09 August 2007

tudo acaba um dia


Ioga? musculação? dança de salão? salsa? dança do ventre? pilates? ashtanga? apesar de eu trotar (correr lento) diariamente e praticar taichi há 24 anos, comecei uma aula de ioga. Tô com (im)pressão alta há uns meses. Emocional, puramente emocional, pois meus outros exames são de uma criança sadia. Então achei que ioga iria me relaxar, e baixar a minha (o)pressão. Mas comecei a desconfiar de que tinha algo errado quando chegava em casa depois da aula, e em vez de me sentir relaxada, parecia que eu tinha tomado pó de guaraná, junto com vários cafés expressos... muito stranho... Ué, mas ioga não relaxa? Não era pela dificuldade das posições, pois eu tenho o corpo trabalhado e alongado e sempre fiz esse tipo de coisas, inclusive ioga. Era o que então? Na aula me sentia afogada, a respiração não cabia no peito, e com uma ligação cocaínica inexplicável, inusitada, e definitivamente fora de hora!!! Foi quando o Cláudio, meu querido homeopata, me disse que as asanas invertidas e prender a respiração com o pulmão cheio é ruim pra pressão alta. Que coisa heim... parei no ato!

Tudo acaba um dia. É bom lembrar disso quando a gente tá passando por uma fase braba. Vai passar.

A minha analista me despertou esta semana para o fato de que um belo dia nossa terapia também um dia vai acabar, como tudo acaba na vida. Por mim, continuaria por anos, já incorporei, já me acostumei... há seis anos faço com ela. Mesma pessoa, mesmo prédio, mesmos dias mesmas horas, mesmo percurso passando pelos jardins do Museu da República, me detendo ali a observar as garças e os gansos, os patos com seus patinhos amarelos, um gato preto habitante ilustre deitado nos raios de sol. De vez em quando pessoas levam alimento para os bichos, folhas de couve, alface, migalhas de pão. É uma festa! num instante junta aquele monte de bicho gralhando em volta, ávidos por aqueles petiscos...

Largo do Machado. Catete. Glória. Duas vezes por semana bordejo por estas bandas.

Virou um hábito... virou parte de mim... mão que me aponta um caminho, pé que me faz andar, luz que desponta no fim de um túnel. Mas como tudo acaba um dia, um dia isto também vai acabar. Olha... nunca havia pensado nisso... se pensei, fui tirando logo da cabeça...

Primeiro fiquei me sentindo abandonada, caramba, como vou fazer agora? A gente cria um vínculo, se apega, que diabo... fiquei bem triste... deu um desamparo, um vácuo, um hiato. Mas no dia seguinte senti um frescor de primavera, um recomeçar, uma confiança em mim, e consegui enxergar com alegria um fim. Andar com as próprias pernas. Não que a análise me tenha privado disto, mas é como se eu estivesse esse tempo todo num barco confortável e seguro, e que agora eu quisesse de repente sair daquele barco e nadar nas águas nem sempre confortáveis e nem sempre seguras. Riscos. Imprevistos. Meus braços e pernas aguentarão o tranco? Terei fôlego? Saberei surfar nas ondas gigantes? Conseguirei chegar ao destino? Saberei que direção tomar?

Senti que eu me sairia bem. Claro que isto é hoje... amanhã tudo pode mudar e me talvez me sinta frágil... mas... não é isso que é a vida?

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