31 October 2006

Jamelao


Publicado no jornal Extra, de 31 de outubro de 2006: "Jamelão não vai gravar o samba da Mangueira. Intérprete teve uma isquemia e ficará fora do CD do Grupo Especial, mas escola fará homenagem.

Cantor da Mangueira há mais de 50 anos, Jamelão não vai poder gravar o samba da verde-e-rosa no disco das escolas do Grupo Especial. O intérprete, de 94 anos, sofreu uma isquemia e, pela primeira vez em 20 anos, fica fora do CD oficial. Luizito, que é o segundo puxador da escola, fará a gravação. Segundo o médico Fábio Rossi, que há anos cuida de Jamelão em São Paulo, a isquemia só foi detectada na quarta-feira, após uma tomografia:

— Ele não apresentou problemas motores e anda sem problemas, mas tem dificuldades cognitivas, ou seja, não entende bem as coisas e tem dificuldades de articular as frases.

Jamelão está em casa e deve ficar no Rio até semana que vem, quando volta para São Paulo com seu médico. Ainda não se pode prever como ele estará até o carnaval, já que a recuperação de uma isquemia em idade avançada é lenta e imprevisível. Mas a Mangueira espera que ele esteja bem para o desfile.

— Se Deus quiser ele estará cantando nosso samba na Avenida. Caso não possa cantar, queremos Jamelão no carro de som, que é seu lugar de direito — diz Percival Pires, presidente da Mangueira"

Se Deus quiser, e Ele há de querer!!!! torço pela recuperação dele, senão como será o carnaval da minha querida Mangueira? não consigo imaginar o desfile sem o vozeirão dele a ecoar pela avenida.

Jamelão é o próprio carnaval pra mim. "Mangueira teu cenário é uma beleza, que a natureza criou ô ô" (Exaltação à Mangueira).. essa música foi marcante pra mim, criança de nove anos e que adorava o carnaval. Outra que eu gostava especialmente era "Eu Agora Sou Feliz".

O nome de Jamelão é José Bispo, e ele nasceu em 12 de maio de 1913. Começou tocando tamborim na bateria da Mangueira, depois aprendeu cavaquinho e passou a cantar nas gafieiras. Seu apelido não se sabe bem de onde veio, se de um locutor de um programa de calouros em que ele participava, ou se na gafieira onde ele passou a se apresentar. Foi crooner da Orquestra Tabajara, do Severino Araújo, e chegou a excursionar com a Orquestra pela Europa. Em 1949 passou a ser intérprete da Mangueira, atividade que pratica até hoje. Gravou vários LPs, sendo o maior intérprete dos samba-cancões de "dor-de-cotovelo", cantor romântico. Gravou um disco só de composições de Lupicínio Rodrigues. O gênio dele não é muito fácil, não tem papas na língua, tem fama de ser meio mal humorado, possui várias manias, sendo uma delas a de andar com muitos elásticos enrolados entre os dedos, e quando canta, é aquela confusão- microfone, dedos, elásticos, dedos, elásticos.... Mas Jamelão pode ser o que quiser, falar o que quiser, porque já conquistou o seu lugar na música brasileira com muita dedicação e talento, e hoje é o Presidende de Honra da Mangueira, foi eleito em 1999 o intérprete do século do carnaval carioca por 80 jurados do Rio e de São Paulo, é reconhecido, querido, homenageado, adorado em todo os lugares.

Pois é, ele tem que ficar bom. Senão, como vai ser?????

28 October 2006

Rogerio Duprat


Do site do CliqueMusic e jornal O Globo:

"Morreu na tarde desta quinta-feira (26), Rogério Duprat, maestro que rompeu a barreira do erudito com o popular no movimento musical conhecido como tropicalismo e que reuniu nomes como Caetano Veloso, Gilberto Gil e Tom Zé, no final da década de 60. Duprat foi também responsável pelos arranjos de diversos discos do grupo Mutantes, da Rita Lee.

O músico estava com 74 anos, sofria de mal de Alzheimer e de um câncer na bexiga descoberto recentemente. Duprat estava internado desde o dia 10 de outubro no Premier Residência Hospital (zona sul de São Paulo).

O velório aconteceu no Museu da Imagem e Som (MIS), em São Paulo. O corpo do maestro, que tinha uma esposa e três filhos, deverá ser cremado amanhã no Crematório da Vila Alpina.

Nascido no Rio de Janeiro, começou a estudar violoncelo no começo da década de 1950, período que integrou a Orquestra Sinfônica Estadual. Mas seus primeiros passos na música se deram ainda bem jovem, quando tocava "de ouvido" cavaco, violão e gaita de boca. Mudou-se para a São Paulo em 1955, onde passou a ser um dos destaques da Orquestra Sinfônica Municipal. Foi um dos fundadores e diretores da Orquestra de Câmara de São Paulo e o idealizador do movimento Musica Nova em 1961, junto com Damiano Cozzella, Willy Correia de Oliveira, Gilberto Mendes e Régis Duprat. Viajou para Europa com o maestro Júlio Medaglia, onde teve aulas com o compositor Karlheinz Stockhausen - curiosidade: um de seus colegas de "classe" era Frank Zappa.

