07 September 2007

a Vina

A VINA DE FRENTE


A VINA DE COSTAS


Esta é a minha preferida, não só por sua beleza extraordinária, mas pelo que ela significa. Sublime, de frente e de costas (aliás, foi feita para ser tocada de costas para o público). Forte, imponente, profunda, impressionante. Feita de cabaças, metal, madeira, mangueira de plástico, cordão de nylon e ferro, no ano de 1969. Altura: 1.45 m, é um instrumento musical friccionado e percutido.

Selecionei uns trechos do livro de Smetak "A Simbologia dos Instrumentos", em que ele fala sobre ela. Tentei pegar mais os que falavam sobre o instrumento propriamente dito, mas foi difícil porque a doutrina (Eubiose), Smetak e os instrumentos são uma coisa só. Aqui estão:

"E renasce das plagas do extremo ocidente, no Brasil, em Salvador, a Vina Itaparicana, este misterioso instrumento milentar, no qual se acham ocultos todos os instrumentos de cordas, inclusive, pelo seu timbre, o cravo. Abre uma nova perspetiva: a escultura sonora.

Esta Vina levou nove meses para ser concluída. Depois de terminada, o autor se viu numa situação estranha: contemplar o passado e, ao mesmo tempo, o futuro da humanidade e da divindade (........) O material utilizado foi cabaças-cabeças. Quanta coisa podemos fazer com cabaças, elas servem para tantas coisas: cuias, pedir esmola, construir instrumentos. O miolo contém sementes. Então a cabaça está oculta na semente, e a inteligência está oculta, escondida, na cabeça. Spes Messis in Semine (a esperança está na semente). Lancemos uma semente e observemos, igual ao alquimista, a sua transformação em ouro mercúrio. Plantemos enfim uma árvore (.....) Temos, nas extremidades de um tubo, o braço, princípio que perdura em todos os instrumentos móveis de cordas que se dividem em duas partes: braço com cabeça (voluta), metido numa caixa de ressonância, macho e fêmea unidos para a realização de uma terceira coisa: o Verbo- o Som. Nas duas extremidades acham-se duas cabaças. Uma menor, embaixo, e uma maior, em cima, abrindo um impulso gótico de baixo para cima, ou seja, dos pés para o crânio da mente universal, e do objetivo para o subjetivo, ou vice-versa, seja então, do absoluto para o concreto (.....)

Esta Vina dever ser tocada de costas para o público, com o intuito, simbolicamente falando, da busca de fora para dentro. Mas com gesto. As antenas estão dirigidas para o fim subjetivo, e não para o objetivo. O recitante assimila o magnetismo dos presentes, para ultrapassar os limites (.....)

A cabaça simboliza a mente universal (....), e a boca é o ouvido ao mesmo tempo. Tem a sua abertura em sentido contrário, em direção ao público. O som vem de duas direções, produzido na terceira cabaça inferior. Uma parte do som circula e sobe pelo tubo e passa pela boca da segunda cabaça, a qual fica encaixada no tubo. Este funciona como ressoador. As ondas passam pela boca da segunda cabaça, o Vishnu. Lá ressoa um metabolismo, sobre pelo crânio, para enfim se espalhar pela abertura da boca da primeira cabaça. (....)

Não há nada morto no universo. Tudo é vida e vibração. Morte é apenas a transfiguração de formas velhas, que não se atualizam mais numa concepção de idéias superiores.

Este saber intelectual causará no leitor um estado de prefelicidade. Refere-se ao futuro. Ele tomará conhecimento dos acontecimentos atuais com naturalidade e sem paixão. Sem fanatismo, sentidno e sabendo que estes acontecimentos são apenas transitórios para os outros, mais decisivos ainda. Ele também é transformador, sublimador, percebe a Metástese universal, a União Total num único estado de consciência em que não há mais diálogo, mas sim monólogo. Uníssono. Chegará o grande dia: Sede Conosco. Não é esta a vida que nós vivemos, é uma outra. Esse processo entra no labor da improvisação.

Assim, esta Vina é um ser vivo. As suas cabeças são cabaças do reino vegetal da natureza. Seu miolo é constituído de sementes. Eis a grande revelação da natureza. A árvore está oculta na semente. Se a semente for má, a árvores também o será. Se a semente for boa... os frutos serão bons. O destino está nas vossas mãos. As artes são o exemplo dos vossos pensamentos, libertarão ou escravizarão (Confúcio).

