22 October 2006

de pisces


Esse charutão de cobertor que minha mãe está segurando sou eu, saindo do hospital com um dia de nascida. Meu pai do lado. Fazia frio (tenho uma amiga que tem uma tese: se cê nasceu no inverno, cê gosta de frio.... se nasceu no verão, cê gosta de calor....). A foto é pra ilustrar o segundo capítulo da minha eletrizante biografia que sairá no meu site imperdível, e cada dia mais perto do lançamento!!!!!! aguardem aguardem!!!!


DE PISCES
Nasci no dia 10 de março de 1947. Papai já não tocava mais no Bando da Lua, estava agora na Radio NBC, com um programa próprio de música americana de jazz sendo transmitido para o Brasil. E mamãe já não fazia mais teatro (embora nutrisse uma louca paixão por Greta Garbo, a ponto de segui-la pelo parque, a atriz já naquela fase de retiro, tentando passear anonimamente- I want to be alone- oculões escuros, chapéu.... mas mamãe a seguia extasiada), estava agora se ocupando com sua primeira filha, que de tão pequena, cabia num bolso de sobretudo.

E logo minha mãe me levou pra Cambrige, Ohio, na fazenda onde morava sua família. Camponeses russos, mãe e nove irmãos, meu avô não cheguei a conhecer... era violonista e regente de coral da Igreja Ortodoxa. Família muito religiosa. Cantavam muito, e o tempo todo. Por qualquer coisa. Por nada.

Vida no campo em clima temperado é a maior batalha. Quando chega o inverno, vem aquele frio, aquela neve, tudo congela, se não se preparar... Não tinham empregados, eram eles que faziam tudo: desde arar a terra, plantar e colher seus alimentos, tirar o leite, bater a manteiga, fazer queijos e coalhadas, amontoar o feno pro gado, cuidar dos animais- cavalos, vacas, galinhas, cachorros- além de fazer conservas para comer no inverno. horta, pomar, arar, plantar, colher.

E até os meus 3 anos de idade, a gente se dividia entre Nova York (agora morando em Long Island) e a fazenda em Ohio. Meu pai chegava nos fins de semana, depois voltava pra NY. Essa fazenda foi fundamental pro meu entendimento de mundo... Cresci sentindo uma intimidade com a vida no campo, os cheiros, as plantas, a terra, os tatos... acordar com o sol, ir cedinho com a vó recolher os ovos debaixo da galinha no ninho quente... depois da chuva, sair com a tia à cata de cogumelos pra servir no jantar... cachorros, gatos, veados selvagens visitando o meu quintal...

Lembranças musicais as mais remotas: meus pais dançando o charleston, minha mãe recitando Poe e Shakespeare, meu pai me ninando com músicas de seu repertório- Lig-Lig-Lé, Touradas em Madri, Alalaô, N'Aldeia- além de suas próprias, horas e horas no violão, meus tios e avó cantando em russo.

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