30 August 2006

respondendo ao Lucas


Lucas, estou curiosíssima em saber como cê tomou conhecimento da Equipe Mercado. Você com 22 anos!!! Aquilo foi há 37 anos atrás, cê ainda estava loooonge de nascer... Como foi???? E mais curiosa ainda: a entrevista que o Nelio fez na Senhor F!!!! Olha, até músicos antenados com o presente e passado não conhecem, e quando lhes mostro as gravações e conto detalhes, se amarram!!!

Um reconhecimento assim que nem o seu deixa a gente muuuuuito feliz... Mais ainda: sabe uma gota que cai num lago e faz um ondular que vai crescendo, crescendo até percorrer toda a sua superfície? pois é, é assim que me sinto quando acontece isso: a gente teve uma vida curta, de 69 a 71, não tivemos quase registro nenhum, não temos um clipezinho, nenhum minuto filmado de show, mas foi tudo muito forte, a época era muito especial politicamente, culturalmente, filosoficamente, esteticamente. Mas voltando pra gota que cai no lago: foi como uma gota, mas provocou um marulhar.... um marulhar que continua vibrando na superfície do Planeta Música até hoje, a Equipe Mercado e tudo que ela representa continua viva, com reconhecimentos como o seu!!! sentimos que não foi em vão, algo restou daquilo tudo!!!

Várias perguntas suas foram respondidas no post "respondendo": sobre as gravações e fotos da EM, a gravação do Cérebro Eletrônico que não houve porque ninguém gravava ao vivo, não havia nem walkman... e sobre o desinteresse das gravadoras em trabalhar com música não-comercial e sobre não haver gravadoras alternativas na época, e nem computador, programas de gravação caseira. Agora tá uma beleza, mas na época tudo era difícil, tudo era experiência, mas delicioso porque a criatividade rolava solta (queríamos fazer uma coisa, mas como??? então inventávamos..) em tudo que fazíamos, na música, na comida, nas roupas, na decoração caseira, nas relações afetivas, nos costumes, enfim... queríamos mudar o mundo, né?

Ainda respondi à sua pergunta sobre as gravações do Bando da Lua no próprio post. Não houve propriamente uma data que o grupo acabou, foi acontecendo aos poucos, primeiro Ivo Astolfi saiu e foi substituído pelo genial Garoto (1940), depois nos Estados Unidos o Bando passou a ser mais acompanhante da Carmen do que continuar seguindo com seu trabalho original e próprio e meu pai (Helio) resolveu cair fora em 42-43, junto com o Vadeco, e foi assim. O Ruy Castro conta esses detalhes e milhares de outros no seu excelente livro Carmen, lançado recentemente. É uma leitura obrigatória pra quem se interessa em saber sobre o Bando, a Carmen e sobre toda essa Época de Ouro da nossa música. Imperdível.

Mande-me seu email se quiser receber mais detalhes sobre esses assuntos, gravações, fotos...

Ah, e obrigada pela dica dos vídeos do Monk. Eu tenho uns maravilhosos: Straight no Chaser e um da coleção da Masters of American Music, fora outras tomadas que gravei da TV.

29 August 2006

katrina


Esta foto apareceu ontem no O Globo online, ilustrando uma reportagem sobre a passagem do Katrina por Nova Orleans há um ano atrás. Que imagem impactante!! O mar azul lá no fundo dando a impressão de uma serenidade eterna, uma placidez tamanha... uma árvore solitária pequena mas bem enraizada, firme, forte, sólida, que soube vencer o furacão.... o resto é devastação total, escombros, ruínas, e no meio disso tudo, um piano de cauda sem tampo mas inteirão ali plantado, com todas suas teclas, suas cordas aparentes ali no meio de tudo, indefeso, exposto ao sol, ao vento, à chuva, indefeso mas enorme, maçico, potente, inteirão, um verdadeiro monolito, uma rocha inabalável, indestrutível, imperecível, indefectável, imortal.

De quem foi esse piano? Por que ninguém veio resgatá-lo após a tragédia? Seu dono morreu? Ninguém quis se apropriar dele? Quantas alegrias deve ter dado a quem o possuiu... quantas festas, quantos momentos inesquecíveis, quantos saraus, quantas mãos o tocaram, quantos blues, quantos jazz....

