitos, virtuosísticos (mas comuns..), tanto a mão direita como a esquerda de Monk eram ativas, usando toda a extensão do teclado, além de valorizar espaços e os silêncios das pausas, com um fraseado único e uma economia de notas, dando lugar aos outros músicos para que também desenvolvessem as suas idéias. Monk não estava interessado em escrever melodias para as progressões de acordes comuns e tão batidas, e em vez disso, criou toda uma nova arquitetura harmônica e rítmica mesclando a melodia. Dizia ele: "Quando uma canção conta uma história, quando adquire um certo som, então está acabada... e completa".

Coleman Hawkins foi o primeiro a contratá-lo para um compromisso extenso e o primeiro a chamá-lo pra gravar. Isto foi em 1944, mas até o começo dos 50 ele ficou meio no anonimato. A maioria dos críticos e muitos músicos também lhe eram hostis. Era muita novidade para aquelas cabeças, não dava pra entender, não dava pra assimilar... A Blue Note foi a primeira gravadora a contratá-lo. Isto foi em 1947 (ano que nasci. Enquanto ele arrepiava as noites da Big Apple, eu mamava..), ano em que também se casou com a Nellie Smith. Bem, em 47 ele estava com 30 anos, já era um veterano, tendo passado quase a metade da vida debruçada no piano!!!

Os discos na Blue Note são antológicos, geniais, mas comercialmente não foram grande coisa. Ninguém ainda estava preparado para Monk.

Em 1949 nasce seu filho Thelonious. O dinheiro está escasso e fica pior quando é preso injustamente por porte de drogas, assume o flagrante pra aliviar a barra do seu amigo Bud Powell. Com isso, perde sua licença para tocar em NY (o "cabaret card", documento obrigatório na época para se apresentar em Nova York), e fica 6 anos sofrendo as consequências. Apresenta-se então em Brooklyn, em shows esporádicos fora de NY, continua sempre compondo, participa de gravações com Sonny Rollins, Milt Jackson, Miles Davis. Em 1953 nasce sua filha Barbara, e uma ano depois vai para Paris, onde grava seu primeiro album solo na Vogue, uma prestigiadíssima gravadora, e é aí que finalmente Monk começa a ser notado. Em 1955 é contratado pela gravadora Riverside, onde grava verdadeiras obras-primas e passa a ser elogiadíssimo pela crítica: Thelonius Plays Duke Ellington, Brilliant Corners, The Unique Thelonious Monk, e o segundo album solo Thelonious Monk Alone, entre outros. Em 1957 recebe a ajuda da Baronesa Pannonica de Koenigswarter que vira sua grande amiga e mecenas, e que consegue seu "cabaret card" de volta. Logo começa a histórica temporada de Monk e Coltrane no Five Spot Café, que se estendeu por muitos meses e foi um sucesso extraordinário. A partir daí sua carreira foi para as estrelas.

Em 1961 ele formou seu Quarteto famoso, com o Charlie Rouse no sax tenor (esse foi até o fim; no baixo, primeiro Butch Warren, depois Larry Gales, e na bateria Frankie Dunlop, depois Ben Riley), e excursionou por todos os EUA, e Europa e Japão. Em 1963 se apresentou no Lincoln Center regendo sua própria Big Band, assinou contrato com a Columbia e em 1964 foi capa do Times, o que significava a consagração total e completa. Monk fica famoso, e aos poucos suas excentricidades vão sendo reveladas na mídia, muitas vezes mais frequentemente que a sua música. A Columbia, por sua vez, vai absorvendo um público cada vez mais pop rock, e o jazz vai dando seu lugar pra outros gêneros mais populares durante o final dos anos 60. A útima gravação de Monk foi em 1968, com a Orquestra de Oliver Nelson. Em 70 Charlie Rouse deixa a banda, e em 72 Monk é dispensado da Columbia. Monk forma outra banda com os saxofonistas Pat Patrick e Paul Jeffrey, e seu filho Thelonious na bateria. Ainda realiza uma tour com os Giants of Jazz -Dizzy Gillespie, Art Blakey entre outros, e sua última aparição pública foi em 76. Sofre um derrame irreversível em 1982 e doze dias depois, no dia 17 de fevereiro, morre.