Começou a compor trilhas para longa-metragens do diretor Walter Hugo Khouri, como “A Ilha”, “Noite Vazia” e “Corpo Ardente” e a se aproximar dos músicos populares, principalmente dos tropicalistas, liderados por Caetano Veloso e Gilberto Gil. Para Gil, compôs o ousado arranjo para Domingo no Parque, que mais tarde lhe daria o prêmio de melhor arranjador no Festival de Música da TV Record, em 1967. No ano seguinte, ao lado de Caetano, Gil, Tom Zé, Gal Costa, Os Mutantes, Nara Leão, Torquato Neto, gravou o histórico disco “Tropicália”, compondo arranjos para várias canções do álbum, como “Baby”, “Panis Et Circencis” e “Geléia Geral”. Fez arranjos para canções de Chico Buarque (“Construção/Deus Lhe Pague”), Jorge Ben Jor (“Descobri que Sou um Anjo”) e trabalhou em vários discos dos Mutantes, sendo decisivo para a mudança de sonoridade da banda paulistana. Passou a dedicar-se a produção de jingles e aos poucos abandonou o mercado musical por problemas de surdez, causados pelas intermináveis horas de estúdio, e mudou-se para um sítio em Itapecerica da Serra, interior de São Paulo. Só voltou a atividade musical na década de 90, compondo arranjos para os discos de Lulu Santos e Rita Lee.

Duprat foi o grande responsável pelo rompimento da barreira entre erudito e popular, consolidando-se como figura ímpar da música brasileira".

Fiquei triste com a notícia quando li. Não sabia que ele estava doente. Poxa, ele ainda era jovem- 74 é jovem pra morrer hoje em dia- e me lembrei quando o conheci em 69 ou 70 numa reunião em São Paulo quando eu era da Equipe Mercado. Fiquei nervosíssima em ele estar ali diante de mim, como a gente sempre fica diante do ídolo... pois o disco "Tropicália" fazia parte da minha trilha diária, noturna, vesperal, matutina, sonhando dormindo ou acordada, em pé, sentada, aflita ou relaxada, eu sabia de cor, e aqueles arranjos revolucionários, assim como quase tudo do movimento tropicalista já faziam parte da minha pessoa. Bem, foi por causa do Tropicalismo que comecei a cantar. Deu um troço doido em mim, virei pelo avêsso. Parecia que de repente eu estava entendendo tudo na vida. Acendeu-me a luz, senti que aquela era minha turma, e me senti inteiramente identificada com ela: ah.... então é isso... eu sempre soube, mas não tinha consciência...

O disco é genial. A começar pela capa, Rogério ele próprio no canto esquerdo do banco faz de um penico uma xícara de chá. Os Mutantes atrás, ao lado de Tom Zé, com a "mala de couro forrada de pano forte bem cáqui" (No Dia Em Que Vim Me Embora, de Caetano), recém chegado da Bahia. Gil no chão, segurando a foto de Capinam, ausente na foto. Acima, o Caetano faz a mesma coisa com a foto de Nara Leão, também ausente. E do lado direito do banco, Gal e meu saudoso amigo Torquato. Todos, fora o Rogério, parecem ter de 15 a 20 anos de idade. Tem uma moldura verde amarela azul, fundo e chão de verde ardósia, e pronto. Tropicália na vertical de um lado, do outro Ou Panis et Circenses. Todo mundo sério. Predominam as roupas psicodélicas.

Vamos às faixas. A primeira é Miserere Nobis, do Gil e Capinam, canta Gil. Começa com um órgão de igreja, sininho, pra bruscamente interromper pras guitarras em ritmo, flautas, fagotes em contracanto, e final bombástico (me lembra até a Abertura 1812 do Tchaikovski, que tem canhões) de uma trompetada e climas de banda militar. Ora pro nobis. Tomára que um dia sim um dia não na mesa da gente tem banana e feijão.

A segunda, Coração Materno, de Vicente Celestino, canta Caetano. Um cello e tambor, meio bala de canhão e também e principalmente, a bomba de um coração batendo. Clima expressionista. A letra é um dramalhão só: a história de um "campônio" que, pra provar sua paixão à amada, e a pedido desta, arranca o coração de sua "pobre mãezinha ajoelhada a rezar", mas ao voltar, cai, quebra a perna e coração voa longe. De repente ouve-se uma voz: "vem buscar-me filho, aqui estou, vem buscar-me que ainda sou seu"... O arranjo prepara todos esses climas carregando na emoção e Caetano cantando é lindo. Naquela época muita gente não entendeu o porquê desta música (considerada "kitch"- nova paravra para brega, aliás Nelson Gonçalves, Angela Maria, essa turma estava bem por baixo) ter sido uma das escolhidas pro disco, mas Tropicalismo era exatamente isto: não ter preconceito algum, assumir todas as nossas influências culturais, desde o sertanejo, o brega, o rock, a jovem guarda. Isso somos nós.