Um piano desses é um instrumento e tanto. Quem me dera ter um. É um sonho...É uma preciosidade...

Mais preciosas ainda foram as vidas que se foram... da população negra mais pobre, a mais atingida. E quem sobreviveu, como foi reconstruir suas vidas, seus lares, suas famílias, seus pianos? Houve negligência por parte das autoridades... poderiam ter tomado providências urgentes, evacuado a população...

Mas nada foi feito, só as lástimas do após. Fica esse piano como registro, agora tocado pelo vento. Um piano eólio. Suas cordas quentes pelo sol, refrescadas pela chuva, borboletas nas teclas, ninhos de pássaros na sua caixa, trepadeiras subindo por seus pedais, até um dia se transformar em ruína também....

26 August 2006

arquiteta


Tem certas coisas que a gente faz crente que aquilo é aquilo mesmo, depois vê que "aquilo" só serviu de pretexto pra "isto" acontecer, e nada mais.

Quando fiz 21 anos, encasquetei que tinha que ter um diploma de curso superior. Quem era mais inclinado às Artes só tinha uma opção na época: fazer Arquitetura. Eu era pianista clássica, desenhava, tinha feito teatro... definitivamente, não poderia ser considerada uma "cientista". Encarei o vestibular e entrei pra FAU (Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da UFRJ) em 1968. Que peso tem esse ano! AI-5. As passeatas. Aquele peso pesado que marcou o chão e o ar, a noite e o dia. E eu, recém-ingressa na faculdade, calourinha, sem maiores envolvimentos políticos, rapidamente aprendi a repensar o mundo, assistindo as assembléias no diretório, indo a reuniões estudantis, empunhando um color-jet (era assim que a gente chamava o spray) na mão pixando ônibus, e fugindo com a massa da polícia e os cavalos.

A Universidade foi marcante. Tive a certeza que era isto que queria, ser arquiteta. Idéias na cabeça, mão firme, prancheta, regua-T, estojo de canetas oxford, maquetes, papel manteiga e vegetal.

Mas agora vem aquela coisa que no começo comentei, e que não dá pra prever nem controlar. Não é que justamente ali um pessoal, me ouvindo cantarolar nos extensos corredores da FAU, gostou da minha voz e me chamou pra fazer parte do grupo de rock deles, o Cesar, Marcus et Trajanus (Antonio Cesar Lemgruber, Marcos Stul, Trajano Lemos)???? Bom, pelo menos no nome do grupo meu nome encaixava... et Diana!!! E com esse convite, fui aos poucos dando adeus à carreira de arquiteta (sem perceber, quando vi já tinha abandonado, nem tranquei matrícula).

A seriedade com que me preparei pro vestibular, o horário integral do primeiro ano de faculdade (o dia todo), as provas, as noites viradas estudando, tudo isso foi interrompido, diria até que desprezado, pra dar lugar à música. E o que começou sem a menor pretensão, sem eu ter nunca sonhado em fazer, que parecia quase uma brincadeira, acabou sendo a razão do meu viver ai ai...

Pra ilustrar, uma foto da FAU daquela época. Este é o lado dos "ateliês", que eram as salas onde desenhávamos os projetos. Você escolhia um (com mais uns dez colegas), e este seria o seu até o final do ano letivo. Guardo esta foto junto com as grandes amizades que ali conheci e que duram até hoje. Valeu!!!!

24 August 2006

tangerinas


Tangerinas. Que perfeição da natureza. Que cor. Que gosto. E tão amigáveis... com apenas uma leve pressão a casca sai quase que inteirinha... Tão tenra, tão macia, tão suculenta, tão sensual... é só olhar pra essa foto!

Não dá pra comer só uma. No mínimo duas. No outro dia comi cinco de uma vez.

Não dá pra comer escondido, o cheiro dela se espalha no ar, e a casa inteira fica perfumada.

Tangerina é pra se comer a qualquer hora, em qualquer lugar. Até no meio da rua... a casca dela serve de pratinho, enquanto ce vai atacando os gomos.

Tangerinas têm vários codinomes, dependendo do lugar onde se for comer: mexerica, mandarina, laranja-cravo... e são várias as espécies, desde a ponkan -que derrete-se na nossa mão ao menor contato- até a "tanja-bode", dificílima de descascar.

