16 June 2007

pores-de-sol


Um por-de-sol me faz tão bem. É uma hora em que fico feliz em estar viva, em tão boa saúde, com a minha sensibilidade tão à flor da pele, vendo um espetáculo tão belo. Fico comovida, emocionada, extasiada com cada mudança de cor que vai acontecendo muito aos pouquinhos, cada figura de nuvem que vai se transformando em outras... Esta hora salmão é muito especial pra mim. E onde moro, há uma vista estupenda, um verdadeiro deslumbramento.

Não há um idêntico ao outro, cada tarde é uma experiência única, um fenômeno que não se repete. Estou sempre tirando sua foto, tentando perpetuar o momento, eternizar a minha emoção. Tenho mais de cem sobre o assunto, são belíssimas, mas claro, são só tentativas pra capturar o incapturável, o instante de uma coisa em movimento.

Por coincidência, nasci às 6 da tarde... acho que isto não influencia, ou sei lá, talvez sim... mas a verdade é que é a hora que mais gosto. Até há bem pouco tempo, quando eu era da boemia, era a hora em que eu começava a me transformar também... aos poucos ia baixando um outro ser bem mais louco, meu ser noturno, e eu gostava muito deste outro ser destemido, admirava até mais do que o ser diurno careta que me habitava. Agora, como minhas noites são mais mansas, sinto a hora do por-do-sol como uma oração (agora me lembrei de uma coleção de músicas clássicas "pasteurizadas" que saiu há milênios atrás chamada de "Música à Luz da Oração" e a capa sempre era de um por-de-sol, ce vê como tá tudo lá no fundo do inconsciente...). Não uma oração religiosa, porque não sou religiosa, mas é um momento meu em que parece que fico mais perto de mim. Pode ser em Miami ou Madrid, Rio ou Eatontown, quando estou de cara com um por-de-sol é como se abrisse um parêntesis, e por um instante (ou vários) eu mergulho no meu avêsso. Me preparo pra noite. No fundo, acho que sou meio primitiva, temo a noite, que é a hora do inconsciente, dos sonhos, dos bichos noturnos sairem das tocas, dos sons estranhos, dos mistérios, dos sussurros, dos gritos, dos passos na ponta dos pés, do uivo do lobo, do silêncio sepulcral, do abandono, do indefinido. Todos os gatos são pardos. Não há como controlar nada daqui pra frente, é seja o que os deuses quiserem...

1 comment:

Yelloweesa said...

Di, as suas fotos estão belíssimas. Adorei a da silueta do galo e essa com os cipós, ou seriam raízes aéreas? Parabéns!