29 April 2007

onde?


Volta e meia eu me perco, perco minhas coisas, não sei onde estão, não sei onde estou, onde fica a saída, cadê minha cabeça, onde coloquei meus óculos. Mas felizmente tenho uma ajudante que me indica o caminho. Está aqui. Se chama Fumaça. Não tem êrro. Sempre tem a resposta certa na ponta do rabo. Não estou só. Posso me perder, que com ela por perto, sempre vou me achar...

tolerar


Tolerar tem limite. É que nem beber, fazer ginástica, comer, estudar, trabalhar. Se for em excesso, tolerar também faz mal pra quem tolera, porque significa engolir algo que devia ter sido posto pra fora e não foi. É bom se tocar a tempo (às vezes basta uma sutil mudança de atitude pro outro entender a "mensagem"), antes que seja tarde. O mundo tá cheio de gente muito doente que tolerou demais o que não devia...

A gente se acostuma com tudo. Até com o que nos faz mal. E como é que a gente percebe que está fazendo mal? quando? Sempre tem um tantinho a mais que a gente vai engolindo, e assim vai indo, indo, vai se acostumando, acha que a vida é assim mesmo, é normal, e quando percebe, já é tarde: a coisa vai se instalando devagar, cada dia um pouquinho, que nem a poeira diária que vai cobrindo as coisas no mundo...

Muitas vezes se tolera o que não se deve por insegurança. Outras, por mera preguiça. Ou inércia. Ou exaustão. Ou então, por falta de auto-estima. Pode ser medo também. Medo do que pode acontecer se chutar o pau da barraca. Às vezes pensamos que a coisa vai mudar por si só, mas nada vai mudar se a gente não fizer algo neste sentido. Muitas vezes se tolera em troca de algo que se pensa que se vai conseguir, só que essa troca não acontece nunca, ou então não como a gente esperava, e aí se vai cobrar isso mais adiante, mas... pra quem?

Pode ser por masoquismo, mas aí é outra história.

A gente nem raciocina. Sempre se pode tolerar mais um pouquinho ("não custa nada, né?"), e mais e mais, sempre acha que aguenta um pouco mais ("só desta vez, mas é a última"). Tentamos ser mais compreensivos, entender melhor, dar mais uma chance, adiar uma tomada de decisão, achar que vale a pena, por de lado nossos próprios desejos e não dar ouvidos àquela voz interna que diz- CHEGA! e em vez disso, inventar desculpas pra suportar o insuportável ("podia ser pior"). E quando vai ver... onde é que a gente foi parar? ao lado de um monstrengo que a gente mesma criou!!!!

22 April 2007

Aretha Franklin


Desde quando eu ouço a Aretha? sei lá, há mais de 40 anos. Ela começou a cantar nos anos 50 com suas irmãs Carolyn e Erma numa igreja em Detroit onde seu pai era reverendo. Repertório gospel (música de igreja batista americano, aqueles corais de negros de onde sairam muitos cantores de blues, soul e jazz; não confundir com o gospel evangélico que se ouve aqui e agora). Gravou seu primeiro disco aos 14 (The Gospel Soul of Aretha Franklin), e no começo dos 60, na Columbia, seu estilo foi mudando, ficando mais popular, mais Rhythm&Blues, mais Soul, e ela foi sendo mais ouvida nas rádios: Rock-a-bye Your Baby with a Dixie Melody, Lee Cross, Soulville... Mas ainda não conseguiu o sucesso merecido, muito devido à direção dos produtores, que escolhiam um repertório fraco, e apresentando-a como uma "entertainer" mais do que uma cantora de R&B.

Então ela trocou a Columbia pela Atlantic, e seu próximo single foi "I Never Loved a Man (The Way I Love You)", que gravou no estúdio Muscle Shoals em Alabama com excelentes músicos de R&B locais (Muscle Shoals Sound Rhythm Section), o que fez a gravação estourar (e dali por diante só foi sucesso!!!!), pois a combinação dos músicos com Aretha foi aquela alquimia perfeita, feita de instantes mágicos que acontecem quando existe um entrosamento total. Sua voz nunca tinha soado com tanta paixão, parecia que seu espírito havia se soltado e havia lançado vôo pela primeira vez.

No final dos 60, Aretha se tornou a maior cantora pop internacional, e daí por diante não parou de gravar sucessos, vindo a se tornar também um ícone do Movimento Negro pelos direitos civis, aumentando a confiança e a auto-estima da Comunidade. Seus discos estavam no topo das listas das 10 Mais, seu repertório era inspiradíssima e diversificada, indo desde Sam Cooke aos Beatles, dos The Drifters a Stevie Wonder, de Billie Holiday aos Rolling Stones, passando por Leonard Bernstein e Mamas and Papas...