Mas ela tem a sua estação, e o momento é agora. Aliás, é melhor andar rápido e aproveitar, porque a estação de tangerinas está acabando.

No outro dia, fiz uma geléia de tangerina com frutose, que na verdade ficou mais parecido visualmente com doce do que com geléia, que é mais translúcida. Mas modéstia à parte, ficou demais. To pensando até em, quem sabe, levar isso à sério. A grande dúvida é -como conservar? pra fazer um estoque de meses?

frio e chuva


Como o frio é bom. Como a chuva é linda. Como eu gosto das duas, separadas ou juntas. Depois de um verão -ops! verão não, um inverno de 35º- de repente vem uma pequena frente fria pequenina de presente pra mim, e fico tão feliz, tão grata, tão inspirada, tão talentosa!!!!

Mas não posso sair falando isso pra qualquer um, em qualquer lugar, a qualquer hora, porque gostar de frio e chuva aqui no Rio é inconfessável. Não se pode falar isso impunemente. As pessoas olham como se você fosse um ET, e é assim que me sinto mesmo: gosto de coisas que ninguém gosta. Bem, ninguém não, mas... a grande maioria carioca.

Gosto de pôr casaco. Gosto de ficar embaixo das cobertas. Gosto de andar sem pingar, sentar sem estar com costas e coxas grudentas mesmo na imobilidade total, encontrar as pessoas, beijar e abraçar sem estar inteiramente empapada de suor, escorregando pelas faces, mãos, testa, pescoço, membros. Gosto de pôr botas. Gosto de fazer um bolo e chamar os amigos pra tomar chá. Gosto de comer muito. Gosto da penumbra e o mistério que a chuva traz, nuvens no céu, tempo de pensar, introverter. Mas isso é tão raro, são dias no ano que tenho que aproveitar e agradecer.

Gosto de olhar a chuva cair desde o horizonte, nas casas mais perto, no beiral do meu telhado formando uma cortina de cristais líquidos. As poças saltitantes na calçada, os veios de rios correndo pras sarjetas, as plantas e os troncos das árvores escuras, brilhantes, de cores vivas e berrantes. Vivo, tudo vivo. Parece que fico mais perto de mim. O som de chuva é música, volta e meia gravo o som da chuva e escrevo no K7- acontecimento fenomenal. E seu cheiro? esvazio meus pulmões e, numa única aspiração profunda e demorada, encho eles de novo sentindo esse cheiro tão forte de terra molhada, e que me arrepia o pelo de tão inebriante.

Chuva sem frio também é bom, que sempre refresca um pouco o bafo veranosufocante.

Frio sem chuva também é bom, com aquele sol gostoso no céu azul que aquece mas não derrete, deformando nossa cara e criando miragens desérticas no asfalto mole. Não. O sol de inverno é indispensável, corremos pra ele pra sentir como é bom estar vivo. E como é bom estar vivo!!!! é tão rápido, num instante passa, tanta coisa pra fazer, tanta coisa pra ser, tanta coisa pra ver... e tão pouco tempo para estar, só estar, nada mais que estar.

16 August 2006

O Bando da Lua


O BANDO DA LUA é conhecido por ter acompanhado Carmem Miranda, mas poucos sabem que antes de trabalhar com ela, o grupo já fazia muito sucesso. Aliás, foi por isso que Carmen insistiu em levá-lo junto para acompanhá-la em sua carreira internacional.

O Bando da Lua foi o primeiro conjunto vocal brasileiro . A sua primeira formação foi de um grupo grande de mais ou menos 17 rapazes que se reuniam na Villa do Mota no Catete (1931), onde ali tocavam e ensaiavam para os bailes de carnaval de rua, com o nome de Bloco do Bimbo. Aos poucos começaram a fazer sucesso e tiveram que “enxugar”: de 17 passaram a ser sete e finalmente, seis: Aloysio de Oliveira (voz solo e violão), meu pai Helio Jordão Pereira (violão e vocal), Osvaldo Éboli, o Vadeco (pandeiro), Ivo Astolfi (violão tenor/vocal) e os irmãos Stênio e Afonso Osório (Stênio, cavaquinho e vocal e Afonso, percussão, flautim e os inspiradíssimos efeitos especiais).

