26 November 2008

carro das mulheres


É um luxo este carro das mulheres!!! A foto não está lá estas coisas, mas serve pra dar uma idéia do nosso vagãozinho para aqueles que porventura moram fora do Rio e não podem sentir o gostinho desta exclusividade exemplar.

Pra quem não sabe de que estou falando, vou explicar. Em 2006 o Metrô-Rio apareceu com uma novidade: reservou um carro especial só pra mulheres, de 6 às 9 da manhã e de 5 às 8 da noite (medida adotada para os trens para os subúrbios também!!!). Neste horário, homem não pode entrar neste vagão. Ele vem pintado de rosa e dentro tem cartazes de florzinhas e publicidade de marcas de soutiens e calcinhas, com uma enorme mulher pelo carro todo. Logo que eu soube da novidade, fui contra, achava que não tinha nada a ver, achei preconceituoso, discriminatório, ora... me senti até meio ofendida!

Boba! bobona! É a melhor coisa que tem. E depois que vim a saber que houve casos de homem se masturbar em mulher no vagão cheio, achei uma medida super-necessária, imprescindível, devia ter sido posta em prática muito tempo atrás... porque aquilo fica espremido mesmo, neguinho nem vê acontecer. Sei bem o que é uma agressão destas, acho que qualquer mulher nesta cidade já passou por uma (ou mais) situação parecida. E é tanta gente, que parece metrô no Japão, onde tem um guarda do lado de fora empurrando as pessoas pra dentro pra caber.

Antes desta idéia ser posta em prática era um verdadeiro horror, eu preferia viajar em outra condução, mesmo que demorasse mais ou me deixasse um pouco fora de mão. Era impraticável pra mim, impossível viajar no metrô na hora do rush... eu não ia mesmo.

Há uma gravação no interior dos carros, que entre outras coisas informam a existência deste vagão tão especial, e que termina assim: "respeito é bom, e elas merecem". É, porque nem todos respeitam. Na direção pra Zona Norte, tem um guarda vestido de preto em cada estação vedando a entrada de uns masculinos que se fazem de ingênuos e desavisados (ah, eu não sabia...), outros não sabiam mesmo (acho difííííícil...), outros tantos tentam driblar a segurança e se jogam pra dentro na última hora, quando o trem está fechando as portas e não há mais jeito do guarda o segurar. Então o segurança liga pro outro que se encontra na próxima estação com a mesma função e avisa, e finalmente o recalcitrante é retirado ali.

Agora, em direção à Zona Sul, não existe esta fiscalização, certos tipos masculinos entram na maior cara de pau, mas também é mais vazio, então dá pra encarar.

Sempre que estou de tarde na rua e preciso pegar o metrô, me dá aquela sensação de alívio em saber que meu lugarzinho está garantido ali no carro das mulheres. Sim, porque por mais que esteja lotado, sempre tem um fiapinho de lugar esperando a gente, e lotado de mulheres é outra coisa: ce entra e fica à vontade, encostando nos corpos suados, espremida mas feliz!!!!

19 November 2008

flor-de-jade


Conheci este mes, no caminho que faço pra academia, uma das coisas mais lindas. Quem me despertou foi a Lupe, que encontrei caminhando em sentido inverso ao meu... ela tinha acabado de pegar uma, caída na murada de uma casa. Olhei para cima e vi aquele cacho azul turqueza (ou melhor, verde turqueza!). Fiquei apaixonada. Peguei uma também, e trouxe com cuidado pra não danificar. Em casa, fiquei observando como ela ia mudando de cor com o passar dos dias, lilás... azul... até murchar-se em azul-marrom... Vou tentar plantar esta bolinha da flor, pode ser que seja a semente, sei lá... andei pesquisando, parece que ela nasce de estaquia... bem, vou tentar, porque vale a pena. Agora ainda tem um cacho fora da grade da casa, mas tem vários lá dentro, e lá dentro não dá pra pegar as flores caídas...
Li também que é originária das Filipinas (tem toda cara).
Agora minha caminhada até a academia tem mais este atrativo, fico ansiosamente querendo chegar lá pra ver se já nasceu outro cacho, e como estão as que já conheço. É emocionante... tão linda, tão linda, tão sensual... a cor é tão diferente, e seu formato parece uma boca, um pássaro, uma onda, um anjo, um órgão sexual...
Estas fotos são das que estavam caídas, infelizmente ainda não tirei uma do cacho todo, que é um escândalo. Aproveitei pra fazer um "quadrinho" com estas sete.

06 November 2008

OBAMA PRESIDENTE


Ontem cheguei já tarde em casa, e com sono. Mas estava acontecendo a apuração da votação americana pra presidente. Por meses acompanhei esta campanha, ouvindo, lendo, discutindo, me preocupando... porque se Obama ganhasse, iria ser O SONHO, e eu queria sonhar. Revolução no país e também no mundo. Era possível, mas poderia dar tudo errado... racismo, fraude, racismo, preguiça, racismo, mau tempo (votar não é obrigatório), racismo, indecisão, tanta coisa poderia atravancar o caminho, e por tudo a perder. Suspense, emoção emoção emoção.

Me plantei em frente a TV, ora no Globo News, ora no CNN, às vezes ia pra Fox News ver a reação da direita. O resultado foi acontecendo aos poucos, num ritmo crescendo: os primeiros votos, cidades pequenas, somando aqui, ali e acolá. A esta altura eu já estava sem sono, alerta, atenta e terrivelmente ansiosa, mastigando qualquer coisa que achava na cozinha. O povo de Chicago foi se chegando em grupos cada vez maiores ao parque onde foi montado o palco para o suposto discurso da vitória. Isso foi muito emocionante. Parecia que um evento enormemente grandioso e extremamente importante iria acontecer. Incrível isto, porque ainda não se sabia do resultado, mas horas antes as pessoas começaram a se aglomerar, levadas por uma estranha força. Discretamente, aos pouquinhos, pingadinho, homeopaticamente, gente ordeira chegando, chegando, chegando, chegando em grupos cada vez maiores, verdadeiras multidões, gente quieta e discreta. Quando a vitória enfim foi confirmada, esta gente, que até então estava contida, explodiu em festa. YES, WE CAN. OBAMA GANHOU!!! Uma explosão humana de felicidade na tela, nos EUA de ponta a ponta, na minha sala, e no mundo, de norte a sul, leste e oeste. E não parou por aí. Continuou ganhando, passando o número necessário de delegados -270- (sistema de votação que ainda não entendi direito) pra muito mais que o previsto. Vitória avassaladora. Pronto.

No parque em Chicago, um oceano de gente tresloucadamente feliz, rindo chorando, se abraçando. OBAMA PRESIDENTE. Meus olhos aqui no Brasil, cravados na TV choraram lágrimas molhadas descendo pelo rosto. O que estava acontecendo me dava arrepios de êxtase: ao vivo, EUA de ponta a ponta comemorando, e flashes do mundo em comemoração também. Veio o discurso do McCain, um discurso emocionante, mencionando a importância do momento histórico num país de um passado tão manchado pelo racismo, e elogiando e apoiando aquele que antes era seu rival, agora seu presidente. Muito muito bonito, muito digno.

Eram 2 da manhã, mas nem pensar em dormir. Esperei com o resto do mundo o discurso de Obama por quase uma hora. Sabia que iriam reprisar no dia seguinte, e até no dia seguinte ao seguinte, e no próximo, mas não era a mesma coisa. Tinha que ser ali, naquele instante em que estava tudo acontecendo diante dos meus olhos.

E ele chegou. E falou. Sério, como pedia o momento.


O que senti não consigo descrever, mistura de muitos sentimentos. Chorei muito. Nelson tinha ido deitar, mas Milton ficou vendo tb, não foi dormir. Liguei pra Suzy, que mora em New Jersey (onde ele tb ganhou). Chorávamos juntas. Consegui tirar umas fotos da tela da TV deste momento inesquecível na minha vida. Falo mais na próxima.

18 October 2008

a vida é longa 2

Pois é, o título poderia muito bem ser Quando Fui Outra, como sugeriu o Adriano (aliás, título de um livro de Fernando Pessoa). Mas A Vida É Longa também é bom, porque é longa mesmo e a gente nem sempre se dá conta disto.

E continuando com a sessão de slides digitalizados, primeiramente vamos contemplar uma imagem minha de 73 no camarim do Teatro João Caetano, prestes a entrar em cena.

Amy Winehouse perde. Não a conheço pessoalmente, só sei pelos jornais que ela se detona legal. Era o que eu fazia naquela época. Mas no estilo Janis Joplin, Jimi Hendrix. Agora eu poderia estar perfeitamente onde eles estão, mas não era a minha hora. Estava escrito nas estrelas que eu iria sobreviver, morrer e nascer outra.
Anos 60-70. Outro momento histórico. Brasil em plena ditadura militar. Contestação, revolução, sexo drogas rock & roll. Tropicalismo. Quem viveu, viu... e vice-versa...

Depois em 77, carnaval na Cinelândia, com o Bloco que fizemos na Equitativa contra o leilão. Eu, de casa própria, com direito a chaminé e fumacinha saindo.

Super-popular, com um cardume de gente ao meu redor, uma tchurma unida de amigos inseparáveis, galera esta que eu pensava que fosse ser pra sempre, e eu ali no meio, centro das atenções. Boêmia, doidivana, espumante colarinho de chope, rascante que nem bagaceira...

A próxima é na praia em Salvador, 78.