15 July 2006

atracao pelo abismo


Uma pessoa tá fazendo uma prova importante, tipo um vestibular, coisa assim. Recebe a prova, lê a prova, e percebe que não sabe responder quase a metade. Em vez de fazer logo as que sabe, e ir tentando as outras, vai dando um pânico, e acaba entregando a prova o mais rápido possível pra acabar com aquele desespêro.
Uma pessoa tá vendo o jogo do Brasil X França, torcendo para o Brasil na Copa de 2006. França faz um gol. Em vez de torcer e torcer e torcer pro Brasil fazer um, e depois outro, pra desempatar, a pessoa não aguenta a angústia e grita pra França fazer logo dois, e fica o resto do jogo esperando o próximo gol da França e.... torcendo pra França!!!!!
Uma pessoa vai dormir tarde, mas sabe que precisa acordar cedo na manhã seguinte. Em vez de dormir as tres ou quatro horas que tem, prefere emendar, já que tá acordado, continuar... "daqui a pouco vou ter que me levantar mesmo"
Uma pessoa tem um bicho de estimação que está muito doente. O tratamento é lento, difícil, trabalhoso e estressante, mas oferece uma possibilidade de cura. Pra não ter que passar pelo processo todo tão desgastante, melhora um dia, piora outro, continua igual no outro, sente dor no outro, fica muito mal no outro, aí melhora, prefere acreditar que não vai dar certo, não tem mais jeito, o que resta é sacrificar o animal.
Uma pessoa tá fugindo de um sei lá, touro com chifres afiados e enormes, correndo, e de repente tem uma árvore, ele sobe de qualquer jeito sem nem pensar, de repente ele nota que subiu mais do que podia. Olha pra baixo,o touro, e à sua volta, um abismo. Em vez de esperar o touro ir embora, sim, porque touro não vai ficar esperando a presa descer, mesmo porque pessoas não são presas de touro... ele entra em pânico e se atira no abismo, pra acabar logo com aquela situação, aquela angústia, ela resolve pular no abismo. Já que a situação é essa, chegou a esse ponto, então melhor acabar logo com isso.
O que essas pessoas têm em comum? A atração pelo abismo.

13 July 2006

uma outra paixao


Uma outra paixão que tenho é por fotografia. Desde criança, quando fotografia significava ver meu pai abrir aquela máquina em forma de sanfona, um click numa pose ou paisagem e pronto! eternizava o momento, parava o tempo. Depois já adolescente e pós, amigos meus -poucos, que antigamente quase ninguém tinha câmera- tiravam fotos minhas, paisagens, bichos de estimação. E sempre eram fotos preto e branco. Me ensinaram a revelar o filme, que emoção entrar naquele quarto escuro, com somente uma lampadazinha vermelha acesa, ampliador, e misturando aquelas químicas na água, mergulhávamos o papel, e por magia a imagem começava lentamente a aparecer, lentamente a se revelar, mais um pouco, um pouco mais, ficando mais visível, visível, um pouco mais escuro, mais escuro, mais escuro e -epa! vamos tirar rápido que tá no ponto!!! aí mergulhávamos a foto em outra bandeja de água com outras químicas (ainda tenho o cheiro guardado no nariz da memória...) e assim fixávamos a imagem no papel. Que emoção. Eram noites em claro, era muito excitante, as horas passavam e quando víamos, o dia estava amanhecendo.
Hoje fotos em preto e branco são raras, ninguém mais tira, é difícil achar aonde fazer cópias de negativos antigos, eu ainda conhecia um lugar no Centro, o laboratório Wanda, mas até esse já fechou. Tenho muitos negativos que gostaria de fazer em papel antes que esse negócio acabe de vez, conheço mais um ou dois lugares, mas como há muito tempo não tenho ido lá, nem sei se existem mais...
Mas voltando ao início, que é por onde tudo começa, fotografia é uma outra paixão minha. Fico fotografando tudo, e agora com as digitais, benditas digitais, ce tira uma porrada de fotos de uma.... sei lá.... formiga, depois deleta a maioria e fica com duas... eu às vezes fico com todas :) hehehe...
Essa que taí foi tirada nos jardins de Aranjuez (sim, tem tudo a ver com o Concerto de Aranjuez!), a umas horas de Madrid. Era uma tarde estufante e Núria e Walter (ver Ruídos Asociados) me levaram pra conhecer esses tais jardins, e era tudo muito bonito, muito sombreado, de repente um lago de muuuuitos patos de todas as idades, patinhos patões, patonas, patinhas... surgiu à nossa frente. Saí clicando sei lá quantos clicks.... sairam boas, umas maravilhosaas, e essa é uma delas.
Amo essa foto. Ela podia se chamar "Tudo Depente do Ponto de Vista", porque se você olhá-la assim deitada é um pato placidamente nadando lento manso e sereno num lago idem. Mas se virar a foto na vertical, você vê um... touro!!! Os chifres desproporcionalmente grandes e por isso mais ameaçadores ainda, as quatro patas, e até um culhãozinho pode-se notar. Parece que vem vindo na nossa direção, cuidado!!! Toda a serenidade da primeira imagem dá lugar à tensão da segunda.