Esta foi a sua formação original, e foi com essa formação que os rapazes alcançaram a fama com seus arranjos vocais e instrumentais originais e altamente criativos, modernos (até hoje!), vindo a fazer muito sucesso nas rádios, nos cassinos, nos teatros de revista. Foram amigos de gente como Assis Valente, Custódio Mesquita, Silvio Caldas, Ari Barroso, Nássara, participaram de vários filmes (“Alô Alô Carnaval”, "Estudantes") e o seu sucesso passou a fronteira, indo tocar na Argentina, no Chile e no Uruguai.

Em 1939 Carmem Miranda foi contratada para cantar nos Estados Unidos e chamou o Bando para acompanhá-la, contrariando o empresário Lee Shubert, que, além de não querer complicações com o Sindicato dos Músicos de lá, não via a menor razão em levar seis músicos brasileiros, quando conhecia excelentes músicos americanos que poderiam tocar perfeitamente com ela. Mas a Carmen era esperta e sabia que nenhum músico americano, por melhor que fosse, poderia dar conta do recado, e em meio a várias manobras, finalmente conseguiram o contrato.

Ela estava certa. Foi um arraso. Bastou uma só apresentação de minutos para conquistarem a Broadway. Foram os primeiros divulgadores da nossa música nos EUA. Os pioneiros.

Pois é, meu pai Helio viveu essa experiência, e sou herdeira de sua história. O seu violão e a sua voz, junto com a música do Bando, foram a minha primeira influência musical. Marcaram-me profundamente. E sobre isso, tenho muuuuito que contar!!!!

Gravações do Bando da Lua não são fáceis de encontrar. Existem dois vinis: um, de músicas gravadas no Brasil pelo Bando, que tem também músicas do Trio TBT e do Conjunto Tupi. O outro são gravações americanas do Bando da Lua original e também do outro grupo que Aloysio formou depois nos EUA com o mesmo nome. Há um CD do selo Revivendo, com músicas do Bando da Lua original, Anjos do Inferno, Grupo "X" e 4 Ases e 1 Coringa. E também quatro fitas K7 com a obra completa do Bando (88 músicas) da Collector's Editora Ltda (Rua Visconde de Pirajá 550, sala 110, Ipanema, CEP 22416-900).

Na foto, de baixo pra cima: Vadeco, Aloysio, Ivo, Stênio, papai e Afonso. Boa Viagem e Boa Sorte!!!!

12 August 2006

pensamentos cosmicos



Dizem que Marte vai poder ser visto de muito perto neste mes de agosto. Diz o texto que "a Terra ficará alinhada à Marte, proporcionando um encontro que culminará na maior proximidade entre os dois planetas jamais registrada. Devido ao modo como a gravidade de Júpiter atua sobre Marte e interfere na sua órbita, os astrônomos podem apenas assegurar que Marte nunca esteve tão próximo da Terra nos últimos 5.000 anos. Será (depois da Lua) o objeto mais brilhante no céu noturno. Marte parecerá tão grande quanto à Lua cheia". Dia 27 será o auge.

Já imaginou? uma imensa bola vermelha à meia-noite boiando no céu?

E só em 2287 é que poderemos ver isso de novo... hmmmm... não sei sei ainda estarei por aqui... por isso é melhor aproveitar agora:)

Sou fascinada por Astronomia, só não segui a profissão porque essa vida é muito curta, e não dá pra fazer tudo que a gente gosta... e também porque... hehehe... não tenho muito jeito pra matemática. Me contento então em deitar numa grama gostosa, numa noite estrelada sem a mínima lua e olhar o céu... em algum canto fora da cidade.

