21 October 2006

jaboticabas


Pego uma jaboticaba negra reluzente com o polegar e o indicador. Levo-a à boca. Sem largá-la, mordo delicada mas firmemente sua casca rija lisísssima, ao mesmo tempo expremendo-a com os referidos dedos. Ela explode num suco delicioso que invade meus sentidos e me traz felicidade. Chupo em êxtase. Um suco transparente doce, dulcíssimo. Junto vem suas sementes, podem variar de uma a quatro, do tamanho de grãos de feijão. Elas são revestidas por uma polpa branca (quando são rosas púrpuras não estão boas, azedas já passadas) e dentro, um "gruvo" roxo, mais pro ácido. Às vezes mastigo essas sementes e a casca, mas quase nunca.

Quantas horas passei dentro de uma jaboticabeira... Jaboticaba é muito louca. Ela dá NO TRONCO, e são verdadeiras multidões. E pra colher? ce vai subindo -é uma árvore relativamente fácil de subir- e, por mais que tenha cuidado, muitas vão sendo sacrificadas, pois só de ce colocar a mão, elas desmontam e caem aos montes no chão. Como a casca é grossa, elas não se espatifam, e quem não sobe pode ir colhendo as maiores.

Bolas de boliche de gnomos. Bolhas de pensamento de micos. Balões de festa de bem-te-vis.

Não sei se tem em outros lugares do mundo, se levaram ela daqui e replantaram e vingou. Sei que é 100% brasileira.

Jaboticabas são alegres, simpáticas, divertidas, populares, não gostam de solidão, e desabrocham em tempo frio. Serão afrodisíacas? Ao contrário do que o nome sugere, nada têm a ver etimologicamente com o jabuti, e nem fazem parte de sua dieta, ou fazem? não sei...

O melhor sorvete de jaboticaba da minha vida era na saudosa Sorveteria Moraes, na Visconde de Pirajá. Aaaaai!! só de me lembrar me dá um arrepio na língua!!! Era doce ma non troppo, tinha o acidinho da casca também, e era roxo claro, ou quem sabe, lilás escuro. Eu chegava lá disposta a variar o sabor, eram tantos, mas... não conseguia, pedia sempre o de jaboticaba. Ou então, gulosa do jeito que sou, começava com um tangerina por exemplo, mas o o último era sempre.... de jaboticaba.

Tenho duas maiores e suculentas lembranças: as primeiras em Lagoa das Lontras, onde passei minha infância e adolescência me recheando delas, as jaboticabeiras em cujas copas eu me refugiava; e depois, as melhores de todas, as incrivelmente esplendorosas em Friburgo na casa do Mario Jansen, pianista que tocou comigo por muito tempo, parceiro de várias músicas. Estas tinham o diâmetro de 4 cms!!!! Agora não tenho tido acesso a nenhuma jaboticabeira, e se eu quisesse plantar, dizem que demora 15 anos pra dar fruto. Tudo bem, até plantaria... do jeito que o tempo tá correndo, planto e quando vou ver já to chupando... mas enquanto isso não acontece, vou me satisfazendo com as que vendem em lotes na feira, no camelô das ruas.

A safra esse ano foi boa.

1 comment:

Anonymous said...

Tens toda razão, jabuticaba é tudo de "bão"!!!!
Tenho comido muuuuuuuuuuuito.
Adorei "bolas de boliche de gnomos.Bolhas de pensamento de micos(essa é demais, acho que vou até desenhar!!!!)e balões de festa de bem-te-vis!! Que coisa linda Diana! Você é mesmo uma poeta. Beijos