22 September 2009

friburgo


Antes que acabe setembro (papagaio!!!!!!), vou rapidinho deixar uma nota.

Não sei onde foi parar este mes, mas me lembro como começou: fiz uma viagem adorável a Friburgo com Verônica, minha super-mestra de aquarela, que estava inaugurando sua belíssima exposição no SESC de lá. Foi ótimo, super-divertido, o tempo estava delicioso -nublado, fresco- e aproveitei pra ficar uns dias depois pra visitar o Mario, meu parceiro de tantos anos, pianista e compositor, que depois de ter vivido por anos na Europa, mora agora nesta cidade serrana.

Fazia tempo que eu não ia a Friburgo... esta cidade tem um passado pra mim -eta!- um passado de muitas lembranças. Pra começar, foi lá onde cantei em público pela primeira vez: no coreto da praça principal (este da foto, continua igualzinho). Foi uma apresentação de tarde para divulgar o show que faríamos no Clube dos 50 (que ainda existe, e no mesmo lugar!) de noite.

Quem "faríamos"? Nós: Stul, Lemgruber, Trajano e eu: o embrião da Equipe Mercado. Lembro do frio que fazia quando, depois do show, lá nas madrugas, ficamos amontoados sentados no meio-fio da rua deserta, esperando a rodoviária abrir e o primeiro ônibus chegar pra nos trazer de volta pro Rio. Nós acampados ali com aparelhagem, instrumentos, mochilas, cheios de fome, mas felizes de termos feito nosso primeira apresentação, sonhando com todo o nosso futuro musical pela frente, e nessas horas se sonha alto e sem pudores!!! Sucesso, Glória, Fama!!!! sim, porque com 22 anos, tudo ainda está por acontecer. Eu era uma criança. O futuro pela frente. Cor-de-rosa bebê.

Friburgo continuou fazendo parte do meu caminho. Conheci o Mario nos anos 70 e passamos a tocar juntos no Diana & Stul. A sua mãe morava lá, volta e meia íamos visitá-la. Que delícia! Nesta época, meu espírito era a de uma adolescente romântica, hormônios explodindo, ardendo em vermelho-paixão, mas começando a conhecer o “heavy metal” da realidade que é a vida, em que o vermelho-sangue se fundia com um cinza-chumbo, reforçado por um verde-oliva dos tempos sombrios. Futuro? que futuro? eu vivia no presente total, como se não houvesse um amanhã!

Depois nos anos 80, quando voltei da Europa, dei aula no Conservatório de Música de Friburgo, e também foi muito bacana. Aí já era uma mulher feita, embora com lampejos daquela outrora adolescente, começando porém a desconfiar que.... o futuro estava chegando ali na esquina, e se eu não começasse logo a realizar os meus sonhos, ia acabar sendo tarde demais. Comecei a entender a fundo o significado da palavra "angústia"... Uma época verde-bandeira bem brasileira, bem verde de esperança enfim.... salve lindo pendão!!!

Sonhos azuis fluindo em amarelos e laranjas... sonhos dando lugar a outros... eu me transformando em outras à medida que o tempo nadava num mar ora sereno, ora revolto... azul-cobalto, azul-cerúlio, azul da prússia, turqueza, indigo blue...

Friburgo mudou, mas eu mudei mais ainda, muito muito mais. Tantos personagens, tantas criaturas. Me reconheço em todas, mas estão tão distantes desta que hoje chamo de eu, que às vezes parecem outras pessoas. Mas não! elas sou eu, e se eu for bem procurar, posso até reencontrar em mim cada uma delas, num olho nos olhos que me dou no espelho, ou num breve segundo atravessando a rua, ou fazendo carinho no gato numa tarde chuvosa, ou passando por uma inesperada seta onde leio a palavra Galdinópolis, numa singela estrada de barro, ou tirando uma foto ou cantando uma canção... Vai ver que é isto que chamam maturidade. Envelhecer. E fico só imaginando as outras que estão por vir. De todas as cores. Ai! mal posso esperar pra conhecê-las!!!