30 August 2006

respondendo ao Lucas


Lucas, estou curiosíssima em saber como cê tomou conhecimento da Equipe Mercado. Você com 22 anos!!! Aquilo foi há 37 anos atrás, cê ainda estava loooonge de nascer... Como foi???? E mais curiosa ainda: a entrevista que o Nelio fez na Senhor F!!!! Olha, até músicos antenados com o presente e passado não conhecem, e quando lhes mostro as gravações e conto detalhes, se amarram!!!

Um reconhecimento assim que nem o seu deixa a gente muuuuuito feliz... Mais ainda: sabe uma gota que cai num lago e faz um ondular que vai crescendo, crescendo até percorrer toda a sua superfície? pois é, é assim que me sinto quando acontece isso: a gente teve uma vida curta, de 69 a 71, não tivemos quase registro nenhum, não temos um clipezinho, nenhum minuto filmado de show, mas foi tudo muito forte, a época era muito especial politicamente, culturalmente, filosoficamente, esteticamente. Mas voltando pra gota que cai no lago: foi como uma gota, mas provocou um marulhar.... um marulhar que continua vibrando na superfície do Planeta Música até hoje, a Equipe Mercado e tudo que ela representa continua viva, com reconhecimentos como o seu!!! sentimos que não foi em vão, algo restou daquilo tudo!!!

Várias perguntas suas foram respondidas no post "respondendo": sobre as gravações e fotos da EM, a gravação do Cérebro Eletrônico que não houve porque ninguém gravava ao vivo, não havia nem walkman... e sobre o desinteresse das gravadoras em trabalhar com música não-comercial e sobre não haver gravadoras alternativas na época, e nem computador, programas de gravação caseira. Agora tá uma beleza, mas na época tudo era difícil, tudo era experiência, mas delicioso porque a criatividade rolava solta (queríamos fazer uma coisa, mas como??? então inventávamos..) em tudo que fazíamos, na música, na comida, nas roupas, na decoração caseira, nas relações afetivas, nos costumes, enfim... queríamos mudar o mundo, né?

Ainda respondi à sua pergunta sobre as gravações do Bando da Lua no próprio post. Não houve propriamente uma data que o grupo acabou, foi acontecendo aos poucos, primeiro Ivo Astolfi saiu e foi substituído pelo genial Garoto (1940), depois nos Estados Unidos o Bando passou a ser mais acompanhante da Carmen do que continuar seguindo com seu trabalho original e próprio e meu pai (Helio) resolveu cair fora em 42-43, junto com o Vadeco, e foi assim. O Ruy Castro conta esses detalhes e milhares de outros no seu excelente livro Carmen, lançado recentemente. É uma leitura obrigatória pra quem se interessa em saber sobre o Bando, a Carmen e sobre toda essa Época de Ouro da nossa música. Imperdível.

Mande-me seu email se quiser receber mais detalhes sobre esses assuntos, gravações, fotos...

Ah, e obrigada pela dica dos vídeos do Monk. Eu tenho uns maravilhosos: Straight no Chaser e um da coleção da Masters of American Music, fora outras tomadas que gravei da TV.

3 comments:

Anonymous said...

Olá Diana.

Comecei a me interessar por rock clássico e psicodelias há 4 anos atrás. Fui conhecendo bandas gringas de rock dos anos 60 como Doors e The Who através de minha irmã mais velha; Mutantes e Janis Joplin e Hendrix através de amigos. A internet desempenhou um papel fundamental pois através dela que conheci o termo rock psicodélico e toda a história da contra-cultura, de experimentalismos, da cena de São Francisco e de todos os Estados Unidos entre os anos de 66 e 69. Já passei HORAS e HORAS lendo sobre bandas de garagem ou que faziam o som classificado como "psicodélico", hippies, projeção de slides e óleo colorido, posters lisérgicos, etc...

Aquela arte experimental se apropriando da música, das roupas, da estética, dos pôsteres de show (com aquelas formas loucas de letras que aprendi a fazer) . Tive um baque ao conhecer que no Brasil também teve o experimentalismo no rock e comecei a pesquisar sobre o que foi feito no Brasil através da tropicália, ao saber que os Mutantes, ainda um trio, participara do movimento ao se envolver com a bela Domingo no Parque, do Gil. Pesquisei na internet sobre o movimento e achei tudo muito espetacular, grandioso, ousado, autêntico, musical, teatral, poético... percebi que o pessoal da tropicália foi bastante influenciado pelo rock: Alegria, Alegria tem uma guitarra com fuzz, assim como a Domingo no Parque. órgãos com timbre parecido com os velhos "Farfisa" também permeavam os discos das bandas. Fiquei conhecendo o lado experimental do pessoal do Gil, Cae, Gal (ousadíssima), Tom Zé, além do "lado B" da tropicália: O Bando, Os Brazões, Liverpool, Som Imaginário, Ronnie Von (quem diria...); comecei a entender o tal do negócio de banda de rock acompanhar artistas conhecidos, como A Bolha acompanhando Gal Costa, ou os Beat Boys acompanhando Caetano... até que um dia leio que algumas pessoas organizaram uma coletânea só com compactos e faixas de bandas que apareceram e desapareceram do Brasil sem deixar maiores rastros.