Não conheço lugar melhor que a Lagoa das Lontras. Longe de tudo, perto de nada. Muito alto, encostada no céu. Minha impressão era de que tinha tanta estrela, mas tanta estrela, que se entrasse mais uma o céu iria explodir, não cabia mais. Estrelas cadentes aos montes, nem tinha graça fazer mais pedidos. Foi lá que aprendi que aquelas estrelas vermelhas que eu estava vendo ali não existiam mais. Que mistério. Que encanto. A primeira vez que vi um satélite artificial cobrindo a sua rota, meu coração disparou... pensei em se tratar de um disco voador... como desejava ver um disco voador, um ovni, algo que me provasse existir vida em outros planetas... porque o universo e eu ali naquela intimidade toda me fazia pensar nessas coisas, o que é a Terra, o que nos liga aos outros astros, tudo se mexendo, se movimentando em translações e rotações, funcionando direitinho noite após noite numa engrenagem espetacular, tudo parece igual mas tá tudo diferente a cada minuto que passa... como seria lá no alto, o que tem ali... e os buracos negros... e o sentido de tempo no espaço... a relatividade... o macro e o micro... meteoros... cometas... anéis de Saturno...

E pra ilustrar, uma foto que achei na internet, tirada em Connecticut, no final dos anos 80. Mostra as galáxias de Andrômeda e de Triangulum, as maiores e as mais perto da nossa Via Lactea. A de Andrômeda (o pontinho felpudo encima no centro) foi descoberta em 953 AC por Al-Sufi, um astronomo persa, que chamou-a de "pequena nuvem". Hoje sabemos que ela é maior que a nossa própria galáxia, e pode ser vista a olho nu em lugares distantes das grandes cidades. A galáxia Triangulum está no centro inferior (duas estrelonas encima e tres fazendo um "sorriso"). A brilhante estrela encima à direita é Alpheratz, ou Alpha Andromedae. Trançando uma diagonal a partir dela, estão Mirach (Beta Andromedae) e Almaak (Gamma Andromedae). Estrelas numa constelação são nomeadas por uma letra grega em de acordo com o seu brilho. Alpha é a mais brilhante.

Não é arrebatador uma visão dessas?

Muito bom ter pensamentos cósmicos. Noturnos. Dá a sensação de que faço parte de um todo, coisa que no corre-corre do dia-a-dia, ao contrário, esqueço de sentir...

09 August 2006

respondendo


E agora, respondendo sobre a Equipe Mercado: gravamos dois compactos simples e uma faixa no LP Posições, em que também participavam o Módulo Mil, o Som Imaginário e A Tribo. Apesar de termos tido mais material, as gravadoras não se interessaram em gravar mais, não era um som comercial. Isso foi há 36 anos!!! mas parece agora, né?

Um detalhe importante: não havia gravadora alternativa, independente como tem hoje. Não havia o programa Pró-Tools, com o qual a gente grava em casa mesmo. Não havia computador!!!!! Dependíamos inteiramente de uma Odeon, uma CBS, uma RCA...

Sobre fotos da época (não confundir com "de época":). Bem, nessa época, pouquíssima gente tinha máquina fotográfica. As fotos eram tiradas por amigos fotógrafos iniciantes que tinham laboratório em casa, revelavam e copiavam o filme em preto e branco (isso já não parece NADA com agora, né?) Fui aprendiz desse ofício e vivi horas e horas noturnas experimentando técnicas, vendo diante dos meus olhos a imagem se formar dentro daquela água reveladora. Magia pura. Tudo preto e branco. Foto colorida era caríssimo, só em lojas especializadas, nem me lembro direito de ter em mãos alguma. Filmadora então, nem pensar... portanto não tenho registros de audio ou vídeo dos shows da Equipe Mercado (1969-71). É bem possível que alguma TV tenha guardado algo nos seus arquivos, se é que guardam, não sei... Lembro-me de profissionais filmando em certos shows, e com certeza nos Festivais Universitários que eram transmitidos na TV e assistidos por uma multidão (tinham tanto IBOPE quanto as novelas de hoje, todos comentavam e torciam por sua música favorita). O que tenho são fotos de divulgação, e muuuuita coisa de jornal, cartazes etc.

Aguardem, meu site está sendo feito, aí vou mostrar tudo!!!! ou quase...

Como, em tão pouco tempo, os recursos de áudio e vídeo evoluiram de tal maneira que 30 anos atrás parecem 100. Agora tem mp3 num apetrecho do tamanho de um isqueirinho, tem celular, e celular tira foto, cameras das mais simples fazem filminhos, joga-se no computador, tira-se cópia pra divulgação, grava-se em casa, enfim... é um outro mundo, um outro planeta. Sou apaixonada por essa era digital, vou correndo esbaforida atrás tentando acompanhar as novidades, e claro, sempre me passam pra trás. Não faz mal, me divirto assim mesmo!!!