A terceira, Panis et Circenses, de Gil e Caetano, canta Os Mutantes. Esta é.... esta é.... confesso que fico com lágrimas nos olhos quando a ouço. E a pele arrepia. Esta me é especial. Muito especial. Começa com um lalalalá côro mutante, o órgão fazendo a base numa nota só ininterrupta, guitarra dando uns arpejos. Pára tudo. Respiram e entra a letra, que é uma das mais lindas que já ouvi. Simplérrima, infantil, essa melodia em arpejo ascendente, tônica, terça, quinta e... a inesperada inusitada bendita nona!!! vai-se repetindo e é quase isso só, e é tanto tanto tanto... é tão pra cima, tão forte, é um hino mantriático psicodélico, o arranjo muito louco, uma coisa que parece um pato (sintetizador? guitarra?) tocando no contratempo (isso antes do reggae!!). Quando entra a segunda estrofe (mandei fazer/de pura aço luminoso punhal...) entra uma trompete inteiramente insandecido, tresloucado, fazendo um contracanto pungente e arrebatador. O timbre e a participação especialíssima lembra ao longe Penny Lane, dos Beatles (aliás, diziam que o Duprat era o "George Martin"- arranjador dos Beatles em Seargent Pepper's Lonely Hearts Club Band e muitos outros- tropicalista, e que este disco era o Seargent Pepper brasileiro!!!). E segue o arranjo: no meio da música, há uma "falta de luz" e é como se o disco fosse parando com a agulha encima. Silêncio. Uma nova introduçãozinha com flautas, algo com som de cravo, e... e explode o final, que começa num andamento lento e vai acelerando: "essas pessoas na sala de jantar essas pessoas na sala de jantar", repetindo repetindo obsessivamente, todos cantam, todos tocam, e o tresloucado trompete se contorcendo, se dilacerando, num crescendo apoteótico. De repente pára tudo, e barulho de talheres, gente conversando- me passa a salada aí...o pão por favor... só mais um pedacinho...

Olha, isso JAMAIS tinha sido feito antes. Era que nem ouvir, sei lá, uma música vinda de outro planeta... mas pra mim, era contraditório, pois apesar de ser uma tremenda novidade, me era extremamente familiar, vinha do MEU planeta, e aquela era a MINHA linguagem. Eu vinha de uma formação clássica de piano, tendo ouvido e tocado muuuuita música erudita, que inclui, claro, os contemporâneos, muito doidos, serial, dodecafônico... A música popular até então era extremamente "comportada": previsível, com a métrica certinha, começo meio fim... e os arranjos deste disco eram uma mistura de popular com contemporânea.

E a letra? é linda demais. E era o que eu -nós- meus amigos, minha geração- estávamos vivendo, existencialmente e politicamente: eu quis fazer/minha canção iluminada de sol/.... mandei plantar/folhas de sonho no jardim do solar/.......mas as pessoas na sala de jantar/são ocupadas em nascer e em morrer. A liberdade que queríamos, a mudança no mundo, e aquelas "pessoas na sala de jantar" e no govêrno nos impedindo de realizar. Tudo, claro, nas entrelinhas, por causa da censura.

A quarta faixa é Lindonéia, de Caetano e Gil, canta Nara afinadíssima, com aquele canto perfeito, apolíneo, acompanhada de uma verdadeira orquestra, belíssimamente arranjada, compassos e breques, um bolero de surpresas, um samba-canção latinoamericano.

A quinta é Parque Industrial, de Tom Zé, canta Gil, Caetano, Gal, Os Mutantes e o próprio Tom Zé. Uma crítica inspiradíssima, bem humorada do dito "progresso" ("o avanço industrial vem trazer nossa redenção"som de banda de música, voz de ciranças, bandeirolas, grande festa em toda nação) e ainda dá uma alfinetada na "colonização cultural" vinda dos EUA: "o que é made, made in Brazil". A letra é muito boa, e cada um vai se intercalando ao cantar. O arranjo reproduz uma "grande festa em toda a nação": banda de música com direito a tuba, voz de crianças, naipes de sopros, trompete em wahwah com surdina.

A sexta faixa é.... Geléia Geral, de Gil e Torquato, canta Gil. Esta é outra das minhas preferidas, essa letra é simplesmente ge-ni-al, letra de Torquato, que depois assinou uma coluna no jornal Última Hora com este título. O arranjo começa com a guitarra quente num baião contraponteando com o baixo deslizante. Pela música toda, os sopros são soberanos- imperam marcando tempos fortes meio como um baixo quadrado, fazem rítmo. No meio dessa festa a levada muda e a letra é declamada, aí aparecem "áudios" da letra: bateria escola de samba ("destaques da Portela"), citação da música de Sinatra "All the Way" ("um LP de Sinatra"). Essa música é tão forte, tão poderosa, um verdadeiro terremoto. O "sentimento" tropicalista é exatamente isto que tá letra, a sua mais perfeita tradução. Genial. Um hino.

