11 May 2006

Rosa Montero

Sabia que Rosa Montero era boa. Na Espanha, vários amigos meus falaram sobre ela, e eu estava curiosa para ler um livro seu, mas tava esperando o Carl me emprestar os seus volumes em castelhano. É melhor ler no original, sempre que isso for possível.
Carl é um grande amigo meu, da aula de taichi do Mestre Hu no atêrro, há tempos atrás. Pois no ano passado nos encontramos em Madrid, ele chegando da sua peregrinação pelo Caminho de Santiago (vindo de Sevilla, a rota mais difícil, bronzeadíssimo e vários vários quilos a menos...). Estava lendo La Loca de la Casa, de Rosa, e estava adorando. Nem cheguei a folhear, mas ficou na minha agenda mental. Mas eis que ganhei exatamente esse livro da Helô, e comecei a ler no mesmo dia.
Helô nossa! é mais antiga ainda!! da época da Equipe Mercado, ela fazia parte da produção.
O livro veio na hora certa, porque sempre escrevi desde pequena, mas nunca dei a menor importância à minha prosa. Fiz inúmeras letras, várias delas viraram músicas, e muitas foram pro lixo por descuido ou porque não prestavam. Mas agora tenho sentido muita vontade, mais - necessidade- de escrever. Me sinto mais mansa com a idade, antes eu queria festa todo dia o dia todo... gente gente gente, e o ofício de escrever é essencialmente uma atividade solitária. Pra quê escrever, se posso falar? era esse o clima.
Mas voltando ao livro da Rosa, que é justamente sobre o ofício de escrever, sobre a inspiração, o fracasso, o sucesso, o que acontece ao escritor pra que ele saia escrevendo... tem capítulos falando sobre o que aconteceu a Goethe, que se vendeu à corte humilhantemente, e nunca mais conseguiu escrever nada...a Capote, que foi destruído pelo sucesso... o que faz o escritor perder o rumo, é tão bom, muito melhor do que esperava, e só to na metade. Vou agora copiar um trechinho só pra mostrar como ela nos faz pensar.

"A qualidade literária é um dos valores mais subjetivos e mais dificilmente mensuráveis que conheço: se você for engenheiro e fizer uma ponte, por exemplo, pode estar mais ou menos certo da sua capacidade profissional enquanto essa ponte não cair: mas se for romancista e escrever um manuscrito, quem garante que essa resma de páginas impressas, esse monte de mentirinhas infantis e ridículas, como dizia Aira, são mesmo um romance e têm mesmo algum sentido? A história demonstra que nem o sucesso em vida nem os prêmios, nem, ao contrário, o fracasso e a contrariedade dos críticos foram alguma vez prova confiável da qualidade de uma obra. E nem sequer o tempo põe as coisas em seu lugar, como gostaríamos de acreditar por precisarmos ter certezas: algumas vezes caíram por puro acaso em minhas mãos romances de autores antigos totalmente esquecidos e fora de catálogo que no entanto achei ótimos, e previsivelmente eles nunca mais regressarão do cemitério. Quero dizer que escrevemos na escuridão, sem mapas, sem bússola, sem sinais reconhecíveis do caminho. Escrever é flutuar no vazio".

Esta é a Rosa Montero.

Perfeitamente aplicável à música também.

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