Praia... sol queimando... ondas do mar... Estava em Salvador, trabalhando com o Smetak, morando na Boca do Rio, depois Itapoã. Praia... sol em brasa... ondas do mar... Como hoje só posso ir à praia quando o sol já se pos -ordens médicas- vejo esta foto e me lembro COMO eu era rata de praia, ia todo dia, ficava o dia todo, de manhã até o entardecer. Minha pele ficava tão escura, virava mulata... meus dentes e branco do olho ficavam que nem se estivessem na luz negra, aquele branco ofuscante... Claro que já tive queimaduras exageradas, tipo no dia seguinte mal conseguir abrir o olho, tudo inchado... pura fissura de começo de verão.

Mais uma. São João na Lagoa das Lontras. De perfil, Milton.

As festas juninas que eu organizava- eram verdadeiras produções- quando ainda a Lagoa das Lontras era da gente. No caminho para Miguel Pereira. Era o meu paraíso de infância, adolescência e de adulta. Sempre foi meu refúgio. Ali eu falava com os deuses. Desde que vendemos, não tive vontade mais de ir... era muita lembrança, e lembrança cansa. 40 anos de passado, melhores momentos da minha vida, não dá não! voltar e ver, voltar e sentir... ai não! muito triste.

Jamais me passou pela cabeça que iria deixar de beber, não iria pegar mais sol, não teria uma galera fiel e onipresente comigo pra cima e pra baixo, que Lagoa das Lontras iria me desaparecer do mapa. Se tivesse vislumbrado este futuro, talvez preferisse morrer e me emburacaria até um patético fim...

Mas não foi isto que aconteceu. A vida é longa. E eu ADOOOOOORO viver. É a coisa que mais gosto de fazer. Por isso morri pra de novo nascer. Várias vezes.
OUTRAS.

13 October 2008

a vida é longa


Perdi a conta de quantas vezes morri nesta vida. Pra de novo nascer, outra.
Quantas fui eu????? incontáveis.

Ao contrário do que parece, a vida é longa, o tempo é infinito... Mas a sensação hoje em dia é de que não há tempo pra nada, os anos vão passando cada vez mais rápidos... a gente lembra de uma coisa, parece que foi há um ano mas não: foi há tres!!! ainda há pouco estávamos em maio, e já estamos em outubro... e as lojas já estão vendendo enfeites natalinos! Mas basta olhar uma foto de, digamos, 30 anos atrás -que nem esta aí- pra sentir que foi há tanto tanto TANTO tempo... numa “outra encarnação”!!!

Mandei digitalizar uma porção de slides (!) antigos. Nos anos 70 e no começo dos 80, um dos baratos era fotografar em slides, depois chamar os amigos e fazer sessões. Ninguém tinha máquina de fotografar, mas os que tinham costumavam curtir esse barato. Pra começo de conversa, tinha que ter um projetor, um carretel onde colocavam-se pacientemente os slides (de cabeça pra baixo e de frente pra gente- cabiam uns 80...), e um pedaço de parede de preferência liso e branco. Às vezes pendurávamos um lençol branco, tinha que ser esticadinho, senão ficava todo mundo deformado. Umas cervejas, uma cachacinha, uns tira-gostos e pronto!!! era diversão para a noite inteira!!! uma trilha sonora, K7 ou vinil.

Nós ainda temos um projetor, já pensei em chamar os amigos para uma sessão, mas não acontece... Então resolvi digitalizar, porque assim posso também mandar certas fotos para aquelas pessoas queridas, algumas não vão nem mais lembrar, outras vão se enternecer, enfim... uma viagem ao passado sempre mexe um pouco...

O Eduardo, que fez a digitalização, ainda me surpreendeu com “bônus”: um dvd maravilhoso editado por ele mesmo com as fotos passando em efeitos especiais e com a trilha musical Fome de Javali, meu disco vinil. NOSSA, QUE REVERTÉRIO!!!!!! muitos dali ainda são meus amigos, muitos nunca mais vi, e muitos já se foram....

Mas sem essa de saudosismo. Estas fotos são lembranças de momentos engraçados, momentos queridos, momentos de muito amor e amizade, momentos de muita emoção, momentos de sonhos e esperança, mas nada de dizer que naquele tempo é que era bom, não, nada disso!!! a gente lembra dos bons momentos, e os maus (que eram muuuuuuuitos também, venhamos e convenhamos!!!!!) ficam guardados no inconsciente, a gente querendo sempre deletar, mas estão lá!!!!! É claro, estamos todos lindíssimos e mais jovens 25, 30 anos, mas naquela época isso não era garantia de felicidade não, sofríamos também as perdas e os danos e os contras daquela idade... por amor e paixão então AI QUE DOR!!! era uma loucura... uma procura... uma quentura.... fora o horror que era viver sob uma ditadura (essa rima nem foi proposital....). Pois é, nem dá pra comparar com os tempos de agora, eu pelo menos estou mais feliz porque hoje me entendo um pouquinho mais, entendo um pouquinho mais as pessoas e este mundo em que vivo. Entendo justamente porque posso olhar pra trás. E não sou tão radical.

Ver estes 400 slides digitalizados também me fez pensar numa coisa: como é difícil abandonar o antigo personagem, seus hábitos, seus desejos... a gente vai mudando, vai morrendo e nascendo outra, mas não é como apagar uma coisa escrita a giz no quadro-negro.... nem é como acordar um dia, se olhar no espelho e dizer- mudei. Entre uma coisa e outra está uma zona de nebulosidade que pode durar meses e até anos. Aí a gente faz coisas que a outra fazia, mas sem sentir o mesmo prazer, e até se violentando em certos casos... é sinistro.... desconcertante... mas continuamos a insistir, querendo ser alguém que a gente já não é, e vem aquela insatisfação exdrúxula, até chegar à simples conclusão de que- não dá mais. Mudamos. Mas custa (em vários sentidos).

Vou postar outras fotos desta viagem no tempo.

24 September 2008

decidir


O pato
vinha cantando alegremente
quém quém
quando na frente seu caminho virou dois
não sabia pronde ia
vou pra cá vou pra lá?

A vida, entre outras coisas, é um caminhar repleto de encruzilhadas, e cada vez que a gente dá de cara com uma, a gente tem que escolher pra onde ir, senão fica parado ali de bobeira, a vida passando, e a gente ali parado a ver naviões.

Optar. Escolher. Ora trôpegos, ora convictos, ora iludidos, errando pra caramba pra acertar da próxima vez, a gente vai decidindo com cores, dores e sabores a nossa vida.

É um pouco assustador isso... saber que está tudo nas nossas mãos... Não que a gente tenha o controle das coisas, não, nada disso... elas acontecem independentes da nossa vontade. A maneira pela qual vamos (re) agir a isto é que está em nossas mãos. Que atitude tomar quando o imponderável ponderar-se sobre nós?

O pato em questão vê seu caminho virar dois, e não sabe pra onde leva nenhum deles. Decidir assim é um salto no escuro, tanto faz escolher um ou outro, vai-se pela sorte. Intuição. Molha-se o dedo indicador na língua, aponta-se para o alto e segue-se a direção do vento. Mas optar, escolher, ponderar, por na balança as perdas e ganhos, os prós e contras, ai! isso coça.

Que situação: pra cá ou pra lá? isso ou aquilo? faço ou não faço? vou ou não vou? falo ou não falo? Tem que escolher. Tem que optar. E optar significa se privar. Chato, né? Il faut choisir, et choisir c'est se priver.

Pra mim, decidir é muito difícil, penso muito, crio mil histórias na cabeça, muitas suposições. Pode se tratar de uma coisa banal, como escolher a cor de uma camiseta. Ou então algo mais sério, como por exemplo, uma profissão... ter animal doméstico... engravidar... morar no mato ou na cidade... se separar de alguém... E se for deixando, é pior, porque a angústia da dúvida fica pairando no ar que nem morcego tirando rasante das mangas maduras na mangueira. Mas também, decidir vencida pelo cansaço é um risco... o dia seguinte pode amanhecer amarelo desespero!!!

Talvez seja difícil porque nem sempre a gente sabe o que quer, ou reconhece o que quer, ou tem coragem de querer ou não querer. O desejo também não é estático- acompanha as batidas do nosso tambor- e um dia a gente acorda não querendo mais o que tanto pensava querer, ou nos surpreendendo em querer coisas nuncantes queridas... A gente também não muda? a gente também não é multifacetada? nosso querer também. Tem ainda o Inconsciente, que nos rege, o poderoso irrefreável incontrolável Inconsciente. Tem ainda o universo, galáxias e estalactites em cada um de nós, buracos negros pessoais e intransferíveis. Bota isso tudo num caldeirão, mexe e -está formado o grude!!!

O ganso
gostou do pato e fez também
quém quém
jogaram par ou ímpar
e foi assim
que decidiram ir em frente
cair nágua
muito bom muito bem

06 September 2008

o filho, a neta e a aprendiz


O filho e a neta de Smetak vieram visitar a aprendiz de Smetak, que sou eu.

Pra quem não sabe quem é Smetak, é só olhar no arquivo, 15 de agosto de 2007 e depois setembro todinho do mesmo ano. Tá tudo ali.

Uibitu esteve no Rio!!! Veio acompanhando sua mulher Olga, que estava num projeto do SESC de teatro de bonecos para crianças, em que ele fez a trilha sonora. E trouxeram a filha Amanda!!!