A sétima é Baby, de Caetano, canta Gal e Caetano. Mmmmm.... acho que também choro com esta, porque era esta que tocava na rádio. Muito. E ouvia-se muito rádio naquela época. E me lembro de estar em casa (ainda morava com os meus pais), de estar na rua, de estar namorando, de estar passeando, de estar estudando, de estar na praia, de estar na cantina na Faculdade de Arquitetura, de estar no carro de algum amigo, de estar levando o Kiko nosso basset pra passear, de estar comendo com a família, enfim.... tudo ao som dessa música que tocava no rádio. Essa, de todo o LP, era o menos "estranho" para quem achava que o Tropicalismo era um bando de hippies sujos cantando letras sem sentido. Meu pai (olha que ele era músico revolucionário na sua época) detestava, não conseguia entender, nem eu explicando. Mas adorava a VOZ da Gal, com toda a razão, aí "aguentava" ouvir até o fim, sem mudar de estação :) A música é uma marcha-rancho em rítmo ternário. O arranjo é delicado, belíssimo, começa com o baixo, depois o violão fazendo a levada, entra a batera, violinos celestes e diabólicos fazendo uma cama deliciosa macia gostosa sensual e quando entra a VOZ da Gal, é êxtase. Caetano no final faz vocal com ela, cantando "oh, please stay by me, Diana", mega sucesso de Paul Anka. Puro tropicalismo. Essa música -Diana- do Anka foi da década de... 50. Eu era menina, tinha o disco 78, e ouvia o dia todo, pensando que poderia ser pra mim. Quando o Caetano saiu cantando o meu nome, tive a certeza:)... detalhe é que ele não me conhecia ainda... e foi assim que gamei.

A oitava é Três Caravelas, que é uma versão "cachonda" de João de Barro -Braguinha- de Las Tres Carabelas (de A.Algueró Jr/G.Moreu). Duprat fez uma salsa quase convencional, e Caetano e Gil cantam misturando a letra em castelhano e em português. Divertidíssimo.

A nona é outra que possivelmente deixa meus parcos cabelinhos em pé. Enquanto Seu Lobo Não Vem. De Caetano, canta Caetano. Extraordinária. Jóia rara. Um hino. Homenagem a nós que participamos das passeatas contra a ditadura. Belíssima. O arranjo é cheeeio de detalhes, primoroso. Começa com um simples agogô. Depois um côco. Violão numa levada andante, constante, forte, denso, ininterrupta. Este violão vai ser a base da música toda, tem apenas dois acordes que se repetem do começo ao fim, obsessivo. Cria tensão, Caetano cantando tranquilo. Percussão leve, dividindo cada tempo em quatro, criando uma espécie de tensão. Flautas, trompetes gorgeando. Ao longe, a voz de Rita, bem ao longe ecoando- "os clarins da banda militar, os clarins da banda militar, os clarins da banda militar..." Entra um bumbo baixinho, (Estação Primeira de Mangueira)... Trompete toca o primeiro verso da "Internacional" ("vamos passear escondidos"). Ouve-se algo como uns tiro, muito misturado, quase imperceptível. Já no final, o bumbo se torna presente até o fim. Conseguiu passar na censura, está totalmente em código. Cê não ficaria com lágrimas nos olhos se fôsse eu???

A décima é outra "bomba" do Caetano e Torquato, canta Gal: Mamãe Coragem. O filho saindo da casa paterna. Eu estava justamente passando por isso na época, e com muito sofrimento, porque NINGUÉM saía assim impunemente da casa dos pais sem ser pra casar. Naquela época. Mulher então, nem se fala. Era deserdada. "E não se pronuncia mais o seu nome nesta casa"...

Começa curto e grosso com uma sirene de polícia (não podia deixar de ter em alguma música, era um ruído aterrador constante no nosso dia-a-dia). Violão marcando um 3-4-1....3-4-1 com baixo.... percussão metálica fazendo chhhhhhhh. Flautas fazendo a melodia com a voz em terças. Um interlúdio com muita flauta interrompe a levada para a letra "ser mãe é desdobrar/fibra por fibra os corações dos filhos/ seja feliz/seja feliz" para que ela esteja em especial evidência. Letra de Torquato, meu ídolo. Um ano depois ficamos amigos.

A penúltima do disco é Bat Macumba, de Gil e Caetano, canta Gil e côro de todos. Uma brincadeira com a letra: enquanto o coro canta a frase (batmacumba iêiê, batmacumba obá), Gil vai brincando com a palavra batmacumba, cada vez tirando uma sílaba (batmacum/batman/bat/batman/batmacum.....). O arranjo é com uma esperta viola caipira de primeiríssima ponteando, tumbadoras, divertidíssimo.

Hino Do Senhor do Bonfim é a última, com a participação de todos. Solenidade apoteótica. Pratos. Trompetes. Côro. E com essa se encerra um dos melhores discos que vivi.

Teria havido o Tropicalismo sem o Rogério Duprat? Teria, pois havia o Caetano e Gil. Mas com certeza, teria sido BEM diferente.

22 October 2006

de pisces


Esse charutão de cobertor que minha mãe está segurando sou eu, saindo do hospital com um dia de nascida. Meu pai do lado. Fazia frio (tenho uma amiga que tem uma tese: se cê nasceu no inverno, cê gosta de frio.... se nasceu no verão, cê gosta de calor....). A foto é pra ilustrar o segundo capítulo da minha eletrizante biografia que sairá no meu site imperdível, e cada dia mais perto do lançamento!!!!!! aguardem aguardem!!!!


