19 May 2006

Nicolau


Há tres dias, fui acometida de um mal súbito. Desta vez não veio com nenhum avisinho sequer, fui dormir bem, mas quando acordei tava com uma baita febre, e uma dor de garganta que não dava nem pra falar. Febre em mim bate como um leve delírio, fico inteiramente fora do ar, nada mais importa, só quero me afundar na cama, mergulhar dentro do travesseiro. Aí começa o delírio propriamente dito. Ligadíssima. Isadora Duncan no bondinho do Pão de Açúcar, o Gato de Botas, Trotski na barca pra Niterói, e também muitas caras desconhecidas se entrelaçando, lugares inusitados. Não é como sonho... consigo controlar, se quiser, mas geralmente deixo rolar. Parece que vou enlouquecer, mas não me dá medo, na verdade chego a gostar. Sinto-me como estivesse espiando o outro lado, uma região que quando criança era fácil chegar, agora não, que está tudo 'no esquema"... Ao mesmo tempo é penoso, porque o corpo não está confortável, tudo dói e está tão quente, apesar de estar um frio de bater queixo e tremer.
Bom era quando o Nicolau ainda era vivo. Companheiro perfeito pra essas horas. Ia chegando devagarinho, me fazendo carinho, me fazendo sentir que tinha alguém pra me cuidar... me consolando e me dando força (é, porque a gente pensa que não vai ficar boa nunca...). Depois deitava do meu lado e dormia aconchegado.
Esse era o Nicolau.

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