Preparei um cantinho gostoso pra eles aqui, camas, toalhas, sabonetes, incensos, mas Olga estava inteiramente envolvida com as apresentações (que eram em Jacarepaguá, loooonge à bessa), só no último dia pôde dar uma chegada até aqui... A sorte é que o hotel em que estavam ficava no centro do Rio, mais precisamente na Rua Senador Dantas, bem ali no coração da Cinelândia, com ponto de taxi e tudo!!! Há uns 10 min de Santa Teresa. Resumindo: na quarta fui pegar os dois pra jantarmos aqui em casa uma moussaka. Na sexta, passei lá no hotel e viemos passear de bonde. Sábado teve som na casa de Maria com, entre outros, Joel Nascimento, e os dois vieram!!!! e no domingo, véspera de eles voltarem pra Salvador, vieram finalmente os tres, e aí passaram a tarde aqui. Quintal, troca de cds, chazinho, castanha-do-pará, damascos e muito papo.

É engraçado como afinidades acontecem entre certas pessoas. Antes desta visita, estive com eles primeiro, no dia da inauguração da Exposição Imprevisto, do Smetak, em 2007, Salvador (na verdade conheci o Uibitu quande ele tinha 5 anos, em 1976; isto faz.... hmmmmm.... 32 anos!!!). Então é como não ter conhecido. Depois passei uma tarde na casa deles dias depois, e finalmente, 2 dias antes de eu voltar pro Rio, nos encontramos na Exposição, depois fomos tomar sorvete. Tres vezes. E no entanto, é como se fossem velhos conhecidos.

Momentos mágicos que ficarão pra sempre.

Smetak deve estar gostando disso!!!

18 August 2008

se eu fosse você...


se eu fosse você...

... eu faria....

esta é uma das frases mais absurdas que alguém pode pensar e dizer. Se eu fosse você? como é que a gente pode dizer o que faria se fosse uma outra pessoa? que pretensão!! a gente sabe o que está dentro do outro? e mesmo que se tratasse de uma pessoa que conhecemos durante décadas, mesmo que ela possa ser parecida com a gente, ter os mesmos gostos, falar a mesma língua, mesmo assim, o que a gente sente é com o nosso sentimento, com a nossa cabeça, com o que vivemos. E mesmo que estivéssemos acostumadas por looongos anos com as reações do outro, a ponto de achar que o conhece muito mais que bem, as pessoas mudam, e sempre podem vir a nos surpreender, assim como nós nos surpreendemos com certas atitudes nossas, que nuncantes havíamos tomado... ou não?

Cada um é um universo inteiramente distinto, cada um vai desde neném reagir diferente em relação a cada minuto que passa... o seio da mãe, o calor de um colo, comidas novas, um irmão que nasce na família, a escola, férias, uma briga com um colega, uma nota baixa, um passeio com o pai, a sensação de pisar na areia, um banho de cachoeira, ser passada pra trás, discussões em família, namorados, sexo drogas e rock n'roll... é uma própria vida individual pessoal intransferível que se forma e se transforma, e assim a gente vai se virando aqui e ali, tentando fazer o melhor, os anos vão passando e criamos alguma coisa como uma personalidade, um caráter, opiniões. Como então alguém pode chegar e me dizer que faria assim ou assado como se fosse eu? como, se fosse eu? ora, se você fosse eu, ce faria exatamente o que eu fiz!!! a pessoa ainda diz achando nas entrelinhas que ela é que está certa, e se sente gabaritada a opinar, assim como dando um conselho. Quem está fora do nosso turbilhão individual pessoal intransferível opina pelo que vê por fora somente. Vá viver lá dentro, vá, pra ver o que é bom!!!

E mesmo quando alguém nos pede opinião, é bom deixar sempre bem claro que - "mas você é quem sabe!" Vamos sempre estar de fora, e ter uma visão que nem a de um satélite lá no alto do céu que vê um tornado rodopiando, contorcendo as casas e destruindo as pessoas aqui embaixo na terra e achar que é um algodão doce... Às vezes até funciona, é até bom, ajuda, mas... quem sabe de si é "si mesmo"!!!

16 August 2008

morreu o Caymmi


Morreu o Caymmi. Eu tava no quarto fazendo coisas, Nelson veio me falar (a tv tá sempre ligada, com ele na frente), interrompi o que tava fazendo e fui ver. Me deu uma tristeza tamanha. Claro, sabia que ele tava doente, sabia que ele tinha 94 anos (a idade que teria meu pai se estivesse vivo... eram amigos "naquele" tempo), mas fiquei triste mesmo assim. É como se estivesse morrido um pedaço de mim. Pra mim ele era pra sempre, pois desde que me entendo por gente, ele existe, faz parte do meu viver. Muito do meu entender do mundo foi através dele. Não posso nem dizer qual a música que gosto mais... são tantas... são tantas... e marcaram a minha vida tanto e com tanta intensidade... muito mais que Jobim, João Gilberto, talvez qualquer outro, nem me lembro agora no momento quem me influenciou tanto assim... Luiz Gonzaga?? sei lá...

Caymmi foi o precursor de tudo que está aí: sua voz profunda e seu violão, só voz e violão pela primeira vez, pela primeira vez temas sobre o mar, tragédias de jangada não voltar, sobre a Bahia que eu não conhecia (ce não foi à Bahia? não? então vá!) e passei a querer conhecer tanto (minha avó era baiana) por causa dele, e quando a conheci me apaixonei e quis morar lá pra sempre, e amo até hoje, é a terra que escolhi pra morar, apesar de morar no Rio...

Meu pai me embalava com suas músicas, tocava no violão, cantava, a gente cantava junto, era tão presente, tão familiar...

A imagem que tenho de Caymmi é de uma pessoa doce, meiga, bonitão, tranquila... me lembro dele com aqueles olhinhos revirando, que a Carmen pegou bem e incorporou ao seu jeito de cantar... foi ela que o lançou, com a música O Que é Que a Baiana Tem? no filme Banana da Terra, acompanhada pelo Bando da Lua (meu pai)... me lembro de uma vez ver o Caymmi contar que a Carmen não conseguia lembrar na gravação da lista de coisas que fala a letra, e ele ficou na frente dela, apontando, fazendo mímica- corrente, bata, brinco, pulseira, sandália, saia engomada... posso imaginar a cena direitinho...

Morreu o Caymmi, mas não morreu.

11 August 2008

mas tem uma questao...


mas tem uma questão... a gente pode não gostar de início de uma coisa, mas vai acostumando, depois acaba vendo que gostava daquilo, mas não sabia. E o contrário também: achar que tá adorando, aí acostuma, vai pesando, vai pesando, mas como a gente acostumou, não nota, até que acontece uma coisa pra interromper, às vezes até um movimento que independe de nós, aí a gente diz: caramba! como pude aguentar por tanto tempo???

Acho que foi isto que aconteceu com esta Pata de Vaca, que de árvore virou trepadeira!!!

10 August 2008

tres meses!!!!


Veja só: tres meses cravados sem escrever aqui no blog!!!!!!!! TRES MESES CRAVADOS!!!!! papagaio!!! macacos me mordam!!! cruzes!!! caracóis!!! céus!!! pindorama!!! melaleuca!!! Como passou voando. Como passou lento. Como passou. Como ainda não passou. Quanta coisa aconteceu e virou passado. Quanto ainda está no presente de cada dia meu... Bem, aqui e agora estamos em pleno quase meio de agosto, e quero retomar o rítmo, ali na aquarela, acolá na música. E também, por que não? um pouco de prazer: por no colo e acariciar os gatos, brincar com as cachorras. Ver os amigos, um filme. Fazer uns almoços e chamar gente, mandar presentes pros que estão longe. Plantar minhas sementes de cajá. Ver repertório. Cantar. Arrumar as gavetas, prateleiras. Jogar coisa fora. Assistir os pores-de-sol. Escrever letra, gravar uma música, imprimir camisetas. Ligar pra quem não falo há muito tempo. Coisas que a gente não faz por estar ocupada demais. Com outras coisas. Tem outras coisas. Coisas nada lúdicas ou aprazíveis.

Não faltaram motivos para esta ausência prolongada, mas disso todos já sabem, então bola pra frente! E uma das diferenças que venho sentindo ao dedilhar estas palavras que titubeiam que nem criança aprendendo a andar, é que acho que estou precisando de um novo grau de óculos. ou óculos de um grau diferente. ou mudar o grau dos meus óculos. Porque está tudo um pouco fora de foco. Oculista já marcado.

Novidade: entrei na musculação há um mes. Estava pra entrar há tempos- to com uma pequena osteopenia- mas agora sei porque demorei tanto pra me matricular. É muito chato! será que tem alguém que realmente gosta daquilo? acho que não. Né pussívi!!! Devem ter uma compensação! Acho que ficam pensando em desfilar saradões (e taradões) na praia, ego, vaidade, conquistas drásticas e bombásticas, aí aguentam aquelas séries repetitivas, aquela música altíssima na Transamérica, locutores contando piadas machistas aos berros, né mole não... Mas engraçado como são as coisas: fui me acostumando, e agora o rádio altíssimo não me incomoda tanto, chego a sentir um mini-minúsculo prazer físico quando exercito, e olha que minha série é mínima (dura uns 25 minutos, com um minuto de intervalo entre cada série), e nem chego a sentir, quando me dou conta, já foi...

A gente se acostuma a tudo. Dependendo do que for, o pior é se acostumar!!!