DE PISCES
Nasci no dia 10 de março de 1947. Papai já não tocava mais no Bando da Lua, estava agora na Radio NBC, com um programa próprio de música americana de jazz sendo transmitido para o Brasil. E mamãe já não fazia mais teatro (embora nutrisse uma louca paixão por Greta Garbo, a ponto de segui-la pelo parque, a atriz já naquela fase de retiro, tentando passear anonimamente- I want to be alone- oculões escuros, chapéu.... mas mamãe a seguia extasiada), estava agora se ocupando com sua primeira filha, que de tão pequena, cabia num bolso de sobretudo.

E logo minha mãe me levou pra Cambrige, Ohio, na fazenda onde morava sua família. Camponeses russos, mãe e nove irmãos, meu avô não cheguei a conhecer... era violonista e regente de coral da Igreja Ortodoxa. Família muito religiosa. Cantavam muito, e o tempo todo. Por qualquer coisa. Por nada.

Vida no campo em clima temperado é a maior batalha. Quando chega o inverno, vem aquele frio, aquela neve, tudo congela, se não se preparar... Não tinham empregados, eram eles que faziam tudo: desde arar a terra, plantar e colher seus alimentos, tirar o leite, bater a manteiga, fazer queijos e coalhadas, amontoar o feno pro gado, cuidar dos animais- cavalos, vacas, galinhas, cachorros- além de fazer conservas para comer no inverno. horta, pomar, arar, plantar, colher.

E até os meus 3 anos de idade, a gente se dividia entre Nova York (agora morando em Long Island) e a fazenda em Ohio. Meu pai chegava nos fins de semana, depois voltava pra NY. Essa fazenda foi fundamental pro meu entendimento de mundo... Cresci sentindo uma intimidade com a vida no campo, os cheiros, as plantas, a terra, os tatos... acordar com o sol, ir cedinho com a vó recolher os ovos debaixo da galinha no ninho quente... depois da chuva, sair com a tia à cata de cogumelos pra servir no jantar... cachorros, gatos, veados selvagens visitando o meu quintal...

Lembranças musicais as mais remotas: meus pais dançando o charleston, minha mãe recitando Poe e Shakespeare, meu pai me ninando com músicas de seu repertório- Lig-Lig-Lé, Touradas em Madri, Alalaô, N'Aldeia- além de suas próprias, horas e horas no violão, meus tios e avó cantando em russo.

21 October 2006

jaboticabas


Pego uma jaboticaba negra reluzente com o polegar e o indicador. Levo-a à boca. Sem largá-la, mordo delicada mas firmemente sua casca rija lisísssima, ao mesmo tempo expremendo-a com os referidos dedos. Ela explode num suco delicioso que invade meus sentidos e me traz felicidade. Chupo em êxtase. Um suco transparente doce, dulcíssimo. Junto vem suas sementes, podem variar de uma a quatro, do tamanho de grãos de feijão. Elas são revestidas por uma polpa branca (quando são rosas púrpuras não estão boas, azedas já passadas) e dentro, um "gruvo" roxo, mais pro ácido. Às vezes mastigo essas sementes e a casca, mas quase nunca.

Quantas horas passei dentro de uma jaboticabeira... Jaboticaba é muito louca. Ela dá NO TRONCO, e são verdadeiras multidões. E pra colher? ce vai subindo -é uma árvore relativamente fácil de subir- e, por mais que tenha cuidado, muitas vão sendo sacrificadas, pois só de ce colocar a mão, elas desmontam e caem aos montes no chão. Como a casca é grossa, elas não se espatifam, e quem não sobe pode ir colhendo as maiores.

Bolas de boliche de gnomos. Bolhas de pensamento de micos. Balões de festa de bem-te-vis.

Não sei se tem em outros lugares do mundo, se levaram ela daqui e replantaram e vingou. Sei que é 100% brasileira.

Jaboticabas são alegres, simpáticas, divertidas, populares, não gostam de solidão, e desabrocham em tempo frio. Serão afrodisíacas? Ao contrário do que o nome sugere, nada têm a ver etimologicamente com o jabuti, e nem fazem parte de sua dieta, ou fazem? não sei...

O melhor sorvete de jaboticaba da minha vida era na saudosa Sorveteria Moraes, na Visconde de Pirajá. Aaaaai!! só de me lembrar me dá um arrepio na língua!!! Era doce ma non troppo, tinha o acidinho da casca também, e era roxo claro, ou quem sabe, lilás escuro. Eu chegava lá disposta a variar o sabor, eram tantos, mas... não conseguia, pedia sempre o de jaboticaba. Ou então, gulosa do jeito que sou, começava com um tangerina por exemplo, mas o o último era sempre.... de jaboticaba.

Tenho duas maiores e suculentas lembranças: as primeiras em Lagoa das Lontras, onde passei minha infância e adolescência me recheando delas, as jaboticabeiras em cujas copas eu me refugiava; e depois, as melhores de todas, as incrivelmente esplendorosas em Friburgo na casa do Mario Jansen, pianista que tocou comigo por muito tempo, parceiro de várias músicas. Estas tinham o diâmetro de 4 cms!!!! Agora não tenho tido acesso a nenhuma jaboticabeira, e se eu quisesse plantar, dizem que demora 15 anos pra dar fruto. Tudo bem, até plantaria... do jeito que o tempo tá correndo, planto e quando vou ver já to chupando... mas enquanto isso não acontece, vou me satisfazendo com as que vendem em lotes na feira, no camelô das ruas.

