13 September 2007

os Choris


Foto tirada na exposição SMETAK IMPREVISTO, ver post homônimo do dia primeiro de setembro.

Os Chorís são uma família de instrumentos semelhantes na aparência, mas diferentes no som e na simbologia. Esta foto não ficou boa, tá tudo meio tremido, mas coloquei pra dar uma idéia de como estão bonitos assim na exposição Smetak Imprevisto, penduradinhos na parede e com esta iluminação mística e solene. Na frente dos Chorís está o instrumento Baixo Mono, que consiste em uma "tábua comprida, com uma corda de piano, de registro grave. A tábua repousa sobre dois tubos de isopor, perfazendo a função de caixas acústicas. Produz um som relativamente muito longo. Com vários instrumentos deste sistema, podem ser produzidos efeitos extraordinários". E continuemos no livro de Smetak A Simbologia dos Instrumentos:

"Os Chorís existiram primeiro com a cabaça inferior, havia só uma casca de côco, uma cabaça e um pau de vassoura (O Mundo). Eu assumi, assim, a visão do nosso globo terrestre como se este fosse um ôvo, reproduzido no reino vegetal como cabaça, com uma forma ovóide. Então a primeira percepção que temos é a de que tudo isto está dentro de um campo de vibração. Mais tarde coloquei a cabaça de cima como concha acústica superior.

Quanto ao nome Chorí, nem chora, nem ri. Ele é equilibrado. Tem um som pequeno, mas muito rico de séries harmônicas, que repercutem lá em cima da cabaça. Sai às vezes um soluço maravilhoso. Tem pequenos fenômenos sonoros que outros instrumentos não possuem. É um instrumento colocado dentro de uma concha acústica (mesmo processo que nos teatros gregos), neste caso, um côco dentro de uma cabaça (o peixe entrou no aquário e salvou-se). O côco. vindo do alto, parece repousar no colo da terra, um contando ao outro a sua história.

É bom lembrar aqui o conceito milenar hindu: Fohat e Kundalini, inteligência e força criadora. Ou também outro signo já mencionado: Yin e Yang".

Abaixo tem uma foto tirada do livro, que dá uma idéia melhor dos Chorís. Da esquerda para a direita: Chorí Baixo, Chorí Microtonizado, Chorí Pagode, Chorí Sol e Lua, Chorí viola, Chorí Violino, Chorí Violoncelo, Chorí com Caixa de Ressonância. Feitos em 1968.

E agora, às descrições no livro:

Chorí com Caixa de Ressonância- feita de uma cabaça cortada pela metade, e servindo de concha acústica para a metade de um côco com tampa de pinho. As paredes de fora funcionam para segurar o instrumento nos joelhos.

Chorí Pagode- foi aplicada aqui uma caixa acústica superior, de cabaça. A espiral do som se realizou e se tornou um fator acústico, demonstrando a diferença entre a visão do oriente para o ocidente, a vertical para a horizontal. Possui um registro que permite dois sons diferentes. A diferença entre essas duas sonoridades é feita com um pedacinho de madeira- também chamado de "alma"- que liga e desliga a tampa do fundo, estabelecendo um campo fixo na tampa, embaixo do cavalete. Coloquei uma porção de cabaças, uma em cima da outra, lembrando assim os templos indianos. O Chorí Pagode é afinado em quintas.

Chorí Microtonizado- diferencia-se dos outros chorís pela ausência da cabaça superior, e foi construído sem o registro.

Chorí Sol e Lua- (Gêmeos, astrologicamente). Instrumento com duas caixas acústicas remetendo-nos à história remota da humanidade dos andróginos e, assim, à cosmogênese e antropogênese, ou seja, à divisão da humanidade em macho e fêmea, divisão dos sexos, Adão e Eva. O instrumento é de caráter estereofônico, riquíssimo em reprodução de harmônicos. As leis inerentes a este instrumento foram usadas na arquitetura das naves de catedrais, resultando-se a grande acústica do barroco. Duas cabaças, uma embaixo e outra em cima, Sol e Lua. Mas diferente da Vina que não conhecia ainda. A segunda cabaça é colocada no lugar da voluta que simboliza, geometrizada, a curva do som. Mas deixou de ter uma função sonora, é apenas ornamental e estética. E isso não é pouco, mas poucos o sabem. Este instrumento assemelha-se muito à Vina e, mais tarde, farei um instrumento para ser tocado a pizzicato, colocado nos joelhos como uma cítara, com bordões, mas o braço oco, e colocando neste mais uma cabaça, para o som circular lá dentro, vindo de baixo e dando a volta para cima, para novamente descer e subir no seu itinerário. Simbolicamente, é o signo da balança. Nesse Chorí procurei levar o som até o cavalete; isto foi mais ou menos conseguido e o som deste instrumento é muito bonito, tem uma continuação quase inaudível. O efeito é de grande suavidade. É a lua indo atrás do sol, sem nunca alcançá-lo... Possui cinco cordas e tem a mesma afinação que a "Viola Pomposa", criada por Bach. Este instrumento é muito flexível e não segura bem a afinação, balança muito. Isso justamente da um certo charme ao som.

Quarteto- é o conjunto dos Chorís Baixo, Violino, Violoncelo e Viola. É também feito com cabaças, devido à sua importância como conchas acústicas. O corpor de ressonância é feito da metade de um côco. Os braços, de cabo de vassoura. O Baixo se distigue dos demais instrumentos por se tocado em cima de uma caixa de isopor. A reprodução dos graves é excelente em relação ao pequeno corpo da caixa. Estes quatro instrumentos são a prova de que com poucos recursos podem ser feitos instrumentos baratos, de fácil manuseio. Se alguém quiser construir futuramente um instrumento com cabaças, que plante as sementes e não as jogue fora, que coloque as sementes na terra. As cordas do Quarteto são de violão, os arcos de bambú, e as crinas, de sisal. A sua afinação é em quartas e quintas.

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