Isto me faz lembrar de um fato curioso. Morei numa época (morei em tanto lugar aqui em Santa, pulava constantemente de galho em galho), numa casa incrível na Rua Oriente, situada numa curva em que havia uma certa inclinação. A foto é da vista do segundo andar (tinha quatro, contando com o porão). O bonde passava na ida, descendo pro Largo das Neves, e na volta, subindo pro Largo do Guimarães. Na ida, ele vinha mais manso, freiado, pois era uma descida, mas na volta, engrenava numa reta, e lá vinha ele bufando correndo à toda, e quando fazia esta tal curva, parecia que ia se desgrudar dos trilhos e sair voando pra cima da minha casa, que nem touro em tourada. A primeira noite que lá dormi eu não havia me dado conta disso, e quando às 5 da manhã passou o primeiro bonde, eu tive a nítida impressão de que ele estava ali no quarto, e que ia passar em cima da minha cabeça, me esquartejando!!! Levantei num só impulso, pra constatar que a casa meio que tremia junto comigo (era uma casa de uns 100 anos, à base de pedra), mas que desta vez pelo menos eu havia me salvado. Passei oito anos nesta casa, foi uma época maravilhosa, uma das melhores da minha vida, quanta recordação boa, quanta festa e alegria!!! e quanto ao bonde, nem escutava mais o bicho passar, incorporei ao tirintar dos bem-te-vis, ao latido dos cães, ao falar das pessoas passando, virou brisa na janela!

A gente se acostuma a tudo. A quase tudo. Por ser assim mesmo, é muito importante saber exatamente do que se gosta e o que se quer, pra não se acostumar com coisas que não tem nada a ver, que nos farão infelizes mais pra frente, porque depois a gente se acostuma com um monstrengo, e aí não tem santo que o desgruda... entenda-se por monstrengo qualquer coisa que não nos faça bem. Como, por exemplo, eu me acostumar a não escrever mais no blog. Viu como é fácil se acostumar? a gente nem percebe! mais uns meses e...

Pior é se acostumar!!!

10 May 2008

the day after




O dia seguinte ao show foi feriado- 1º de maio. Mais uma razão pra que não houvesse ninguém na platéia. Muitos viajaram e... mais uma vez... uma chuva tor-ren-ci-al. Mas a casa estava lotada. Para um artista, isto é uma injeção de ânimo, otimismo, boas vibrações, auto-estima ora ora!!! E nós bem que sentimos sermos "espetados" por esta injeção benigna!!!!!

Mas voltando ao título. O dia seguinte foi um dia tão bom de se viver. O prazer de ter feito um bom show, de ter agradado a platéia, de ter passado emoção e coisas boas às pessoas, de ter passado adiante o nosso recado. Tudo deu certo, tudo fluiu, e quando é assim, tudo dá frutos.

Meu sono foi recheado de sonhos bons e descanso merecido. Outro presente: quando acordei vi que o dia estava nublado!!! Eu me senti de ressaca, sem ter tomado uma gota sequer de álcool (parei há 7 anos). Uma ressaca gostosíssima, sem aquelas características terríveis de uma ressaca alcóolica. Não. Era uma ressaca de prazer. Quando o corpo da gente, e a mente também, entra num estado gama (de gamado pela vida!!!!), e a gente se sente equilibrado, tranquilo, e muuuuito feliz. Tomamos um café da manhã especial, com direito a tudo de gostoso, e depois fomos passear a pé por Santa Teresa. Nem precisei da sombrinha!!!!

Mario nasceu e viveu em Santa, e daqui só saiu pra morar na Europa em 78. Eu não nasci aqui, mas desde que armei minha barraca neste bairro em 70, também só saí quando me mudei pra Europa. Ou seja: cada metro de rua tem um significado, traz uma lembrança. Isto não é garantia de ser bom, aliás, às vezes até trabalha contra, mas neste caso, nesta ocasião, nesta situação, foi como estar na barriga da mãe!!!! E tá quase tudo igual ao que era, muito louco. Fomos nós perambular então pelas ruas, sem hora nem lugar pra chegar. Há milênios que não fazia isso...

Estava lindo. Estava deserto. Talvez o feriado. Talvez o nublado. Mas não parecia que estávamos a 10 minutos do centro da cidade do Rio de Janeiro. Silêncio. Flores, frutos, perfumes madressílvicos no ar. Conversávamos baixinho, sonhando alto.

Um dia pleno que não vou esquecer.

09 May 2008

o publico mais querido do mundo!!!





mais fotos da Noite de Blues





depois de um show delicioso


Choveu muito muito muito, a gente ficou se perguntando- será que alguém vai? o transporte demorou mais de meia hora, e quando chegamos lá, ainda foi preciso mudar de lugar o piano de um quarto de cauda, porque ondeestava, quem fosse tocar nele iria ficar espremido, sem poder se mexer. Era um ótimo piano, mas tinha um detalhe: os pés estavam soltos!!!! então foi preciso que todos os empregados viessem pra empurrar enquanto que o gerente ficasse deitado embaixo segurando-o com os pés e as mãos, gritando- cuidado!!!! cuidado!!!! estou aqui embaixo!!!!! Momentos de tensão!!! no final, com o gerente são e salvo, o piano afastado, conseguimos montar o resto da aparelhagem.

Quem chega pra assistir um show, nem imagina as coisas que têm que serem feitas para que tudo funcione direitinho...

E chegou foi gente, ficou lotado, apesar da chuva pesada. Que beleza.

E foi um show iluminado. Estávamos radiantes, felizes de estar novamente tocando juntos. Um ótimo repertório, gostoso de tocar, músicas lindas, músicas engraçadas, parcerias antigas, e ainda pra encantar a noite mais ainda, a participação especialíssima de Nelson (Jacobina).

Vamos agora por este show na estrada. Tocar muito. Tocar mais. Aqui umas fotos dessa Noite de Blues!!!!




18 April 2008

show de blues


E lá vamos nós, Mario Jansen e eu, aterrissar no Humaitá no final deste mes. Embora já tenhamos vários shows prontos, um novo show sempre é um novo show, e a vontade de pegar músicas diferentes é total. E dá-lhe ouvir, pesquisar, pinçar, tirar harmonia, letra, arranjar... muito bom isso tudo.

Não dá pra se ter mau humor nem depressão quando se tem uma profissão de que se gosta. E claro, trabalho. Sinto-me privilegiada. Embora a profissão de música não seja pra qualquer um. Posso fazer um show agora, outro daqui a uma semana... um mes... um ano!!! A incerteza de datas faz parte. Instabilidade. "Infrequência". Mmmmm... gostaria que fosse toda semana...

Mas voltando ao show, novas músicas. É engraçado como eu acho uma música boa, e me apaixono por ela, e aquilo fica na minha cabeça o tempo todo. De repente, acho uma outra. Imediatamente esta nova toma o lugar da outra na minha paixão, e penso- ah, ESTA sim, é a mais linda de todas. E quando vejo, tem mais música que o roteiro comporta... daí tem que ter sangue frio pra cortar as tão adoradas.

E outras que tenho que deixar porque já viraram "clássicos", canto há anos e todos pedem. Essas nem quero tanto, mas não dá pra tirar.

Depois os sonhos. No outro dia sonhei, (aliás foi um pesadelo!!!), sonhei que chegamos lá no local do show pra passar o som e não tinha piano acústico, e nem tempo de providenciar. Comecei a me dar um desespero misturado com pânico e vontade de me atirar pela janela, mas felizmente acordei logo em seguida. Nestas horas é tão bom acordar e reconhecer seu quarto...

Show de Blues. Big Bill Broonzy, John Lee Hooker, Muddy Waters, Bessie Smith, Ida Cox, Aretha Franklin, Billie Holiday, Nina Simone, Helen Humes, BB King... quantos vou escutando, e descobrindo outros tantos, e lendo sobre a história do blues, que se confunde com a própria história dos EUA, escravidão no sul, guerra civil, industrialização... Quando me apaixono, mergulho fundo.

Isso tudo é muito bom, mas... será que vou conseguir decorar estas letras todas novas? este é o meu maior desafio. Gosto de estar no palco solta de qualquer papel. E tem umas letras grandes, tem uma ótima (ops! grande tb) cujo título é Wild Women Don't Worry (wild women don't have the blues), de ida Cox. É uma letra feminista, rara no blues. Canto outra também -Love Me Like A Man (don't put yourself above me), de Bonnie Raitt, cantora contemporânea de country-folk, com fortes influências bluseiras.

Que sejam dia sim dia não, os próximos shows. Oxalá!!!!

28 March 2008

Cachao


Morreu no dia 22 deste mes e deste ano, agora no sábado, um músico pelo qual sou apaixonada:Cachao. E foi como se fosse um tio distante, me era tão familiar...Como tocávamos sua música por uma época aqui em casa (assim que o descobrimos), era todos os dias e o dia inteiro, cada um que chegava aqui era apresentado a este baixista, arranjador, maestro, compositor tão extraordinário.

Cachao foi quem mais revolucionou a música cubana, se apresentando e compondo com seu irmão Orestes Lopes dos 30 aos 50 em Havana. Sua grande idéia foi acrescentar ritmos africanos à música cubana, criando o "danzón" que viria a se tornar o mambo. E este rítmo atravessou o mar em direção ao mundo, revolucionando também a música internacional, em especial a americana, nas linhas de baixo do R&B, nos improvisos jazzísticos à la afro-cubana, que depois deram filhotes: a salsa e o latin jazz.