É a chamada "Brazilian Nuggets", coletânea com 5 volumes, que pode ser encontrada em programas de compartilhamento de música. É, Diana. Pessoas caridosíssimas e preocupadas com a cultura brasileira tiveram um apoio da tecnologia e converteram todas estas raridades brasileiras no formato MP3 para a internet. Há várias bandas que você se sentirá saudosa a saber que as músicas estão aí, à um click. Dentro desta coletânea, havia 2 músicas de uma banda de nome curioso: "Equipe Mercado". "Mary K no Esgoto das Maravilhas (é este o nome?) e o nome mais legal que já ví para uma música: Periscópio de Mil Novescentos e QUarenta e Quinze". Gostei tanto da banda que corri atrás de uma informação na internet. Acabei caindo no site do Fernando Rosa, o senhorf.com. A brevíssima biografia me deixou imensamente curioso. Uma banda que participou de um espetáculo com bety Faria e Leila Diniz? Mostrei o som para meus amigos e eles piraram! Um som diferente, letras em inglês e português, uma sonoridade peculiar...

Achei na internet sua entrevista no site senhorf.com. Minha imaginação é extremamente "fértil", tenho uma incrível abstração. Quando lí seu relato, conseguia imaginar cada palavra que você dizia, sobre as dificuldades, sobre a estranheza que o som e o show causavam nos outros. Sobre a provocação de vocês. E aquilo de vocês levarem panelas e utensílios para dar ao público para fazer um som com vocês? A coisa de ser uma banda performática... imaginava tudo isso acontecendo nam inha frente. Fiquei embasbacado com a atitude de vocês, transcenderam a caretice, foram ousados, novos. Li sua entrevista umas 15 vezes (hj não tenho mais a cópia e na internet e é impossível achá-la, para meu desgrado) arrepiado e admirado com a atitude de vocês. Antecederam e transcenderam diversas bandas que estavam por vir ou que já existiam: de Mutantes, Frank Zappa à Secos e Molhados, que estouraria anos depois. Alguns meses e vieram mais volumes desta coletânea na internet. Nestes, conheci a belíssima Campos de Arroz e a engraçadíssima Rock, além da música que considero a mais bela de vocês: Marina Belair. Conheci ela há pouco tempo e, novamente, pesquisei sobre a Equipe Mercado para ver se achava algum site novo.

Até que cheguei à outros dois sites: o primeiro é o http://www.ronaldowerneck.com.br/Festival%2069-70.htm e o segundo foi seu Blog. Disse para meus amigos o quão importante vocês foram, repeti seus relatos e todos nós concordamos unânimes: nascemos algumas décadas pra frente. Este comportamento ousado me cativou de tal maneira que me identifiquei muito com esta característica de vocês. É engraçado a força das (suas)palavras: além do escasso material fonográfico e de toda a informação estar na internet -um meio não muito confiável- senti na pele cada emoção descrita por você e concluí: vocês foram a banda que eu gostaria de ter feito parte, ou pelo menos acompanhado nos shows. Eu e meus amigos estamos ensaiando algumas músicas e farei questão de incluir alguma da Equipe Mercado. Fechando, só para constar: pode-se encontrar discos inteiros da internet, como o dos Beat Boys, do Bando, Liverpool, os Brazões (reeditado em CD atualmente, acredita?), Som Imaginário, Módulo Mil, A tribo, Os Lobos, Os Carbonos, Novos baianos, o primeiro disco do Zé Ramalho com o Lula Côrtes (trabalho que ele não reconhece em seu site), enfim... a boa música se espalhou novamente e está tudo aí, graças ao descaso das gravadoras.

Gostaria que você falasse da sua fase pós-Equipe, que me é desconhecidíssima também. Meu e-mail para contato é lucas.souza@uol.com.br

Um grande abraço, lhe desejo muita força e musicalidade em sua vida. Espero retorno.

Lucas

Anonymous said...

Ah, lembro de ter lido uma frase que me emocionou demais ao ler toda sua entrevista no Senhor F. Não sei se são com essas palavras, mas: "A Equipe Mercado estava à frente, mas tão á frente de seu tempo, que quando acabou ninguém percebeu".

Anonymous said...

Oi Diana.

Você recebeu minha resposta?

Abraços.

Lucas