17 August 2009

um banho, um prato, uma cama


Como preciso de coisas de que não preciso! coisas que colorem, animam, distraem, dando graça aos meus dias. Brincam em volta de mim, e me fazem sorrir. Biscoitos, batons, bolsinhas, almofadas, chapéus, sapatilhas, cumbucas, flores, brincos, molduras, bibelôs, toalhinhas bordadas, móbiles... são pequenos detalhes, tão necessários para a minha saúde mental, indispensáveis para não perder a razão.

Mas numa “situação extrema”, se eu tivesse que escolher tres coisas de primeira necessidade -só tres coisas- escolheria
1. um banho
2.um prato
3. uma cama
Aparentemente, são necessidades físicas, mas ah... como fazem bem ao espírito!!! Aliás, corpo e mente, tudo a mesma coisa.

Ao primeiro ítem. Um banho. Um banho limpa, um banho relaxa, um banho renova, um banho tira o cansaço . De preferência, um banho morno a levemente quente (menos no verãozaço, aí é frio mesmo e vááááários). A pele fica suave, volta a respirar. A gente se sente outro, depois de um bom banho.

Banho é coisa de índio e oriental, os europeus não tinham esta prática, achavam até que fazia mal. Foram aprender com os japoneses e chineses, e depois com os índios da América. Aliás, até hoje não são todos que tomam banho diariamente... na Europa não é raro encontrar quarto sem banho em hotéis pequenos. Como se lavam? água da torneira numa pequena bacia, nela mergulha-se uma toalhinha, às vezes sabonete, dão uma esfregada, axilas, pescoço, uma gotinha de perfume e pronto!!! é o que aqui chamamos de banho de gato, se bem que de gato não tem nada. Gato se “lava” muito mais: se lambe exaustivamente e fica limpinho, cheiroso.

Pois estranhei muito, e, por mais frio que sentisse, fazia questão do meu banho diúrno. E olha que passava frio. Teve um inverno em Paris que não havia calefação no ap em que eu estava, de noite fazia -1ºC no quarto, chegou a gear na Cidade Luz. Pois era um ato heróico tirar a roupa, pra começar. Era melhor ser rápido, e entrar na água correndo. E pra sair daquele morninho e enfrentar aquele ar gelado?

Pior foi em Barcelona. Teve um tempo em fiquei hospedada num lugar em que o chuveiro ficava dentro de um tanque numa varanda envidraçada, o ar gelado entrava pelas frestas, era preciso tirar a roupa, escalar o tanque, e só aí abrir o chuveiro, que quando chegava no meu corpo já estava frio, de tão frio que estava o ar naquela varanda. Foi num inverno em que nevou em Barcelona depois de 20 anos!!!! estavam todos maravilhados. Eu também, mas o meu amor ao banho passou por vários testes ali....

Ao próximo ítem. Um prato de comida.

Até aguentaria ficar horas sem comer, mas não gosto... e pra quê??? Primeiro porque não faz bem mesmo: vai dando aquela dor de fome no estômago, depois passa, esqueço, e quando enfim vou comer, acabo comendo quatro vezes mais. Às vezes dá até taquicardia (leve...). E segundo: não tem coisa melhor do que comer. Poderia escrever um livro sobre este prazer maior, tamanha a minha paixão pela comida. Mas não é qualquer coisa não- pois não como carne há quarenta anos, não gosto de gordura, fritura, açúcar. Em compensação, adoro todo o resto, e QUANTIDADES. Detesto aquela coisa chique daqueles pratos que a comida parece desenhos no prato... racionada, porções microscópicas. Não me convida que vou ficar triste... quero comida farta. Que me sustenta, me faz brilhar, me faz pensar.

E finalmente, uma cama. Não mole. Com lençóis limpos, com cheirinho de sabão. Deitar o corpo, relaxar, sonhar, se renovar.

Dormir é uma bênção. Dormir bem, um sonho!!! Quem consegue não têm direito de sentir depressões. Quem não consegue, que se cuide, porque a loucura tá atrás da porta.

Tenho muitas insônias (aí nem adianta uma cama!), não consigo me entender com meu travesseiro, noites virando de um lado para o outro, às vezes é preocupação mesmo, outras, nada: estou ligada, pronta pra qualquer evento, menos dormir. E como levanto cedo, fico cada vez mais puta de não estar conseguindo, e as horas passam voando: olho, são 2:00, quando vou olhar de novo, 3:45!!! E não é o caso de me levantar, ligar o computador, ou ler um livro, ou ver TV “pro sono chegar”: não! só se eu desistir de dormir mesmo, porque isso tudo vai me ligar mais ainda, e vou virar a noite. Tomar tarja preta, só em último caso, então fico tentando tentando, e finalmente o sono vem, mas aí já são 4:00 ou mais ou bem mais. E se passo várias noites dormindo mal, começo a achar que to pirando, fica uma atmosfera estranha nefasta sinistra rondando a minha cabeça, uma nuvem espessa que me faz ver tudo torto e distorcido. É muito ruim. Agora mesmo to saindo de uma fase destas, e ufa! é uma bad trip, falo como boa entendedora do assunto.

Ah, mas quando consigo dormir bem é como um presente, me sinto tão bem no dia seguinte. Acho que pra mim talvez seja mais importante do que comer (hmmm... será? melhor não comparar he he).

Um banho, um prato, uma cama. Mas como não estou passando por nenhuma “situação extrema” e não to precisando escolher 3 coisas básicas, quero as minhas mil coisas desnecessárias. Preciso delas loucamente. Quero andar pelo SAARA, olhar para aquela porção de coisas balançando na entrada das lojas uma ao lado da outra, as cores, os formatos, escolher umas bobagens. Flores de papel, um brinco de argola, durex prateada, recipientes de plástico, lixa pra unhas, bananadinhas sem açúcar, descascador de legumes, papel de presente, erva-doce, fitas coloridas, cestinhas, tinta pra tecido, espelhinho, incenso, sorvete, envelopes, vasos, boás, chapéus... O que seria de mim sem estas “desnecessidades”?????