Nasceu em 1918 numa família em que cerca de quarenta integrantes eram músicos, a maioria baixistas. Começou na música tocando bongô aos 8 anos. Aos 9, já no baixo, tocava em cinemas mudo de sua cidade, acompanhado pelo genial pianista também cubano Bola de Nieve (Ignacio Villa). Aos 13 já tocava contrabaixo na Orquestra Filarmônica de La Habana, e foi regido por maestros como Villa-Lobos, Stravinsky e Herber von Karajan. . Ele se transferiu no começo dos 60 pros EUA, e logo se tornou um dos baixistas mais famosos e requisitados em NY. Tocou com dezenas de artistas, dentre eles a Celia Cruz, Tito Puente, Paquito de Rivera, e fez a trilha de vários filmes americanos. Morreu dia 22 de março deste ano, em Coral Gables, Florida. Queria era colocar áudio dele aqui pra iluminar a página, mas não sei ainda fazer, aliás, nem sei se dá pra fazer. Cachao Cachao, obrigada pelas centenas de horas de puro prazer e requebradas de cadeiras, ombros, mãos e pés!!!!

20 March 2008

ultimo bolo de papoula


"Anos" sem escrever aqui. Tá todo mundo preocupado comigo. Ficou doente? viajou? tendinite? teu mac pifou? encheu o saco? sem inspiração? sem assunto? a porca torceu o rabo? rolou um bate-fundo?

Nada disso. Sabe quando cê acorda de manhã com uma lista de coisas pra fazer, e no final da noite só conseguiu fazer um terço? sabe quando ce fica com uma sensação que tá sempre atrasada nos compromissos, e vive correndo olhando pro relógio pra não tardar e escrevendo notas pra não se esquecer ? pois é, passei uma época assim. Nem aquarelar, aquarelei... Não virei empresária nem executivo nem administradora, necas. Minha vida normal mesmo. É que atravancou um pouco de tudo, um engarrafamento de coisas que estavam sendo empurradas com a barriga tiveram que ser resolvidas, porque não dava mais (na verdade sempre vão ter coisas inacabadas, mas... c'est la vie...), e... bem. Chega de me desculpar. A verdade é que sinto muita falta de escrever, agora recomeço este blog com toda a alegria. Difícil vai ser escolher o assunto, já que tem taaaaaantos acumulados enquanto eu vivia este hiato...

Me lembrei de uma frase do Oscar Wilde, que é mais ou menos assim: me dê o supérfluo que dispensarei o necessário. Vou começar com um assunto que pode parecer bobagem, mas é revoltante pra mim (e pra quem trabalha ou come ISTO). Proibiram a venda de sementes de papoula. Uma ignorância total. Tenho vergonha de morar num país que proibe a venda de sementes de papoula, pois elas sempre fizeram parte da culinária em todo mundo, e estão em todas as prateleiras de supermercados de outros países. Por que isto?

Fui tratada como traficante fora-da-lei quando pedi 300 gramas nas muitas lojas em que há anos costumava comprar, no Saara. Compro isto há aaaaaaaaaanos. Uma das minhas especialidades culinárias é um bolo de sementes de papoula, receita tradicional de minha mãe (ela era de família russa, mas o bolo era húngaro... ela dizia que russo e húngaro era a mesma coisa!!!! ela sabia que não era, mas entendo o que ela queria dizer). Aliás, já tinha acontecido uma proibição destas há um ou dois anos atrás, mas tinham voltado a vender. Há 20 anos era baratinho, depois dobrou de preço, e no natal passado, triplicou. Mas podia ser encontrado. Bel chegou a fazer seus biscoitinhos natalinos, Simone seu pãozinho e eu, meus bolinhos. Tudo na santa paz. Agora os vendedores me olham com um ar de superioridade e dizem: FOI PROIBIDO. Tento conversar racionalmente com eles, mas me olham de cima, e como se eu fosse um elemento altamente suspeito, bradam pra encerrar o papo: AGORA É PRA VALER!!!!

Caramba, mas é muita ignorância. O pior é que não tem uma explicação real pra isso. Ou será que eles acham que é alucinógeno, e que a gente vai ficar doidão? PERALÁ!!!! sim, o ópio é feito com a flor da papoula, a heroína com o ópio, mas a fabricação é sofisticadíssima e exige uma série de exigências para que possa ter sucesso. Não é assim. Sou fabricante de bolo e não de ópio, será que não dá pra ver a diferença?

É no sul do Afganistão que se concentra 90 % da produção mundial do cultivo da papoula. Lendo um pouco sobre esta linda flor, achei um site (http://www.jardimdeflores.com.br) que fala sobre ela. Quem escreve é Rose Aielo Blanco. Aí vai:

A papoula foi muito conhecida nos tempos remotos, tinha muito prestígio entre os médicos da Grécia antiga. Na mitologia grega era relacionada a Hipnos, o deus do sono, pai de Morpheu - que a tinha como planta favorita e, por isso, era representado com os frutos desta planta na mão. Há também uma estreita relação entre a papoula e a deusa grega Nix, a Noite. Deusa das Trevas, filha do Caos, é na verdade a mais antiga das divindades. Freqüentemente, ela é representada coroada de papoulas e envolta num grande manto negro e estrelado. Em muitas referências ela se localiza no Tártaro, entre o Sono e a Morte, seus dois filhos. Os romanos não a representavam em um carro, mas sempre adormecida.

A papoula é conhecida há mais de 5 mil anos - os sumérios já a utilizavam para combater problemas. Os antigos comiam a flor inteira ou a maceravam para obter o sumo. Na Mesopotâmia, curavam-se doenças como insônia e constipação intestinal com infusões obtidas a partir da papoula. Mais tarde, os assírios e depois os babilônios herdaram a arte de extrair o suco leitoso dos frutos para fazer remédios.

Hipócrates foi um dos primeiros a descrever seus efeitos medicinais contra diversas enfermidades. Há quem defenda que mais tarde, um médico grego em Roma, padronizou a preparação do ópio com uma fórmula (o mitridato) e a receitava aos gladiadores. O uso do ópio difundiu-se pela Europa no início do século XVI, mas sofreu forte combate quando a Igreja Católica começou a controlar os remédios. Foi por essa época que Paracelso, o famoso médico e alquimista suíço, elaborou um concentrado de suco de papoula - o láudano, que teria o poder de curar muitas doenças e até de rejuvenescer. A disseminação desta crença levou à popularização do seu uso em todo o mundo ocidental. Com o tempo e com a expansão das rotas comerciais, o ópio acabou por se tornar uma droga universal.

A papoula é uma planta da Família das Papaveráceas, também conhecida como dormideira. É uma herbácea anual que apresenta propriedades alimentares, oleaginosas e medicinais. A planta apresenta um caule alto e ramificado, com folhas sésseis e ovaladas. As flores são grandes, brancas, rosas, violáceas ou vermelhas, e o fruto é uma cápsula. Por toda a planta circula um látex branco. Todas as partes da papoula são consideradas venenosas, com exceção das sementes maduras.

O ópio é retirado a partir do látex encontrado nas cápsulas que não atingiram a maturação. Ao se fazer cortes na cápsula da papoula, quando ainda verde, obtém-se um suco leitoso, o ópio (em grego, refere-se a suco), que contém cerca de 25 alcalóides - o mais importante deles é a morfina, presente em até 20% no ópio.

Os nomes relacionados à papoula são bem sugestivos O nome científico da planta "somniferum" (relacionado a sono) e a origem do nome "morfina" (relacionada ao deus da mitologia grega Morfeu, o deus dos sonhos) nos levam a compreender os efeitos que o ópio e a morfina podem produzir: são depressores do sistema nervoso central. Além disso, o ópio ainda contém outras substâncias, como a codeína, e é dele também que se obtém a heroína, uma substância semi-sintética, resultado de uma modificação química na fórmula da morfina.

Ficha da Planta:

Papoula
Nome científico: Papaver somniferum
Família: Papaveráceas
Origem: Ásia
Floração: verão
Propagação: por sementes
Mistura de solo ideal para cultivo: rica em matéria orgânica, pode-se usar uma mistura de 1 parte de terra comum de jardim, 1 parte de terra vegetal e 2 partes de composto orgânico
Luminosidade: precisa de muita luz, o ideal é que receba luz solar direta apenas nos horários mais amenos do dia (pela manhã ou à tarde)
Clima ideal: ameno
Regas: deve ser regada regularmente, mas o solo não deve nunca ficar encharcado.

Nunca pensei na vida em plantar papoulas, mas depois que não encontrei mais as sementes pro meu bolo, peguei cinco que tinham sobrado num vidro (elas são mínimas, quase uma poeirinha), e pus na terra (tá vendo? isso é que dá proibir!!!!!)

Não nasceu nada... sementes velhas já não servem nem pra comer, quanto mais pra plantar... agora vou ter que inventar outro sabor...

A foto é do último bolo de sementes de papoula que fiz agora no dia 10 de março. As florzinhas são da arvorezinha no nosso jardim. Fica aqui registrado, na esperança de que, algum dia num futuro nem tão futuro assim, alguém possa reverter esta lei idiota! e que nós cozinheiros possamos de novo rechear nossos quitutes com as inocentes sementinhas pretinhas e crocantes, que tanto alegram o nosso viver...

03 February 2008

o ovo da serpente 2

Olha só o que acabou de acontecer!!! pra complementar e afirmar o meu post anterior, o ôvo da serpente!!!