A safra esse ano foi boa.

16 October 2006

nota do Big Boy


Big Boy foi um DJ (nos anos 70, DJ era um apresentador de programa musical, e não o que é hoje) que revolucionou a linguagem radiofônica. Tinha um programa Baile da Pesada de rock na Radio Mundial AM e também era repórter no O Globo, e trazia pra gente todas as novidades no panorama roqueiro, garimpando músicas pelo mundo afora. Carismático, corajoso, único, criativo, dinâmico, bem informado, foi uma presença marcante e indispensável numa época que quase nada chegava a nós, não tínhamos acesso aos lançamentos, às vezes saíam notícias no jornal, mas o disco mesmo demorava a chegar aqui, às vezes um, dois e até tres anos... ou seja, quando conseguíamos ouvir, já estava defazado no tempo, a banda já tinha lançado outro... Não havia interesse em rock por parte do mercado, essa máquina que hoje existe por trás (aliás, pela frente e pelos lados tb!!!) e também a censura era severa. Tudo que se produzia e que se escutava tinha que passar pela censura, e o próprio Rock era alvo por ser "um rebelde, selvagem e perigoso grito da juventude contra os bons costumes, contra a tradição, contra a família". Bem, o Big Boy era fã da Equipe Mercado, e colocou essa foto na sua coluna, com a legenda:

A FOTO DO OURIÇO
OS "CARAS" (E A "CARA" TAMBÉM) DA FOTO COMPÕEM A SUPERQUENTE EQUIPE MERCADO, JÁ BALANÇANDO OS CORAÇÕES COM A MELÔ "MARY K NO ESGÔTO DAS MARAVILHAS", UM LANÇAMENTO DA ODEON.

A foto é de Mauro Pamplona, que fazia parte da "equipe": Ricardo, eu, Lemgruber, Stul e atrás, Sagrá (Carlinhos Graça). Foi tirada nos terrenos baldios (agora inexistentes) da Rua Júlio Ottoni, onde morávamos.

14 October 2006

sexta-feira 13


Ontem foi sexta 13. Isto me lembra imediatamente não de gato preto, azar, bruxas, caldeirão, monstros... não. Me lembro de FRIDAY THE 13, de Thelonious Monk. Só ele pra fazer uma melodia dessas numa harmonia dessas. No quinto compasso, a melodia dá uma 3ª Maior- si bequadro (acorde de G), e no tempo seguinte, a harmonia faz Cm7, que tem o si bemol. Aí a melodia faz uma pausa de colcheia, mas na verdade o si bequadro ainda está soando no ouvido, fica muuuuuuuito doido. Eu quando toco gosto de não fazer a pausa, fica essa dissonância tão gritante, é muito bom. E ela se repete, se repete, se repete, é meio obsessiva, meio não, totalmente. Ao mesmo tempo é meio alegre, simples, quase infantil.

Muito difícil achar essa partitura, e mais ainda, de achar a música, não aparece nessas coletâneas. Mas baixando da internet é fácil. Tem uma gravação belíssima dela com o Monk e o Sonny Rollins, demais!

picapau


Por um momento parei. Eram 2:48 da tarde. Parei para escutar. É que estava ouvindo um toc toc toc insistente do lado de fora. Era leve, quase imperceptível, se fosse em algum lugar mais barulhento e movimentado, não daria pra se notar, mas estava um silêncio de algodão. Só pássaros e um gavião fazendo sua ronda. O som vinha do alto de uma árvore. Saí intrigada, imaginando ser uma coisa que depois se confirmou. Um picapau.

Lembro da primeira vez que vi um picapau ao vivo. Estava na Lagoa das Lontras (meu paraíso da infância, adolescência, e um pouco mais) descendo uma trilha, quando de repente, muito perto de mim, aquele bicho ali percutindo no tronco de uma árvore. Virei estátua, imóvel, e ele não se assustou, ficou ali toc toc toc. Tão emocionada fiquei que sempre me lembro deste encontro, mesmo depois de.... mil anos. Picapau pra mim era aquele Woody Woodpecker, dos cartoons de Walter Lantz, um bicho meio mitológico, como um centauro, um dragão... Fiquei até meio taquicardíaca. Depois me disseram que ele faz aquilo para pegar as larvas de insetos que escavam galerias nos troncos pra deixarem ali dentro seus ovos.

Mas como é isto? bate toc toc toc e elas abrem a porta? como é que ele chega nessas galerias? Lendo sobre esse "palpitante" assunto (As Aves, Editora José Olympio), descobri que...

-VOCÊ SABIA?-

para o picapau, perfurar as árvores com o bico é apenas a primeira etapa para chegar às larvas que ali vivem. Depois de perfurá-las, usa a língua (enorme, como um tamanduá) flexível para penetrar profundamente nas galerias. Mas haja língua. Onde guarda ele uma língua tão comprida dentro da pequena cabeça? novamente dou uma lida. Na realidade, a língua dele é curta. Faz parte de um dispositivo de ossos e tecidos elásticos que, passando sob o maxilar, sobe contornando a cabeça e vai prender-se na narina direita, deixando a esquerda livre para a respiraçao. Quando esse dispositivo desliza ao longo da cabeça, a lingua projeta-se à frente.