Pra ilustrar, uma foto da Equipe Mercado na entrada da Boite Sucata, janeiro de 1970, divulgação do show scaneada do jornal.

Antes do até, um lembretinho (não confundir com lambretinha:) pra você que manda um comentário sobre o blog pro meu email: deixe seu comentário clicando no "comments", pra eu poder publicar. E pra você que me faz uma pergunta mais específica, deixe seu email para poder lhe responder, vale?

Até!

mais Monk



Vim conhecer a obra do Monk já tarde, e claro, a primeira música foi Round Midnight, que é a mais famosa, com milhares de versões instrumentais e também cantadas. Encantei-me com os caminhos da harmonia + melodia, achei difícil, estranho, belo. Depois fui me interessando pelo resto de sua obra. Não há uma só composição sua de que eu não goste, que eu não sinta uma profunda identificação. As preferidas: Monk's Mood (um desafio. canto ela com letra minha no show com Tomás), Crepuscule with Nellie, Misterioso (um haikai), Reflexions, Pannonica, Brilliant Corners, In Walked Bud, Ugly Beauty, Monk's Dream, Friday the Thirteen (só o Thelonious pra fazer a melodia dar uma sétima maior com um acorde de sétima menor) , Locomotive, Dear Ruby, Off Minor, Epistrophy, Jackie-ing, Blue Sphere, Between the Devil and the Deep Blue Sea (que título!!!), e por aí vai. Adoro ver seus vídeos, aquelas mãozonas nas teclas com uma técnica oposta à que aprendi na Academia (fui pianista clássica, ia até seguir carreira... é uma outra história...), aqueles dedos de mãozona aberta, batendo nas teclas e que dá tão certo, fica tão bom, aqueles anéis enormes rodando em seus dedos, e ele re-posicionando-os enquanto toca- me dá uma aflição, por que não os tira logo??? Seu rosto inteiramente "possuído" como num delírio expressionista, sempre brilhando de suor. Sua coleção de boinas, chapéus... Se levanta, dança, roda em volta de si mesmo, corre de volta ao piano pra pegar a deixa do sax...

A turma que toca com ele também é especial, pois pra tocar com ele tem que ser.

E Monk tocando standards de outros compositores? simplesmente genial, único, prefiro suas versões às originais: Smoke Gets in Your Eyes, I'm Getting Sentimental Over You, April in Paris, I'm Confessing, Dinah, My Melancholy Baby, Tea for Two, Sophisticated Lady... Tem músicas que não gostava e passei a gostar depois de ouvir sua interpretação...

Carmen Mcrae gravou um CD só com o repertório de Monk (letras de Jon Hendricks, Abbey Lincoln, Bernie Hanighen, entre outros), que me transporta pras lá entre "o diabo e o profunda mar azul"... Nunca ouvi Monk cantado tão genialmente. Ela e os músicos (Al Foster- bateria/ George Mraz- baixo acústico/Clifford Jordan- sax soprano e tenor nas faixas de estúdio/ Eric Gunnison -piano nas faixas de estúdio/Charlie Rouse -sax tenor nas faixas ao vivo- este tocou anos e anos com Monk- e Larry Willis -piano nas faixas ao vivo) fazem esse disco indispensável, não dá pra não ter- Carmen cantando Monk soa tão natural, tão fácil como respirar, mas no encarte ela afirma que foi um desafio e tanto... acredito!!! Atenção pra faixa Get It Straight (Straight no Chaser) em que ela faz um dueto com Mraz.

E os CDs com outras feras como John Coltrane, Duke Ellington, Sonny Rollins? dá nem pra falar, só ouvindo.

Pra ilustrar, a capa mais louca dos vinis de Thelonious, o Underground.

