06 July 2009

heavenwalk


Foto de Anne Leibovitz, 1989, capa da revista Época, 29 junho 09: Michael Jackson em equilíbro máximo, asas abertas, prestes a levantar vôo.

Tentei escrever durante a semana passada, mas escrevia e deletava, deletava e escrevia e deletava de novo, ficava uma frase, duas, mais umas palavras, deletava tudo... não sabia como começar, não sabia como escrever, não sabia não sabia como iria dizer... estava estupefata... perplexa, besta, boquiaberta num estarrecimento ensurdecedor imóvel e mudo. Michael Jackson. Não conseguia acreditar. Morreu. Assim. Com ele, um pedaço de mim. Um dos meus melhores pedaços. Um dos meus pedaços mais felizes. Fiquei despedaçada, destroçada, apatetada.

Michael é o exemplo de que a perfeição existe. Sim, existe sim a perfeição. Ele. Rei do pop? coisa boba, coisa pequena. Que ralo este título... não faz jus ao seu talento. Michael foi muito mais do que isto. Ele foi um deus. Apolo e Dionísio num mesmo ser. Gênio. Único. Jamais haverá igual. Não tem pra ninguém. Diz então quem!??? Ótimos dançarinos, cantores existem, mas Michael era isso tudo vezes mil. Exageradamente perfeito. Desafiava a lei da gravidade e os limites da criatividade, genialidade, precisão e perfeccionismo. Intenso intensíssimo, muuuito muito forte muito vibrante, tudo muito. Em sua vida profissional- de 45 anos- ele conseguiu fazer o que normalmente se faz em 100, e na maioria das vezes, nem isso! Cantor, compositor, dançarino, coreógrafo, produtor, mega-talento. Desde cedo um verdadeiro fenômeno, desde criança carregando a semente de um gênio- basta ouvir It’s Your Thing, Get It Together, Dancing Machine, Give Me One More Chance por exemplo, e o blues Who’s Loving You (todas com o Jackson 5) - UÁU!!!!- pra comprovar que sua interpretação de criança em nada ficava devendo aos grandes intérpretes adultos que faziam sucesso na época. Como é que uma criança pode passar tanto sentimento cantando sobre temas que só um adulto conhece? e cantando melhor!!!

Dedicação total à sua carreira, buscando alcançar a perfeição. Sofreu acidentes durante ensaios extenuantes (nariz quebrado, couro cabeludo queimado), que o deixaram com sequelas graves como dores e operações nasais, e que contribuiram para o seu fim trágico. Homem belo e sensual, ente mutante metamorfósico inesperado inusitado estranho raro, rosto transfigurado que no fim sorria e se contorcia numa máscara kabuki de atos contraditórios e polêmicos, como a suposta pedofilia (jamais provada) e seu embranquecimento. Quanto mistério nesta pessoa que ninguém conseguiu entender (a compreensão é tão limitada), quantos pontos de interrogação sem resposta. Coisa que nunca teve relevância pra mim: nunca me liguei na sua vida pessoal, porque o que me interessava realmente era a sua arte, sua luz que me iluminava, e isto era tudo. O resto, tanto fazia... E no final, é a sua divina arte que vai ficar daqui a 50, 100 ou 500 anos...

Billie Jean, Thriller, Beat It, Dirty Diana, Black and White, Don’t Stop ‘Till You Get Enough, Rock With You e tantas... Adoro cada uma de suas músicas, mas HUMAN NATURE tem um sentido especial pra mim, e na época que estourou... me lembra de uma fase maravilhosa na minha vida, de fatos, cheiros e mega-sentimentos, das festas no escurinho do sótão da Oriente, dançando iluminada pelo cialume brilhante, pista cheia, todos vivendo momentos prazeres inesquecíveis inenarráveis indescritíveis e únicos... mordendo a maçã. Meus amigos, como fomos felizes em viver Michael Jackson!!! será que existe uma voz mais sensual que esta, esses sussurros dentro do ouvido dagente???? Não foi atoa que o Miles Davis gamou também, e gravou este tema...

Todos os cantores que estão aí beberam de sua fonte. Toda a geração 80, 90 e 2000 e daqui pra frente. Música e imagem (videoclip) antes dele (AMJ) era uma, depois (DMJ) outra.

Doou grande parte de sua fortuna para causas beneficentes, e criou o movimento que resultou na gravação de We Are The World, onde um supergrupo de 45 cantores se juntaram para ajudar a Africa Central (Etiópia, Chad, Mali, Sudão e Niger), que sofria uma seca severa (84-85). A música foi composta por Michael e Lionel Richie, e produzido, arranjado e regido por Quincy Jones, músico-maestro-fera de quem Michael soube muito sabiamente se cercar, e que foi o responsável pela produção de Thriller (o disco mais vendido da história, com 100 milhões de cópias), Bad e Off The Wall.

Como teriam sido estes shows que ele não fez? será que ele iria nos surpreender e cantar igual, dançar igual ao que sempre foi? ou ficaria ofegante, falhando a voz? inventaria um novo passo? e suas roupas, como seriam? o repertório? teria umas composições novas e fantásticas? ele estaria feliz? ou pressionado pela responsabilidade de encarar um palco depois de tempos sem se apresentar, e estando com a saúde debilitada??? Bem, podemos ter uma “palinha” de como teria sido, assistindo uns minutos de um de seus ensaios, realizado dois dias antes de sua morte (youtube). O que vemos aí é o seguinte: nas vésperas de sua morte, ele estava ÓTIMO!!! feliz por retomar a sua a carreira, feliz por fazer um show que seus filhos, pela primeira vez, iriam assistir, feliz pelos ingressos esgotados, feliz pelos milhões de fãs loucos para vê-lo outra vez no palco, dançando e cantando com garra e precisão em cada passo e em cada nota. Na minha opinião, os shows iam ser extraordinários.

Como teriam sido, jamais vamos saber. Cada um de nós vai ter que imaginar. E vou ficando por aqui, deixando minhas palavras de louvor a este artista que me deu tanta alegria. Enquanto que ele, feito anjo, dança e canta no céu, agora livre do corpo, solto no ar. E eis que, lá em cima, acabou de inventar um novo passo. O Heavenwalk.