Trata-se de uma engrenagem muito bem estruturada, muito bem estudada, não é asssim de qualquer jeito... Um projeto de alta complexidade, embutido nesse pequeno pássaro. Quem diria? Bem, a Natureza não é boba, não é simples (e nem é justa...). Tudo é muito complexo. Tem coisa mais sofisticada do que o corpo humano, a noite e o dia, o respirar das plantas, as cores do arco-íris????

O da foto é um carijó (ou verde-barrado). Pode ter sido um destes que parou por aqui...

12 October 2006

Pontos de Cultura


Eu já tinha gostado quando soube desse projeto do Ministério da Cultura- Ministro Gil!- chamado Pontos de Cultura, onde há um intercâmbio, uma troca de conhecimentos entre os artistas das mais variadas regiões do Brasil. Mas vendo o DVD que o Nelson trouxe do Navegar Amazônia (um desses pontos pra onde ele foi junto com Jorge Mautner) fiquei encantada, emocionada. Este projeto é uma verdadeira Revolução!!!!

Conhecemos a cultura de outros países, mas a nossa, muito pouco. Acho que precisamos conhecer mais o Brasil pra saber do que a gente é feito. Conhecendo a nossa cultura, a gente se conhece mais.

O Navegar Amazônia (http://navegaramazonia.org.br) é o seguinte: dentro de uma grande barca, vai navegando pelo Rio Amazonas uma turma de artistas e equipes de direção do projeto com filmadoras, câmeras, instrumentos, computadores. O barco vai parando em vários povoados ribeirinhos, e é intensamente recepcionado pelas habitantes logo ao atracar, com música, cantoria e muita festa. Vão se realizando oficinas em palcos improvisados no chão de barro e com tetos de folha de palmeira; artistas locais se apresentam, os de fora também, tocam uns com os outros, misturando todos os estilos e influências, sempre com a participação intensa da platéia que canta junto, bate palmas, dança. Depois a garotada sobe no barco e vai aprendendo a mexer com o computador, vai navegando pela internet, aprende a fazer filminhos pra depois vê-los na tela. É incrível ver essas pessoas tendo acesso pela primeira vez às ferramentas que fazem parte do dia-a-dia de quem mora na "civilização" das grandes cidades, e ao mesmo tempo, os artistas da "civilização" das grandes cidades ficarem estatelados, de boca aberta, quando descobrem a cultura daqueles lugares distantes, festas danças rituais lendas música, um enorme universo desconhecido, tão perto mas tão longe. E penso comigo mesma- o que será Revolução Cultural, senão isto?

Por coincidência ou não, recebi hoje o email de meu amigo Ricardo Moreno, Mestre de Música Brasileira pela Uni-Rio, que falava justamente destes projetos do Ministério da Cultura. Fala, Ricardo:

Prezados amigos,

No nosso dia a dia temos tantos afazeres que muitas vezes ficamos impossibilitados de tomar conhecimento de coisas importantes que estão acontecendo na nossa sociedade. A essa quantidade de tarefas, soma-se o desinteresse dos meios de comunicação em dar destaque a uma pauta do bem. Cotidianemente esses meios nos brindam (bombardeiam, na verdade) com uma verdadeira "pauta do mal".
O Ministério da Cultura tem desenvolvido um trabalho muito interessante que articula cultura popular e economia solidária. Chama-se "ponto de cultura". Hoje já são em torno de 600 espalhados pelo Brasil. Eles são encontrados tanto nas periferias das grandes cidades, quanto em pequenas cidades. Além de articular cultura e cidadania, está em curso também o reconhecimento do estado brasileiro de que esses fazeres são legítimos do ponto de vista da produção cultural brasileira. Isso quer dizer que tanto a "alta cultura" como a "cultura popular" são reconhecidas e financiadas pelo Estado. Cada ponto de cultura recebe apoio financeiro de até R$ 150.000,00 e um kit de produção multimídia, com computadores, internet banda larga, ilha de edição e estúdio de gravação para registro de seus trabalhos.
A articulação de cultura e cidadania gera importantes ganhos simbólicos e materiais para as comunidades detentoras dos saberes tradicionais. Isso é muito importante e gera inclusão social, pois muitas dessas comunidades estão em situação de risco social.
Para o economista Paul Singer, há muita cultura na economia soildária, e muita economia solidária na cultura. É preciso, no entanto, juntar essas pontas. Para ele, um novo Brasil está surgindo a partir da idealização dos "pontos de cultura".
Penso que só por isso o projeto Lula presidente já mereceria nosso voto. Deixo aqui um link de um artigo publicado na agência Carta Maior, para quem desejar maiores informações sobre os pontos de cultura:
http://agenciacartamaior.uol.com.br/templates/materiaMostrar.cfm?materia_id=10568
Um abraço a todos!
Ricardo Moreno

07 October 2006

por causa de Carmen Miranda


Este é o comêço do texto que escrevi no meu site que brevemente estará no ar:



POR CAUSA DE CARMEN MIRANDA
O mundo visto de um bolso de sobretudo. Frio, mas a neve já tinha derretido, formando aqueles chancões de lama preta. As árvores solenes sagradas esqueléticas sem folhas, o frio no nariz, porque o resto estava muuito bem embalado, e abraçado. Central Park, Nova York no começo da tímida primavera de 47.