A Escola de Samba Viradouro, de Niterói, RJ, anunciou que teria um carro alegórico sobre o Holocausto. A Federação Israelita não gostou da idéia, mas até agora esperou pra ver, e quando realmente soube do que se tratava (uma alegoria vestida de Hitler sambando, acenando e jogando beijinhos para as arquibancadas, em cima de uma montanha de cadáveres esquálidos), levou o caso à Justiça. Antes de chegar a este ponto, a Federação tinha até proposto o carro sem o Hitler e com uma faixa escrita Holocausto Nunca Mais , mas o carnavalesco que criou esta coisa, não aceitou, não cedeu, não dialogou. Poderiam ter chegado a um acordo.

Qual seria a mensagem que passaria para o povo no sambódromo? pro povo brasileiro? e pro mundo, que entende tanto de Escola de Samba quanto nós entendemos a Öpera de Pequim? A imagem é uma só: Hitler VIVO, sambando, destribuindo sorrisos e beijinhos em cima de suas vítimas em pele e osso, de caras retorcidas de terror, bocas abertas. A mensagem que esta imagem me transmite é de que Hitler está VIVO, e bem, pisando nas suas vítimas que viraram a terra e pó a seus pés.

Eu sempre serei contra a censura, vivi os anos 60 e fui de uma geração que lutou a favor da liberdade. Neste caso porém, não se trata de censura mas sim de sensibilidade e bom senso. A imagem vale mais que palavras.

Sobreviventes dos campos de concentração nazistas, parentes das vítimas ainda estão vivos. Como olhariam pra esta imagem? sentiriam-se em paz, justiça feita??????

E se o carnavalesco quisesse mesmo denunciar o Holocausto, com certeza poderia ter criado outras soluções mais diretas, mais didáticas, sem agredir, buscar um entendimento, mas não foi o que aconteceu. Quem sabe não era esta publicidade que ele queria? ser proibido... sair na mídia... Eu, pelo menos, só gravei o nome dele só e por causa deste incidente...

Mais uma vez é bom lembrar que o silêncio em outras épocas custou a vida de milhões.

Mais uma vez é bom lembrar que estas outras épocas são as nossas épocas de aqui e agora. Nunca foram embora, apenas se esconderam e se camuflaram. O nazismo vive na Europa, EUA, Brasil, em todo o mundo. Não é paranóia nem mania de perseguição. Mantenha-se bem informado. Abra os jornais e veja: na França... Alemanha.... EUA... Brasil... Ouça com atenção certos comentários que ora chegam aos seus ouvidos, displicentes, como quem não quer nada, elogiando Hitler, duvidando até que tenha havido o Holocausto... Constantes e presentes... são o ôvo da serpente!

30 January 2008

o ovo da serpente


Parece uma coisa normal. Uma coisinha engraçadinha. Pra gente achar bonitinho e rir. Brincadeirinha. Penduradas num camelô do Largo da Carioca (tem tb em outros lugares, mas é lá que passo constantemente). Umas camisetas de criança (tem tb pra adulto, mas esta era pra criança) escritas na frente SALVE GATINHOS e atrás AFOGUE OS FEINHOS.

Democracia é assim, qualquer um pode externar seu ponto de vista. Dizer qualquer coisa. Mas... esta frase é democracia?????? Isto é puro nazismo, totalitarismo. Como pode uma camiseta destas vender? quem compra? afogar é matar. Matar os feios? a criança que veste uma coisa destas, dependendo da idade, nem sabe ler ainda, é inocente na história. Ou os que já sabem ler... andar por aí achando justo afogar os feios... Que mãe compra isto? que pai? quem compra? com certeza devem se achar bonitos. O filho pode ser um monstrinho de feio (mas como são os pais, não acham, pois o pimpolho é carne da mesma carne, nasceu deles...). Eles nem ventilam a hipótese que um louco na rua pode achar que a criança é feia, lê aquilo escrito em sua camiseta- afogue os feinhos- e vai seguir à risca??? ou então alguém olhar e começar a rir pelo absurdo da situação????

A versão de adulto, além de nazista, é também machista, com um -salva gatas- na frente. Atrás- afogue as feias. Pode ser que eu esteja errada, mas deve ter sido um homem que bolou este pensamento genial, porque não vi nenhuma versão pra mulher.

A camiseta (T-shirt) é originária dos Estados Unidos, era indumentária do povão, trabalhador, operário, mas foi nos anos 60 que ela se glamourizou e se universalizou. Pra nós hippies, passou a ter uma nova função: revolucionar o sistema careta conservador da época. Era a nossa arma para difundir pensamentos, ideais, utopias, frases que expressavam nossos sentimentos e nossas ações ("leia na minha camisa"- verso de Baby, de Caetano). Também pintávamos camisetas das maneiras mais criativas: imagens pintadas à mão, ou com várias técnicas (por exemplo, aquela em que enrolávamos uma camiseta e amarrávamos com barbantes, mergulhávamos a dita cuja na tinta guarany, depois era só secar e tirar os barbantes, e pronto: uns desenhos lindos, concêntricos, verdadeiras mandalas. Também com cera (batik) e tantas outras técnicas que aprendíamos ou inventávamos.

Trinta anos depois, e me deparo com esta camiseta nazista. Vendendo ali ao ar, livre ao léu.

Uns dizem- que bobagem diana! é uma brincadeira! Não é pra ficar irada deste jeito! Não se deve levar isso tão à sério!

Não acho. Isto é o próprio ôvo da serpente. Vemos o ôvo, branquinho, aparentemente inofensivo, mas dentro dele se esconde o que há de mais perigoso. É como no começo da ascensão de Hitler. Ninguém acreditava que fosse dar no que deu. Debochavam dele. Uns diziam que era um palhaço. Só uns poucos previam o horror que acabou sendo. Hanna Arendt (to lendo a biografia dela, depois vou comentar aqui em outra ocasião) foi uma desses poucos.

E o germe tá solto por aí, vivinho da silva. O neo-nazismo tá forte na França, Alemanha, o fascismo na Espanha, EUA, Inglaterra, e não pensa que aqui no Brasil a gente escapa não. Esta camiseta é um pequeno detalhinho, mas é a tal coisa- o ôvo da serpente. Senão o que é a atitude destes rapazes de classe média espancando empregada, pondo fogo em mendigo, e por aí vai????? e tem mais...

Todo cuidado é pouco.

19 January 2008

Roberto Carlos em Detalhes


Acabei de ler Roberto Carlos em Detalhes, livro "proibido" (pelo próprio) de Paulo Cesar de Araújo. Sensacional. Lê-se sem querer parar. O título é perfeito, pois o Rei é detalhado detalhadamente em detalhes mínimos e íntimos. Não há uma única palavra falando mal do homenageado, pelo contrário, foi feito por alguém que o idolatra, por isso é ainda mais estranho que RC tenha tirado os livros de circulação. Durante 15 anos o autor pesquisou não só sobre o RC, mas também sobre tudo tudo tudo que pudesse ter a ver com ele... tudo, e ainda mais sobre o ambiente musical, fonográfico, televisivo, produção cultural... um verdadeiro documentário focando principalmente os anos 50 a 80!! O livro chegou a ser lançado, mas rapidamente tirado de circulação, com a questão indo a juízo, vencendo o RC. Rapidamente foi lançado na internet, existe o exemplar virtual, mas... quem vai ler 500 páginas assim? bom é folhear, ver as fotos, sentir o peso (um tijolão!) do exemplar nas mãos. Livro é livro, insubstituível.

Uns dizem que é porque ele relata o episódio do acidente, mas não acho. Não seria segredo pra ninguém mais esta tragédia. E o autor conta o caso com muita sensibilidade.

Foi no feriado do santo padroeiro de Cachoeiro, a cidade estava em festa, desfiles, músicas, bandeiras, discursos...Zunga (seu apelido de infância) e mais a Fifinha, uma amiguinha, se juntaram à multidão pra ver um desfile escolar. Uma velha locomotiva foi fazer uma manobra perto de onde estavam as duas crianças, uma professora se assustou e empurrou a menina pra calçada, Zunga se assustou com o movimento brusco daquela pessoa desconhecida, e caiu no trilho. Nisso a locomotiva foi chegando e avançou por cima da perna dele. Gritaria, corre-corre, ele ali deitado, se esvaindo em sangue. Nem deu tempo de esperar ambulância, um rapaz pegou o paletó de linho branco e deu um garrote na perna da criança. "Até hoje me lembro do sangue empapando aquele paletó. E só então percebi a extensão do meu desastre", diz Roberto, que desmaiou logo depois que foi socorrido. A professora, querendo evitar uma tragédia com duas crianças, provocou um acidente com uma.

Desde criança ele já mostra dotes musicais, se apresentando em festinhas, clubes e na radio local. Ele vem pro Rio pra tentar a sorte, e a família resolve depois se juntar a ele, na casa de uma tia em Niterói. Depois se mudam pro Lins, onde entra num curso de datilografia e conheceu Otávio Terceiro, que trabalhava com um produtor de TV, que chama o RC pra cantar no programa Teletur, segundas à noite na TV Tupi. Apesar de já ter se apresentado na TV, esta foi a sua estréia profissional, aos desesseis anos de idade, em 1957. Ganhou 200 cruzeiros velhos e deu tudo à mãe, pois era muito dinheiro pra ele administrar!!

