24 August 2006

frio e chuva


Como o frio é bom. Como a chuva é linda. Como eu gosto das duas, separadas ou juntas. Depois de um verão -ops! verão não, um inverno de 35º- de repente vem uma pequena frente fria pequenina de presente pra mim, e fico tão feliz, tão grata, tão inspirada, tão talentosa!!!!

Mas não posso sair falando isso pra qualquer um, em qualquer lugar, a qualquer hora, porque gostar de frio e chuva aqui no Rio é inconfessável. Não se pode falar isso impunemente. As pessoas olham como se você fosse um ET, e é assim que me sinto mesmo: gosto de coisas que ninguém gosta. Bem, ninguém não, mas... a grande maioria carioca.

Gosto de pôr casaco. Gosto de ficar embaixo das cobertas. Gosto de andar sem pingar, sentar sem estar com costas e coxas grudentas mesmo na imobilidade total, encontrar as pessoas, beijar e abraçar sem estar inteiramente empapada de suor, escorregando pelas faces, mãos, testa, pescoço, membros. Gosto de pôr botas. Gosto de fazer um bolo e chamar os amigos pra tomar chá. Gosto de comer muito. Gosto da penumbra e o mistério que a chuva traz, nuvens no céu, tempo de pensar, introverter. Mas isso é tão raro, são dias no ano que tenho que aproveitar e agradecer.

Gosto de olhar a chuva cair desde o horizonte, nas casas mais perto, no beiral do meu telhado formando uma cortina de cristais líquidos. As poças saltitantes na calçada, os veios de rios correndo pras sarjetas, as plantas e os troncos das árvores escuras, brilhantes, de cores vivas e berrantes. Vivo, tudo vivo. Parece que fico mais perto de mim. O som de chuva é música, volta e meia gravo o som da chuva e escrevo no K7- acontecimento fenomenal. E seu cheiro? esvazio meus pulmões e, numa única aspiração profunda e demorada, encho eles de novo sentindo esse cheiro tão forte de terra molhada, e que me arrepia o pelo de tão inebriante.

Chuva sem frio também é bom, que sempre refresca um pouco o bafo veranosufocante.

Frio sem chuva também é bom, com aquele sol gostoso no céu azul que aquece mas não derrete, deformando nossa cara e criando miragens desérticas no asfalto mole. Não. O sol de inverno é indispensável, corremos pra ele pra sentir como é bom estar vivo. E como é bom estar vivo!!!! é tão rápido, num instante passa, tanta coisa pra fazer, tanta coisa pra ser, tanta coisa pra ver... e tão pouco tempo para estar, só estar, nada mais que estar.

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