14 October 2006

picapau


Por um momento parei. Eram 2:48 da tarde. Parei para escutar. É que estava ouvindo um toc toc toc insistente do lado de fora. Era leve, quase imperceptível, se fosse em algum lugar mais barulhento e movimentado, não daria pra se notar, mas estava um silêncio de algodão. Só pássaros e um gavião fazendo sua ronda. O som vinha do alto de uma árvore. Saí intrigada, imaginando ser uma coisa que depois se confirmou. Um picapau.

Lembro da primeira vez que vi um picapau ao vivo. Estava na Lagoa das Lontras (meu paraíso da infância, adolescência, e um pouco mais) descendo uma trilha, quando de repente, muito perto de mim, aquele bicho ali percutindo no tronco de uma árvore. Virei estátua, imóvel, e ele não se assustou, ficou ali toc toc toc. Tão emocionada fiquei que sempre me lembro deste encontro, mesmo depois de.... mil anos. Picapau pra mim era aquele Woody Woodpecker, dos cartoons de Walter Lantz, um bicho meio mitológico, como um centauro, um dragão... Fiquei até meio taquicardíaca. Depois me disseram que ele faz aquilo para pegar as larvas de insetos que escavam galerias nos troncos pra deixarem ali dentro seus ovos.

Mas como é isto? bate toc toc toc e elas abrem a porta? como é que ele chega nessas galerias? Lendo sobre esse "palpitante" assunto (As Aves, Editora José Olympio), descobri que...

-VOCÊ SABIA?-

para o picapau, perfurar as árvores com o bico é apenas a primeira etapa para chegar às larvas que ali vivem. Depois de perfurá-las, usa a língua (enorme, como um tamanduá) flexível para penetrar profundamente nas galerias. Mas haja língua. Onde guarda ele uma língua tão comprida dentro da pequena cabeça? novamente dou uma lida. Na realidade, a língua dele é curta. Faz parte de um dispositivo de ossos e tecidos elásticos que, passando sob o maxilar, sobe contornando a cabeça e vai prender-se na narina direita, deixando a esquerda livre para a respiraçao. Quando esse dispositivo desliza ao longo da cabeça, a lingua projeta-se à frente.

Trata-se de uma engrenagem muito bem estruturada, muito bem estudada, não é asssim de qualquer jeito... Um projeto de alta complexidade, embutido nesse pequeno pássaro. Quem diria? Bem, a Natureza não é boba, não é simples (e nem é justa...). Tudo é muito complexo. Tem coisa mais sofisticada do que o corpo humano, a noite e o dia, o respirar das plantas, as cores do arco-íris????

O da foto é um carijó (ou verde-barrado). Pode ter sido um destes que parou por aqui...

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