12 August 2013

voltando

Pois é, quando abri este blog hoje e vi a data do último post, não levei susto, não me surpreendi. Pra mim, faz séculos que não escrevo, e não escrevo porque enlouqueci. Um ano da morte absurda do Mario. Uns meses depois, a morte de Nelson. Não deu pra escrever sobre isto, nem sobre nada depois, porque não tive palavras, foi tudo tão súbito afinal, que fiquei à deriva. Não há como se poupar, se preparar: quando estas coisas acontecem, você é chupado pra dentro do olho do tufão. Sem drama. Com intensidade máxima. A linha entre o louco e o são fica tênue, tendendo a desaparecer se não se cuidar. 

Não me cobrei nem me exigi uma migalha. Deixei-me sentir. Escrevi bastante, mas em pedaços soltos, margens de cadernos, folhas esparsas, vidros embaçados de janelas, fundos de gavetas, quadros negros, tentando ter foco, mas sem a mínima condição de focar em nada, vagando, procurando meus pedaços espalhados pelo espaço cósmico, que nem cometas ou estrelas mortas ou nano-planetas ou cacos de asteróides. Formando uma via-lácrima em que cada partícula se transformava em novos pedaços de novas matérias. Processo que dura anos. 

Neste exato momento me sinto no meio de uma desconstrução, me sentindo bem, arrisco a dizer até- muito bem- apesar da vertigem que isto me causa. Virando outra coisa. Não sou eu antes do Nelson, nem eu com o Nelson. Esta criatura que ora se forma sou eu depois de tudo que aconteceu. Quem é? ainda não a conheço, mas de cara já estou gostando dela e de seu caminho que se abre num leque de 360º. Nada determinado, nada necessário, é abrir espaço, soltar as asas, e fazer acontecer. Ou não. Sou a soma de tudo. 


Starting all over.