23 May 2011

quatro meses


Zero hora do dia 12 de maio. Eu estava perdida, sozinha, no meio dos saguões intermináveis do aeroporto de Miami, dando voltas de lá pra cá, em busca de informações sobre o transporte que iria me levar até um hotel. 

Contando assim parece um pesadelo, mas era bem real. Meu vôo de volta pro Rio havia sido cancelado em cima da hora, e depois de muita confusão e ânimos alterados, me deram uma papeleta com direito a uma noite num hotel, que o meu vôo sairia só na manhã seguinte, às 8:00. Ou seja, não havia tempo a perder. Primeiramente pensei em ficar lá mesmo, nem sair do aeroporto, mas as coisas ali estavam começando a fechar, o cenário não era nada animador, estava ficando meio deserto e esquisito, luzes apagando, ruídos silenciando.

Lá fora estava mais sinistro ainda: deserto, sombra expressionistas em preto e branco, de vez em quando um veículo passava a cento e vinte por hora. Me senti frágil, desamparada e tive medo.  Cadê todos do meu vôo cancelado? não havia ninguém ali. Finalmente consegui contactar o hotel, que me mandou transporte. Só eu na van, mais ninguém.

Uma e meia da manhã. O hotel era muito bom, pena que cheguei tarde demais pro jantar, e a cozinha só me ofereceu melancia, melão e iogurt com sabor, que devorei no quarto. Pedi para me acordarem às cinco, e tentei cochilar, com medo de perder a hora. Nem pude aproveitar a cama gostosa e o conforto em volta de mim. Deitei ligada em me levantar, com a roupa do corpo.

Tudo isto pra dizer que naquele dia completava quatro meses que Mario morreu.

Só eu sei como foi e continua sendo pra mim esta perda, esta ausência, este vazio dele em mim. Só eu sei. Só eu sei. Só eu sei.