Uma corda atravessa o interior do tubo, que é o braço do instrumento. Esta corda de aço liga a cabaça superior à inferior, terminando em espiral. A serpente Kundalini em plena função, despertada, impulsionando a glândula pineal. O interior da cabeça-cabaça é dourado, acentuando este mister. Esta corda vibra constantemente, porque é sujeita a todas as ondas sonoras simpáticas das outras cordas. A espiral corresponde interiormente.

O braço, exteriormente, leva mais cordas, digamos, bordões. São os chamados recursos naturais. Estes podem ser afinados "ad libitum"; são os estáticos, 30 notas estáticas, invariáveis, causais e fixas. Variáveis, apenas, são as relações e o ritmo dos acontecimentos; a mudança dos tempos, dos ciclos, das idades; o relógio do tempo, o espaço continuando a marcar o tempo.

De fato, estas cordas representam um conjunto separado, foram e ainda são cordas simpáticas. Mas agora, também bordões, sinos e harpas. São, na face da terra, uma vez os jovens, os eternos adolescentes, e a velhice ao mesmo tempo. Juventude que se anuncia pedindo os seus direitos. Juventude que anuncia uma nova tônica, exclama novas idéias coletivas. Ao seu lado, a velhice, cheia de sabedoria, cingida de uma coroa de espinhos, talvez os anéis de saturno, simbolismo que o Cristo teve de suportar. E mais afastado, Urano, o avô do Universo.

Seguem as três cordas vocais montadas em cima do braço sonoro, mutáveis, dedilhadas. As cordas tocadas pelo arco expressam uma relação do homem para com o instrumento.
E onde se dá a variação das formas e imagens psíquicas (.....)

Duas campaínhas, tocadas com anel de ferro, dentro de um espaço triangular, comunicam-se com o plano astral, junto com uma nota grave, som de gongo chinês; constam nesta antologia, fazendo a ponte de continuação para a escala dos sons inaudíveis ao homem, mas existindo mentalmente; as séries harmônicas eternamente circulantes. Transmigração da idéia, o eterno vir a ser, o servir, a encarnação dos seres e do Verbo pelas religiões.

Justificando a tese de que tudo é vida e vibração, a Vina é dotada de um sistema de vibrafone elétrico, dinamizado por uma resistência e um tubo com bocal, impulsionado pelo sopro, caso as mãos estivessem ocupadas a manejar a resistência. O instrumento é tocado a arco, pizzicato e sopro.

É evidente que o executante deve ser uma pessoa de grande cultura, de saber universal e integral, e de uma inteligência vivente. Só assim ele se identificará com a simbologia da Vina. Esta deve devolver ao homem a improvisação. O instrumento é templário, é um Templo em miniatura, e expressa uma Doutrina. Não traz consigo apenas o método de escalas, arpejos, e exercícios. A improvisação é um reflexo da existência. Esta se expressa no monólogo, na voz do silêncio (........)

A construção da Vina não é totalmente fixa. A tampa da caixa de ressonância encosta sobre feltros em cima da cabaça, permitindo, assim, maior flutuação de vibração e atuação sobre o som, libertando-o. O interior não é mais tão separado do exterior, como nos instrumentos tradicionais, ele respira. O cavalete toma forma humana, ganha dois braços, os quais seguram uma matraca comprida e variável, feita de madeira. Esta matraca, que serve de registro, produz um efeito sobre a gravidade e, em consequência, sobre o som, lembrando o Saci-Pererê que se balança na matraca.

É possível colocar a cabaça de cima em várias posições, para tomar diversas expressões na plástica sonora. Resulta daí uma estética que se expressa em diversos aspectos e torna-se menos dura, menos estática, adaptando-se a múltiplas finalidades (.....)

E aqui temina a história da Divina Vina, dedicada a um templo. Plástica-Templo sonoro. O Templo Monumento está erguido em Mar Grande, na Ilha de Itaparica, no cume de uma colina, de onde se descortina um panorama de extraordinária beleza natural. Lá se encontra um grande mistério desde os tempos de Cabral: Crivatsa-Laurenta-São Germano. Para lá se dirija o leitor amigo, que saberá e sentirá, então, mais do que pode ser anunciado. Este trabalho apresenta apenas uma das aplicações de uma doutrina, cuja tese, antítese e síntese seriam: o concreto, o abstrato e o absoluto. Os três planos da existência. Ou um nos três. Os três no Um. E muito mais que não pode ser dito aqui..."

1 comment:

Eliane Haas said...

Depoimento maravilhoso! merece ser publicado. Sugiro que faça uma análise detalhada de cada instrumento ( pois ninguém fará melhor) compondo uma publicação valiosíssima, naturalmente ilustrada com as belíssimas fotos que vc faz.
Bjs e parabéns
Eliane