É tudo contado nos mínimos detalhes, e vira um filme diante dos olhos, e coisas que só ouvi falar, mas não sabia como tinha sido, e nem havia onde procurar informação a respeito: por exemplo, o movimento musical que nasceu na Tijuca, composto de gente que depois ficou famosa. Quem os apresentou foi Arlênio Lívio, seu amigo do Colégio Ultra (onde cursavam o Artigo 91- uma espécie de supletivo, ginásio em 6 meses), e passou a frequentar o Bar Divino, na Rua do Matoso, onde conheceu Jorge Ben (do Rio Comprido), os rapazes dos Fevers (do Méier), outros do Renato e seus Blue Caps (da Piedade), Sebastião (depois Tim) Maia, que liderava um quarteto vocal chamado The Sputniks (o satélite russo que tinha sido lançado, que inspirou tb o nome do filme brasileiro O Homem do Sputnik), e os ensaios eram na casa do pai do Tim, com direito a lanchinhos nos intervalos, quando seu Altivo Maia os brindavam com rabanadas feitas por ele mesmo.

Da primeira vez que RC ouviu a batida do Tim tocando Long Tall Sally, ele confessa: "ouvi atentamente, fui pra casa e fiquei tocando a noite inteira. Aquilo mudou a minha forma de tocar (Tim vinha da escola do Little Richard, James Brown, artistas da Motown gravadora americana. Soul music). RC começou então a fazer parte do The Sputniks, mas curiosamente, quem era o crooner principal era um outro integrante, porque nem o Roberto nem o Tim tinham uma pronúncia muito boa no inglês. Mas RC não ficou muito tempo no grupo, o suficiente pra conseguir se destacar e se apresentar sozinho no programa na TV Tupi Clube do Rock, de Carlos Imperial terças a a uma da tarde.

E o começo da amizade com Erasmo foi quando, numa tarde de abril de 58, RC precisou da letra de Hound Dog, sucesso de Elvis Presley, e este mesmo Arlênio conhecia um cara que "sabia tudo sobre o Elvis"- era o Erasmo (Esteves, ainda não era Carlos)- e fez o contato. A parceria só viria a se concretizar 5 anos depois, mas foi aí que eles selaram sua amizade que dura até hoje (a parceria tb).

João Gilberto foi uma verdadeira revelação pra RC: o fraseado sincopado do cantor e os incríveis jogos ritmicos entre voz e violão deixaram-no encantado. "Nunca tinha ouvido nada parecido antes. A forma de ele cantar, a colocação da voz, a emissão, a afinação, a divisão, tudo ali era perfeito. Quando ouvi João Gilberto, eu fiquei parado, porque aquilo era algo simplesmente maravilhoso". Este acontecimento deu a RC mais ânimo pra continuar a tentar a carreira artística. Pois com sua voz pequena, porém afinada e bem colocada, RC poderia também ser um astro de música popular. Então foi ser crooner na Boite Plaza, tendo como maior influência o João Gilberto, com repertório de bossa-nova e samba canção. Quem o acompanhava ora era o grupo do guitarrista Bola Sete, ora o grupo do tecladista Zé Maria, ora pelo conjunto do saxofonista Barriquinha, cujo pianista era o João Donato, que aconselhava RC a balançar mais: "tá legal, afinadinho, mas tem que ter mais balanço". E uma noite, aconteceu o encontro entre o criador e a criatura. RC ficou nervosíssimo, e João fala ao autor: "lembro quando entrei na boate, Roberto estava cantando Brigas Nunca Mais. Achei o menino muito musical".

Depois de uma verdadeira peregrinação às gravadoras, conseguiu finalmente na Polydor, um compacto simples estilo bossanovista. Foi o primeiro de sua geração a gravar um disco, e o primeiro a registrar a influência de João Gilberto. Não fez o menor sucesso, e finalmente chegou à conclusão de que imitar JG era uma furada, nunca ia chegar ao sucesso neste caminho. João era único. Continuando a cantar nas boates, rádios e circos, estes às vezes de lona rasgada, dias de chuva, e quase ninguém na platéia. Gravou uns outros compactos, mudou de gravadora, o rock começou a invadir o planeta, apareceram The Beatles. Numa noite no ônibus, vindos de uma festa em Copacabana, Erasmo mostrou a ele uma versão que estava fazendo pra Splish Splash, cantada por Bobby Darin, e RC adorou, gravou e pronto!- foi o seu primeiro grande sucesso, mas ainda não em âmbito nacional. Esta gravação foi importante porque vinha com uma sonoridade nova, arranjos modernos ao estilo Beatles, sem aqueles inevitáveis e datados dos anos 50 solos de sax característicos daquele período. É verdade que em músicas posteriores ele chegou a usar o solo de sax, mas esta gravação de Splish Splash foi um marco, super-antenado com a modernidade.

Mas a turma começou a sacar que ficar fazendo versões de músicas estrangeiras não ia levar a lugar nenhum, o negócio era compor suas próprias canções. Roberto Carlos considera o Parei na Contramão sua "moedinha nº 1", sua primeira parceria com Erasmo Carlos. Foi um sucesso, mas ainda assim só atingiu a garotada interessada em rock, mas não havia dúvida: o caminho era por aí. Na sequência, o retumbante sucesso, gravado por Ronnie Cord- Rua Augusta, com temática de carros, garotas e velocidade. Composta por ninguém mais ninguém menos que o pai do cantor, Hervé Cordovil, maestro e arranjador. Ora, o autor não era um jovem roqueiro, mas um veterano da música popular: foi parceiro de Noel e Lamartine Babo entre outros. Se aquele sucesso foi composto por um veterano de samba, por que eles, jovens, com o rítmo na veia, não poderiam fazer também?

Começaram a surgir cantores-compositores: Demétrius, Baby Santiago, Getúlio Cortes (um dos compositores que mais fizeram música pro Roberto). Em 1964, Roberto e Erasmo compuseram É Proibido Fumar, clássico do rock brasileiro. A partir daí, foi a escalada para o sucesso: contratado da CBS, com Edy Silva na divulgação, não parou mais.

Paralelamente à história do Rei, o livro analisa com detalhes a hístoria do rádio e o comêço da TV, a época dos festivais, a briga truculenta pela audiência, é pra se ler sem conseguir parar até chegar no final. Por exemplo, uma passagem importante, que pouca gente tem idéia, é sobre a "guerra" que se travou entre a turma da recém-formada sigla MPB contra o pessoal do Iê-Iê-Iê (me lembro bem desta guerra, eu era fã do RC e estava na Faculdade de Arquitetura, época de passeatas estudantis, assembléias da UNE). Aliás, foi graças ao Roberto Carlos que se institucionalizou esta sigla. Foi por causa do seu enorme sucesso que o ambiente musical popular de então se armou e se defendeu atrás desta sigla, que tinha um caráter marcadamente nacionalista, surgindo como uma bandeira de luta contra um outro tipo de música popular "não-brasileira", confundindo o rock nacional com alienação política, entreguismo cultural. Estava-se em plena ditadura militar. Realizavam-se reuniões onde pregavam-se idéias de arte nacional-popular, cultivadas desde antes do golpe militar desde 1961 no CPC (Centro Popular de Cultura), ligado à UNE (União Nacional dos Estudantes). O CPC reunia artistas de teatro, música, cinema, literatura, artes plásticas, e seu projeto era a construção de uma cultura nacional, popular e democrática, por meio da conscientização das classes populares. Partia em defesa de nossas tradições musicais contra a internacional americanização. A Jovem Guarda sofreu um patrulhamento e uma dura perseguição, como se fosse um terrível inimigo.

No meio disso tudo, aconteceu o I Festival da TV Excelsior, Ellis passou a ser a maior estrela da música brasileira com o sucesso do seu programa O Fino da Bossa na TV Record e o seu LP Dois na Bossa (com Jair Rodrigues) em 65. Ellis viaja no fim do ano e quando voltou, encontrou o cenário inteiramente transformado. Radicalmente!! 180 graus!!: Quero Que Vá Tudo Pro Inferno estourava estrondoso o dia inteiro em todas as rádios. O mega-sucesso nacional de Roberto e Erasmo, atingindo os brasileiros de norte a sul, de todas as faixas etárias, de todos os estilos musicais!!!! O programa da Jovem Guarda (do Roberto) estava liderando as pesquisas de audiência, o que fazer? Formou-se um movimento e uma marcação ferrenha contra. Foi afixado uma proclamação nos bastidores do Teatro Record, onde lia-se o seguinte texto: "Atenção pessoal: o Fino não pode cair. De sua sobrevivência depende a sobrevivência da própria música moderna brasileira. Esqueçam quaisquer rusgas pessoais, ponham de lado todas as vaidades e unam-se todos contra o inimigo comum: o Iê-Iê-Iê". A briga foi feia, o clima era de tensão, e o assunto gerava polêmica na rua, nas universidades, dentro e fora do meio musical. Naquela época, era que nem futebol: se ce não torcesse pelo mesmo time, o pau comia.

Outras informações interessantes: uma das mais importantes referências musicais de Roberto Carlos foi a cantora e compositora Dolores Duran, que era atração no Little Club no Beco das Garrafas, e ele no seu primeiro emprego de crooner na Boate Plaza. E a amizade com Claudete Soares, que defendia RC e gravou Como É Grande O Meu Amor Por Você. E Sylvinha Teles (tem um bom trecho falando sobre ela), que foi a primeira pessoa da MPB a cantar e gravar Roberto Carlos nos anos 50, enfrentando uma vaia estrondosa no Teatro Paramount.

