12 January 2012

one year

Hoje, dia 12 de janeiro, faz um ano que Mario se foi. Um ano, mas a dor é de hoje. Eis uma faixa do nosso CD, gravado um mes antes da tragédia. Uma homenagem de muito amor e saudade a este meu amigo, irmão, parceiro, companheiro de 42 anos de convívio. Com vocês, Mario Jansen, seu piano e seus vocais.




um ano


Hoje faz um ano que Mario se foi, mas não parece, ainda mais se assistir às notícias das recentes enchentes na TV, e ver os deslizamentos, mortes... parece que foi hoje.  Águas de janeiro. Aquele horror me vem todo.

Mas parece que deu uma trégua: um tímido sol quer aparecer, a temperatura é aquela coisa gostosa, amena, ou seja, está um dia esplendoroso. Na minha caminhada, quando entrei na floresta do Silvestre, veio um cheiro forte de mata com cores bem molhadas, fortes, nítidas. Quantos tons de verde (a cor preferida do Mario), uns mais amarelados, outros bem escuros quase pretos ou marrons ou sepias, outros ocre, outros mais pro azul... uma infinidade...  deu uma alegria danada. Fiquei pensando em quantas vezes ele olhou pra fora da janela de sua casa e sentiu exatamente esta mesma alegria, este deslumbramento, ao reparar este mesmo espetáculo diante de si.

Sempre que chego nesta parte da caminhada, lhe cumprimento: bom dia, Mario! É como se estivesse entrando em sua casa. Porque árvores são seres,  entre outros, que me lembram dele direto. Um bando delas, mais ainda. Fisicamente, ele até lembrava uma árvore!!!! Pois foi no meio de uma floresta que ele escolheu viver e construir a sua moradia. Replantou no morro mais de 800 mudas, que conhecia mais que a palma da mão. Foi este morro que o soterrou, encharcado, pesado, toneladas de água e barro e árvore e folha e pedra. Se os morros fossem gente, diria que este foi capaz da mais cruel traição... não mereceu ter sido replantado e tão bem cuidado... não mereceu o seu amor, o seu cuidado... não mereceu a sua confiança. Mas como morro é morro, chuva é chuva, folha é folha e gente é gente, as coisas são assim.

Mas voltando à caminhada: assim que o cumprimentei na entrada da floresta, uma folha veio caindo caindo direto na minha mão, mais direto mesmo, e senti que foi ele que me deu, ou quis que fosse dele, ou decidi que era dele. Acabei de falar -Mario- e lá veio ela. Acaso? sei lá... cada vez sei menos, cada vez entendo nada... Mas caminhei com a folha na mão ida e volta, e agora está aqui na minha mesa, onde vai ficar “para sempre”. 

Um ano. Mario, neste momento a única coisa que eu queria era te abraçar.