08 October 2007

o Bisnadinha


De 1969, plástica sonora feita de arame, madeira, metal, papel e fio de plástico, com 60 cm de altura.

Este é o mais comovente das criaturas. É o próprio João Ninguém de Noel, o Nowhere Man dos Beatles, e podemos, cada um de nós, nos identificar com este serzinho niilista nos momentos down de nossa vida, em que nos achamos um zero. Contundente, horripilante, expressionista, real e profundo.

Do livro de Smetak, a Simbologia dos Instrumentos, um dos textos mais poéticos, na minha opinião. : "Torna-se realmente difícil escrever uma biografia sobre um serzinho que se tornou o Nadinha, já repetidas vezes. Escapa à nossa percepção, entretanto ele está aqui, entre nós, mexendo os pauzinhos. Valor, sem valor e validade, inconsciente como uma molécula de matéria despejada do imenso forno do universo. Nasceu de uma chama de vela que um amigo colocou em suas mãos frias, como última dádiva para o longo caminho da morte. Junto, uma rosa vermelha, enfeitando a morte. Porque o Bis-Nadinha, durante a sua vida que terminou de repente, sempre foi um sujeito alegre e dotado de certa filosofia. Julgava-se sem liderança, convencido de sua absoluta nulidade, e usava com abundância os perfumes da natureza. Fez o dia de noite, e a noite de dia. Era, e ainda é, um Beatle, se é permitido dizer tal coisa quanto à mais abusada dualidade. E se dá bem nesses termos, como assegura repetidas vezes. Não quer outra vida. Eis a forma magnífica da sua existência. Continua fielmente a ser aquilo que não era (!). Eis a sua tragédia. Sente nas costas o fixo-móvel do espírito invulgar coletivo, mas sem poder dar a moldura de uma personalidade constante e amadurecida. Esforça-se para enquadrar-se na vida. para este fim, suportou dezenas de exames e testes, e traz o selo da borboleta na testa, simbolismo do tradicional laço de seda que a mãe coloca nos cabelos das meninas...

Passaporte para nova vaga da vida.

A sua saudade é profunda, encontrando-se num grande vale vertiginoso. o que está em cima agora está embaixo, e vice-versa, como se a inteligência da percepção das coisas fosse nos pés, e a cabeça andando. Os olhos procuram um caminho neste labirinto de xadrez preto e branco. Mas não o acham. Estão olhando de fora para dentro, e enxergam apenas uma folha verde que ocupa o espaço onde normalmente se escondem os miolos.

Quo Vadis? Para onde eu vou, suspira o ponto de interrogação que sai como fumaça do cigarro, da sua boca sem boca. Eis aqui o seu fantasma. Estará vivo ou morto? Um vivo-morto, um morto-vivo?

Somos nós ele, ou está sendo ele nós?

Bis-Nadinha, um fantasma; em vida, era um grande farrista, morreu muito cedo e está aqui dependendo de duas coisas: vemos, na frente, uma elipse e, atrás, um quadrado, isto é, ele está fazendo um grande esforço para reconhecer seus erros e quer se enquadrar novamente como pessoa viva... Fica na dependência de sua alma... procurando uma nova personalidade.

Mostra, ainda, sua juventude com uma perfeita dentadura. Botou uma rosa no cabelo e lembra um pouco as criaturas de hoje, os cabeludos.

Tem um som tétrico.

Bis acaba de repetir... repetir o nadinha.

Seu sustentáculo é uma cravelha. Tem um lacinho na cabeça, símbolo do infinito, um oito".

SALVE O NOSSO HERÓI!!!!

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