17 February 2011

seria hoje

Mario, se esta tragédia? loucura? cataclisma? absurdo? sei lá como descrever este MAIOR ACIDENTE CLIMÁTICO REGISTRADO NO BRASIL em toda a sua história (e por que teve que atingir VOCÊ?????). Continuando ou recomeçando: se esta coisa não tivesse acontecido, seria hoje o nosso show no Valansi, uma casa super-bacana, um dia nobre, e que showzaço seria... se eu for me basear nos elogios que venho recebendo das pessoas a quem dou o nosso CD, nossa! ia ter gente fazendo fila lá fora pra entrar... e somando com os shows que fizemos em Friburgo, este show iria ser... iria ser.... iria ser...

Mas o que vou fazer hoje? você me pergunta. Vou me encontrar com o Adriano- sempre é bom encontrar com Adriano- média com pão na chapa na Manon, Rua do Ouvidor, depois zanzar pelo Saara, tá um pouquinho menos quente, mas fervendo ainda (sabe que desde que houve a tragédia, não choveu mais uma gota...), ir à análise (desde que ce se foi, tenho feito tres vezes por semana em vez de duas) e encontrar o Luiz e Milton na Cavé. A última vez que nos encontramos lá foi pra acertar os detalhes da minha compra do tão querido andar de cima de sua casa, casa bonita que ce arquitetou com tanto talento, tanto carinho, tanto esmêro, tão cuidadosamente, tão rica em detalhes, e que ficou tão aconchegante. Casa segura, firme, bem construída, e que não existe mais, nem o andar de cima, nem o de baixo, nem a cama, nem as janelas, nem a tábua corrida do piso, nem os azulejos coloridos do banheiro, nem o yamaha, nem o armário, nem o quadro da Hypatia, e nem você. Esmagados por uma avalanche de um morro inteiramente reflorestado por você há décadas, morro que lhe ajudei a reflorestar, mais de oitocentas mudas. Com tanto esforço. Tão sólido, tão aparentemente perene... e como ce amava este seu lugar, como ce se orgulhava de ter feito esta casa (e com toda a razão, porque era linda).

É muito difícil lidar com esta realidade tão chocante, tão radical, se eu ainda bebesse, iria estar enchendo a cara todos os dias e muito, pra escapar. Mas como não bebo uma gota faz dez anos (e você, meu querido, nove!!! lembra como nos orgulhávamos disto?), não tem jeito, é encarar isto de frente e aprender a conviver com este horror, embora sem entender, sem aceitar, sem me conformar, sem nunca mais voltar a ser o que era. 

Tem um ditado que diz: “nunca fale nunca”. Mas neste caso falo sim, falo NUNCA porque é NUNCA mesmo, falo sem medo de errar. A única coisa que pode nos dar a certeza que esta palavra está sendo dita com propriedade é a morte. A morte, que encerra nosso contato físico, nossas conversas audíveis (as mentais continuam, vide esta carta, mas é unilateral, não vou receber outra de resposta), nossa troca de experiências vivências observações palpites opiniões sugestões terrenas, nossos pequenos gestos de carinho ternura amor um com o outro, interagindo no dia-a-dia, construindo algo constante, vivo, ativo, se alimentando do presente aqui e agora acontecendo em nós, cada dia um passo, um degrau pro futuro, que não existe também... Nada disto nunca mais vai acontecer. 

Porém o amor está aqui, na jóia que é a minha lembrança de você. E ce vive em tudo isto que ce me deixou, que não é pouco. Portanto, meu amigo, continuemos. 










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