Um ótimo capítulo também é sobre a imagem de rebelde que ele no início passou: não queria nada com casamento, mandava tudo pro inferno, infringia leis de trânsito, vai fumar mesmo sendo proibido, fala sobre a garota independente e liberada em É Papo Firme e por aí vai. Só o fato de usar cabelo comprido era tido como uma afronta à ordem, à família e à moral vigentes, e nisso o RC foi dos primeiros. Também foi de muita audácia ter se casado com Nice, uma mulher mais velha, desquitada e mãe de uma filha, sem se importar com os que diziam que isto iria arruinar a sua popularidade com as fãs. E também ficar 11 anos sem casar com a Myriam Rios.

Os capítulos são estes, na ordem do livro:
1. Força Estranha no Ar (RC e o rádio)
2 Little Darling (RC e a turma do suburbio)
3. Fora do tom (RC e a Bossa Nova)
4. Daqui pra frente tudo vai ser diferente (RC e o rock)
5. Jovens tardes de domingo (RC e a televisão)
6. Parei na Contramão (RC e a MPB)
7. O mais certo das horas incertas (RC e Erasmo Carlos)
8. Quando eu estou aqui (RC e o palco)
9. Ilegal, imoral ou engorda (RC e a transgressão)
10. Vou cavalgar por toda a noite (RC e o sexo)
11. Todos estão surdos (RC e a política)
12. Como vai você (RC e os compositores)
13. Amante à moda antiga (RC e o amor)
14. Uma luz lá no alto (RC e a fé)
15. Faço no tempo soar minha sílaba (RC e o sucesso)

E pra encerrar, a definição de Roberto Carlos dado por Jorge Mautner: "é o poeta popular das cidades do Brasil. Provinciano e puro, com ingenuidade de caiçara e urbano, fatalista e arisco, doce e nostálgico, rebelde e submisso, puritano e sexy, ídolo e cidadão humilde, eis o grande rei, situado exatamente na fronteira do permitido e do não permitido".

16 January 2008

medo de tempestade


Sempre que vem uma tempestade lá no horizonte se achegando, no calor do verão, fico apreensiva. Antigamente era muito mais. Quase não fico agora, mas ainda fico um pouco. É dos raios que não gosto, apesar de ficar fascinada com sua beleza. São tão lindos, tão imprevisíveis, tão radicais, tão violentos, tão assusstadores. Não é raro eu ler sobre gente morrendo de raio caindo, e eu me impressionando com o absurdo de uma morte assim. Assim como ser pegado de surpresa num barco no meio do mar. Ou num campo aberto. Ou numa rua afastada sem ter onde se abrigar. Sem ter pra onde correr. Um dos cenários de meus pesadelos. Conheci um rapaz que morreu no alto de uma escada, consertando o telhado de sua casa. Dizem que ficou que nem carvão. Mas tem casos loucos como aquele que é contado no livro Alucinações Musicais, de Oliver Sacks: um cara virou um pianista virtuosíssimo depois de ser atravessado por um raio, sem nunca ter estudado ou se interessado pelo piano antes!!!! Como saber o que nos espera, se nos arriscarmos a por esta experiência: a morte ou o estrelato??

Minha mãe foi uma camponesa russa morando nos States até os 18 anos, e ela respeitava estes deuses. Mais que respeitava: morria de medo. Quando eu era pequena e vinha uma tempestade durante a noite, eu e Lili minha irmã do meio, éramos acordadas e a família ia toda pra sala. Púnhamos os nossos congas (nome de uma marca de tênis da época) que tinham sola de borracha (ela dizia que isolava a eletricidade), e sentíamos tão seguros ali na sala abraçados aos nossos pais.

Talvez daí tenha nascido o meu medo. Eu tinha muito medo. Ficava muito tensa. Fechar janelas, que a faísca poderia atravessar a sala em direção de um metal ou espelho. Esconder metais e espelhos. Jamais tomar banho numa hora destas (a água atrai). Nem pensar em pegar numa tesoura ou faca. E morávamos num prédio na Rua Paissandu, no Flamengo, numa área urbana!!!!

E na Lagoa das Lontras, nosso sítio em Miguel Pereira? a casa ficava no mais alto morro, e dalí descorria-se uma vista esplêndida de 360 graus. Quando ouvíamos de longe aquela trovoada, bem ao longe ainda, pronto! acabava-se a alegria e nos preparávamos para o pior. Quando passei a beber, era o sinal pra eu correr pra venda e comprar uma garrafa de cachaça e voltar correndo. Às vezes, ficava ali mesmo na venda bebendo, achava mais seguro do que lá encima nas nuvens.

Ali, quem não tinha medo de raio passava a ter, porque ficávamos dentro da nuvem, tão pertinho do apocalipse. Aconteceu com vários amigos meus. Os estalos eram terrificantes, e raio e trovão eram quase simultâneos, clarão e estrondo medonhos encima da gente. Um horror, mas belo visto de longe. Força da natureza em toda sua grandeza.

Colocar um pára-raio encima da casa? havia controvérsias à respeito. Uns diziam que protegia, outros que era pior, assim atraía o raio pra casa direto. Bom mesmo era ter um há uns 10 metros afastado. Melhor ainda, ter árvores altas por perto. Bem, árvores altas nós tínhamos, e depois meu pai resolveu por um pára-raio perto da piscina, e não é que caiu um ali, deixando tudo chamuscado em volta, e uma marca em linha reta atravessando a dita cuja!!!! Ainda bem que não estávamos lá neste dia pra presenciar.

E as árvores ao lado da casa? as casuarinas que cantavam ao vento? volta e meia uma era atingida, virava carvão e morria, tendo que ser cortada.

Mas tudo isso ficou pra trás no tempo, são névoas de um passado feliz. Lagoa das Lontras não existe mais, não fico mais de porre por causa de uma tempestade, nem por causa de mais nada. Nem visto tênis pra isolar faísca. Posso agora ficar meio apreensiva, vou prum lugar seguro, mas tá tudo controlado. O que me fez escrever sobre isto tudo é outra história: tenho um gato que MOOOOOOOORRRRRRRE de medo de tempestade. Ismael. É um nome forte pra gato, mas na hora da tempestade ele vira um gatinho... Quando ele nasceu, eu já havia dominado o meu medo. Ou será que ele sentiu lá no fundo de mim o pavor em estado bruto que eu tentava domar? sei lá... só sei que quando rola o primeiro trovão muuuuuito longe ainda (ele ouve antes de mim!!!! fico sabendo que vem coisa por ele), ele começa a soltar um uivo triste, repetidamente, e se estiver dentro de casa, corre pra debaixo da mesa, onde tem uma viga e fica lá imóvel, chorando, de cabeça baixa. Rezando pro Grande Tigre talvez. E de lá não sai, chorando o tempo todo. Quando está lá fora, vai pra dentro de um caixote, ou atrás da máquina de lavar, algum lugar protegido e chora chora chora. Morro de pena, ponho ele no colo, e canto sua música pra ele. Cada gato aqui tem uma música. A dele é a melodia de Edelweiss do filme Noviça Rebelde, com uma letra minha que diz (eles adoram quando ouvem seu próprio nome):
Ismael Ismael
é um gato valente
Ismael Ismael
é meu gatinho fiel

E assim bicho e gente se consola.

12 January 2008

ache o bicho


Adoro fotografar, como já falei aqui. Seria a minha segunda profissão, se talvez nos anos 70 tivesse acesso. Mas agora sou amadora, amadora com uma intensidade de amar medonha!!!

Ninguém que chega aqui em casa escapa. Click click click. Os pores-de-sol. Os bichos. As plantas. Click click click. Depois da digital, é um xuáááá. Tira-se uma porrada, transfere, deleta as piores (às vezes estas até ficam, por preguiça, indecisão na escolha ou estética mesmo). Foto ajuda a gente se lembrar. É eternizar um segundo.

A minha maquininha é uma maquinona, aproveitei uma viagem pra ver a família em New Jersey e comprei, custou baratinho. É antigona, pesadona mas pro que eu queria, ela sempre me serviu: tirar foto-lembranças e mandar pela internet. Tira boas fotos. Agora tá começando a dar problema, não fixa certas opções que faço, o monitor apaga voluntariosamente, mas por enquanto tá dando pro gasto.

Neste exercício de jogar as piores fora, me deparo às vezes com umas que olho, olho, olho e me pergunto_ por que tirei esta foto? depois vou achar o porquê, escondidinho num canto, ou no meio de uma paisagem.

A brincadeira é achar o bicho. Que nem aquela série de livros "Ache o Wally". Wally era um rapaz gaiato de camiseta de manga comprida listada, óculos e touca vermelha na cabeça (era isso mesmo?). Muito bem desenhado, com detalhes mínimos, o autor escondia o Wally, e às vezes demorava pra achar.

Todos podem participar. Todas as idades e gêneros. Todas as classes sociais. É uma brincadeira democrática, e nem precisa concorrer, assinar, telefonar... achou, ganhou. Ganhou o quê? ganhou ué...

Primeiramente, a foto acima que abre o blog. Ache o urubu. Procure bem. É difícil, ce tem que saber o visual da ave bem, senão dança. E pior: tá.... Não, não vou dar dica.

Achou? agora a de baixo: ache o mico.


A próxima: ache o tucano (esta também é difícil, mas não desista. cê pode ganhar!!!)


E finalmente, uma colher de chá pra relaxar: ache a gatinha.


Tem mais, mas acho que já tá de bom tamanho. Passatempo prum fim de semana de intenso calor e bafo. Eu no ar.