08 August 2006

Noel


Por Noel, todos sabem a quem eu me refiro. Noel de Medeiros Rosa (1910-1937). Agora estou me deliciando com uma coleção de 14 (quatorze!!!!) CDs que foram lançados na Coleção Noel Pela Primeira Vez, lançado pelo selo Velas, com o apoio da Funarte e do Ministério da Cultura. O projeto foi do pesquisador de música brasileira Omar Jubran, que organizou e produziu essa coleção de 229 faixas (duzentos e vinte nove!!!!), partindo dos 78 rotações e digitalizando tudo que já tinha sido antes, e mais outro material inédito, raridades, gravações de rádio, músicas que não foram gravadas porque os cantores esqueceram a letra, etc etc.... Com essa coleção (cronologicamente gravada), dá pra observar nitidamente a grande transformação pela qual passou a música nesses anos 30: do samba amaxixado ao samba do bairro do Estácio (Ismael Silva, Bide, Marçal). Noel começa com temas caipiras, depois maxixe, então "descobre" os negros dos morros, e vai elaborando cada vez mais suas músicas, até a sua morte prematura, com somente 26 anos e meio... Noel é crítico, cínico, de um humor ferino, filosófico, cronista de sua época, e ao mesmo tempo sofrido de amor, autopiedoso, masoquista, vingativo.. Tudo podia ser convertido em letra de música pra ele: assassinato, prostituição, política, miséria, fome, futebol, doença.

Participações extraordinárias nos CDs: Francisco Alves, Mário Reis, Sílvio Caldas, Marília Baptista e a insuperável Araci de Almeida, mais Pixinguinha e os Diabos do Céu nos acompanhamentos, só para citar alguns.

Uma pisca de biografia: criado em Vila Isabel, cultivou uma polêmica briga musical com Wilson Baptista (outro genial compositor): o "malandro da Lapa" versus o "mocinho da Vila". Sua grande paixão na vida foi a Ceci, uma dançarina de um cabaré da Lapa. Tuberculoso, nem a doença o afastou da vida boêmia. Seu último samba -Eu Sei Sofrer- foi gravado por Araci de Almeida e Benedito Lacerda exatamente no dia de sua morte. Muito pra se falar de Noel.

Na verdade. vão ser semanas pra ouvir isso tudo. Meses? é.

05 August 2006

astros errantes


Ontem no O Globo, na página Ciência e Vida, tem uma ilustração linda. São os "astros errantes". Trata-se de dois planetas recém-descobertos que não giram em torno de estrelas, mas um em volta do outro, vagando livremente pelo espaço. Isto é surpreendente, pois todo mundo sabe, a gente aprende no primário, que planeta gira em torno de estrela. O nosso Sistema Solar é um exemplo, planetas frios orbitando a estrela quentefumegante Sol. Como ele, tem milhares de outros. Mas o que será que aconteceu com esses dois planetas? desgrudaram de suas órbitas? cansaram da rotina? uma bela noite resolveram seguir seu próprio rumo, criar seu próprio caminho, vagar, errar, se perder na imensidão, ao invés de ficar a vida inteira em volta de um astro que não lhes dava a mínima bola? Parece gente!!! Será que tem outros assim? Muitos? Então essa definição de planeta já não pode definir mais nada.
Indefinível. Indecifrável. Inexplicável.

03 August 2006

cerebro eletronico burro!

pois é, estou apanhando desse "cérebro eletrônico" que está aqui nas minhas mãos... tentando consertar um erro gravíssimo postado anteriormente, mais precisamente no texto de título "contrastes"... um lapso louco me fez confundir os nomes daquele assassino Pimenta..... (até bloqueei seu sobrenome... Neves??? aquele jornalista que matou a namorada pelas costas num haras -não confundir com harém...) com o Pimenta da Veiga meu deus... coitado, que horror. Doida! Tomára que esse blog nunca chegue aos olhos deste injustiçado... e vocês que o lerem, me perdoem essa distração, esse erro amnésico, essa falha imperdoável. E pra aumentar minha aflição, agora edito um novo texto, mas o velho não sai dali. Computador burro, não sabes mudar? mas se já mudaste textos meus antes.... como que agora te recusas? estás do lado de quem afinal? tenho o direito de errar, errar faz parte... sou humana, demasiadamente humana, minha cabeça falha de vez em quando, é normal. Assim como tenho o direito de errar, tenho direito de consertar o erro. Mas tu és um burro. O que mais preciso fazer pra que entendas que o texto antigo é pra trocar pelo novo? quero meu dinheiro de volta....