Mas por que a minha história começa em Nova York?

Por causa de Carmen Miranda!!! Meu pai Helio Jordão Pereira, filho de uma baiana de Salvador com um advogado neto de portugueses- foi um dos integrantes do BANDO DA LUA, grupo musical carioca que desde 1931 vinha fazendo sucesso nacional e internacional. Quando Carmen Miranda foi contratada pra estrear nos Estados Unidos, ela bateu o pé e fez questão que o Bando também fosse, ela iria precisar de um acompanhamento à altura, e isso não ia encontrar lá fora, por melhor que fossem os músicos... o ritmo, o molho, e o tempero. Já em Nova York, ele conheceu a minha mãe- Elizabeth Tablak Brill- filha de russos, atriz formada pelo Actor's Studio, e modelo exclusivo da Helena Rubinstein. Os dois jovens, lindos, talentosos, famosos... e apaixonados.

O namoro foi ao som das Big Bands, onde iam dançar (eram grandes pés-de-valsa): Benny Goodman, Cab Calloway, Count Basie, Duke Ellington. Shows de jazz, swing, bebop em cada esquina: Thelonious Monk, Charlie Parker, Dizzy Gillespie, Billie Holiday, Ella Fitzgerald. E foi um casamento "de guerra", como diria a minha mãe: sirenes, black-outs, aquela tensão de ser atacado a qualquer momento pelo inimigo. Um pouco mais de 10 anos depois da Grande Depressão. Fazia-se de tudo para tentar ser feliz.

Politicamente foi uma fase importante: detentores da bomba atômica, os EUA saem vitoriosos da guerra, com uma economia fortíssima, tão ricos que participam da recuperação econômica dos países europeus em crise criando o Plano Marshall. Há uma explosão demográfica, e começa os movimentos dos direitos civis e feministas. E Truman lança a sua doutrina contra o comunismo, iniciando assim a Guerra Fria contra a União Soviética, o que vai provocar outra tensão permanente no mundo, de ser atacado a qualquer momento, só que dessa vez não iria sobrar nada, pois entra em campo a bomba atômica.

E foi neste fundo musical que nasci e passei meus tres primeiros anos de vida.

pro Nelson

















FELIZ ANIVERSÁRIO!!!!

01 October 2006

Cana Caiana em Canet


Em 1980 fui me embora pra Europa, e lá fiquei por tres anos. Com mais o Mário Jansen (teclados), Bida Nascimento (baixo), Walter Guimarães (bateria), e posteriormente, Alfredo Lemos (guitarra) e Foguete (percussão), fizemos o Cana Caiana, um grupo de jazz e música brasileira. Fizemos um tremendo sucesso, Espanha, Portugal, França, Inglaterra, Suiça e até Emirados Árabes, onde fizemos um reveillon num hotel da cadeia Hyatt, nunca tinha entrado num lugar tão moderno e sofisticado assim. O último andar era um restaurante giratório de vista de 360º, de onde se via, sabem o que? areia areia areia.

Mas este é um outro capítulo, agora quem está aqui é o cartaz de um show da gente em Canet, uma localidade perto de Barcelona muito hospitaleira, de onde guardo boas lembranças. Muuuito linda, um teatrinho muuuuito maneiro e aconchegante chamado Café Odeon, foi demais.

Em Barcelona e em toda Catalunha fala-se o catalão, uma língua muito musical e bonita, com seus "Ls"(éles) bem pronunciados, aprendi muitas palavras -claro- e falava uma frases- claro, pois morar numa cidade de língua diferente da sua é a melhor maneira de aprender a falar.

Entenderam o cartaz? é meio parecido com latim, italiano. Dissabte- sábado; diumenge- domingo; vuit- oito (lembra huit, frances); dos quarts de dotze- onze e meia.

Mais palavrinhas: si us plau -por favor; deixeu sortir- deixem sair; mulher- dona; la llum de la lluna- a luz da lua; a casa seva o a la meva?- à sua casa ou à minha? E um texto sobre meu signo, Pisces: últim signe del Zodíac, Piscis representa la fi d'un cicle i l'inici d'un altre, ambdós simbolitzats pels dos peixos, un que s'escapa de la roda zodiacal i l'altre que hi retorna. Signe femení, d'aigua, les seves aigües són les de l'oceà, l'infinit. El seu regente, Neptú, és el planeta de la il-luminació, de la visió de l'ideal, de la fusió amb la totalitat. Així, Piscis tant és el signe del misticisme com el dels moviments populars de tendència socialista.

Deu pra entender tudo né? é parecido, mas não tanto quanto o castelhano. Me amarro no catalão, adoro escutar.

E pra fechar, uma boa noite, até amanhã: BONA NIT, FINS DEMÁ!!!!