30 September 2007

a Arvore


Quando conheci o Smetak no curso que ele deu em 76 no MAM RJ, ele havia trazido váríos instrumentos seus, e fez apenas um aqui no Rio: a Árvore, réplica imensa desta pequena da foto, que ficou em Salvador. Quando acabou o curso, ele me deu o instrumento, que aliás, está perdeu sua cabaça (60 a 70 cm de diâmetro), comida pelas traças, e estou procurando outra pelo Brasil todo, mas até agora, não encontrei ainda deste tamanhão (quem souber, me avise). Adoro este instrumento, Pode-se tocá-lo percutindo, ou friccionando suas cordas, que são de piano. A base do meu é um chanco enorme de um tronco de uma árvore, é tão pesado, que precisa de 6 pessoas pra carregar, mesmo assim é difícil, porque não tem lugar pra segurar direito por causa dos ferros.

Mas vamos ao livro "Simbologia dos Instrumentos", de Smetak: "Na beirinha, esta árvore foi pintada de amarelo, cor da intuição. Verde: cor do mental concreto. Embaixo, o tronco de madeira é verde, com a cavação vermelha.

Este instrumento leva a nossa subordinação pessoal para leis superiores à nossa percepção da razão. Introduz o conceito de Caos, mas num sentido de ordem superior, fazendo a ligação imediata e imprevista, porém benéfica e justa.

Na África, os indígenas têm um sistema de instrumentos naturais para transmitir suas mensagens de uma aldeia para aldeia, no qual é usado um funil. Cavam um buraco dentro da terra, e colocam uma corda que atravessa no ar eeste funil; põem a corda em vibração e, tocando esta corda, o som é levado para grandes distâncias. Trata-se de um código que alguém lê, ouve e transmite, uma espécie de telégrafo.

Ao sentarmos embaixo de uma árvore, podemos ficar inspirados, podemos perceber e sentir coisas muito ricas da natureza, a geometrização da forma da árvore...

(...)Mas, por que me contam isso, perguntará o leitor? Direi: por ser aquilo que chamam de música, muito simples, simples demais, porque quase incompreensível para nós. Vem do reino das fadas e das lendas, que para alguns é a realidade. Tudo tem vida, tudo toma parte como uma gota no grande oceano da Vida-Una. Tudo é respeitado, da folha caída de uma árvore até a pedrinha no riacho; há tantas que não se vê uma solitária, separada das outras. Nada é mais, nada é absolutamente maior ou menor- mas o homem tem a maior possibilidade de todos os seres vivos, ele é o ser regente. Ele até tem o dever de falar com os aparentemente menores, insignificantes, para lhes ensinar, ensinando sempre. A natureza, manifestada ou não, em volta, está angustiosa para saber; ela também quer evoluir, libertar-se, para continuar a sua evolução infinita. Se um instrumento for composto de partículas de todos os reinos da natureza, o homem, consciente de tudo isso, se faz de Guru, mestre e regente. Ele se identifica com todos os seres, digo, com todos esses irmãos menores que se acham quase como perdidos. Ele se une a todos.

E num "raga" incompreensível, ele conta a história de milênios, milésios ou "mil-asianas". Daí vem a magia, porque houve homens conhecedores das forças da natureza para manobrá-las. Ele, o homem, nos cantou a terra, esta terra maravilhosa, a bola dos deuses, viajando há eternidades no éter azul. Ele representou o microcosmo dentro de um "raga"com toda a natureza em volta. O estado de consciência no qual se encontrava, o oriental o chamava de "Avatara" (ave-asas, tara-transpassar). Avatarizando-se nos reinos inferiores, e mais ainda, nos reinos superiores. Chamamos isso de inspiração, mas não sabemos de onde vem, e poucos sabem para onde vai... O instrumento torna-se um grande cetro; e ele era um Rei... e agora um mendigo.

Compreendemos agora a citação do poeta Maiakowski: "Hoje tocarei flauta na minha própria coluna vertebral". Este autor moderno parece a reminiscência de um velho mago tibetano, tocando uma escala musical num fêmur humano, acompanhando o seu próprio corpo defunto para a cova, porque ninguém quis assistí-lo ou também porque não precisava de ninguém. Maiakowski= Maya cova= túmulo da ilusão. Aquele que venceu a mnorte... ou pela segunda veza nascido e flautando sempre..."

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