Não é bonito?

10 July 2006

gatos


Tenho dez gatos. Já tive muito mais. Teve épocas que tive quatro gatas parindo quatro ninhadas de no mínimo, quatro filhotes, de quatro em quatro meses.... e elas mesmas se confundiam, às vezes pulavam pra dentro do caixote da outra, e dava de mamar pra seus sobrinhos.... Nunca abandonei nenhum, conseguia arranjar um lar para todos. Claro que ficava com uns, geralmente os menos bonitos, mas adoráveis do mesmo jeito, sim, porque gatinho pequeno (aliás filhote de qualquer espécie ai ai...) são mortalmente irresistíveis. Aquelas orelhinhas caídas... o rabinho cônico... quando abrem os olhos... quando começam a andar e cair desajeitados... depois começam a brincar de brigar um com o outro, eriçam o pelo e ficam pulando de lado....
Eu poderia criar um blog só sobre gatos, é assunto pra toda vida. Hmmm, boa idéia, quem sabe...
Cada gato tem sua própria personalidade. Nenhum é igual ao outro. Então não dá pra conhecer um e pensar que todos são que nem esse um... São muuuuuito diferentes um do outro, que nem gente.
Também na hora de parir, cada gata pare de um jeito, que nem gente: uma noite saí e deixei meu pai vendo TV. Era um fim de semana em que ele estava aqui em casa. Quando voltei um par de horas depois, ele continuava no mesmo lugar, e me disse: -Diana, a gata trouxe seus filhotes todos aqui pra cima do sofá! Olhei e vi as criaturinhas recém-nascidas. Fumaça tinha parido ali do seu lado, no maior silêncio.
Já a Semínima quando pariu berrava tanto, que não aguentei ficar perto de tanta angústia... parecia gente, e foi um parto normalíssimo, seis filhotes...
Eu era contra operar, a natureza sabe o que faz, deixa a bichinha transar, essas coisas. Mas com o tempo fui aprendendo que não tem nada a ver, tem que operar sim, porque se a gente deixa, vai nascendo e nascendo e nascendo e nascendo... povoando o bairro, a cidade, o estado... sendo maltratados, passando fome, com doenças, sofrendo muito. A SUIPA está superlotada de cães e gatos abandonados, no maior sufoco, tentando dar conta da imensa tarefa de cuidar de um número tão grande de animais, com tão poucos recursos...
Fechamos a fábrica. Na época, eram treze, agora são dez. São lindos, adorados, inteligentíssimos -todos sabem seu nome e vêm quando são chamados!!! Cada um tem uma personalidade, não tem nenhum igual. E eu, com essa experiência toda, virei consultora, mestre, doutora!!! Amigos me ligam pedindo informação, dicas, conselhos... me sinto orgulhosa e feliz de poder ajudar num assunto pela qual sou literalmente APAIXONADA. Sou doida por gatos. E como se não bastasse conviver com eles em casa, sou atraída pelos que vejo na rua, sempre puxo um assunto, faço carinho...
Será que vou ser uma "gateira", uma daquelas velhinhas que vão diariamente alimentar os gatos das praças, dos parques?