Ela também tocava (toca) piano super bem, um piano blues, o que lhe dava (dá) um charme a mais, tipo Nina Simone, que tocava um estilo mais erudito-jazz... ai ai... essas Negas!!!!!!

Ouvindo Aretha, dá pra sacar em quem a Janis Joplin se influenciou...

Billie Holiday (1915 em Filadélfia-1959 em Nova York) e Aretha Franklin (1942 em Memphis) são as maiores cantoras pra mim. Nada a ver comparar uma com a outra: viveram em épocas distintas, Billie é jazz, Aretha é R&B, mas quando as duas abrem a boca eu fecho a minha bem fechada, fico de joelhos e jogo as minhas mãos para o Céu em êxtase supremo. Elas me arrepiam e me tomam a alma, me levando a caminhos nuncantes trilhados. E vou mimbora com elas.

Mas vamos à Aretha.

Sua voz de timbre inconfundível vai de suave à rascante, de vermelho a cor-de-rosa, de sol a tempestades. De climas contrastantes e imprevisíveis, a emoção explode em gritos gemidos urros sussurros (naaaaaada cool!). À cada música que interpreta ela dá um tom tão pessoal (Satisfaction, A Change is Gonna Come, Misty, Groovin'), criando em cima das melodias. Sua interpretação de Bridge Over Troubled Waters é demais! Tenho a gravação ao vivo no Fillmore West, a banda é incrível, ainda com um vocal de Negonas no vocal (aliás, este vocal é marca registrada dela, aquela coisa "soul", sempre presente nas gravações), ai!!! ainda um órgão hammond com caixa leslie, e um pianista - SERÁ ELA??? que no começo faz um solo de chorar. Como não se arrepiar?

Favoritas que não me canso de escutar: I Say a Little Prayer (pop anos 60 adorável, fico dançando sozinha), I Never Loved a Man (The Way I Love You), Respect (que foi regravada naquele filme recente (ops! recente?) do filme The Blues Brothers), Chain of Fools, Trouble in Mind, Muddy Waters, (You Make Me Feel Like) A Natural Woman, Baby I Love You, Never Let Me Go, Without the One You Love, Night Life (gravada por B.B.King tb), Nobody Knows The Way I Feel This Morning (bluesão), People Get Ready (gospel), Somewhere (do filme West Side Story, sua versão é jazz!!!!), e por aí vai, não dá pra citar todas. Outra favorita: Hey Now Hey (The Other Side of the Sky) -começa funkão, depois uma mudança repentina prum clima melosão, aí volta funkão, aquele baixo a mil. Outra favorita: Niki Hoeki, com um baixo também maldito, do álbum -Aretha: Lady Soul- Tem também o disco gravado ao vivo com o saxofonista King Curtis, ma-ra-vi--lho-so!!!

Apesar de seu auge ter sido nos anos 60 e 70, ela continua na ativa até hoje, gravando e ganhando prêmios, como por exemplo em 1991 -prêmio pelo conjunto da obra- e os dois Grammy pela melhor performance vocal de R&B Tradicional (em 2004 com a música Wonderful e em 2006, com A House Is Not A Home), assim como fazendo participações em filmes (Os Irmãos Cara de Pau- The Blue Brothers, de 1980 e 2000) e documentários (Immaculate Funk, em 2000, Tom Dowd and the Language of Music, em 2003 e Singing in the Shadow: The Children of Rock Royalty, também de 2003). O que ela fizer, vai ter sempre milhares de fãs a lotar seus shows, pois ela é a legenda viva do R&B, representante de uma época de efervescência cultural, criativa e importantíssima na História da Música do nosso planeta. Uma diva.

Linda adorável encantadora, minha Ariiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiita!!! eis-me aqui a te adorar!!!!

eh tudou iluson...


Nestas semanas fiquei fora do ar. Mergulhei nos braços ruidosos do silêncio. Não tive escolha ou chance, quando é assim ele não avisa... me pegou de um tal jeito, que não deu pra me desvencilhar: quando vi, já era tarde.

Uma página em branco, o que escrever? Buscava um assunto, qualquer coisa, nada, algo, um gancho, uma piscadela, uma âncora, uma escada, um fio de frase.... Estava nos braços barulhentos do silêncio. Não pense você que o silêncio é ausência de som ou assunto... Este silêncio que me encaçapou era estridente, um zumbido no ouvido, e quantas palavras se atropelando, quantos pensamentos apostando corrida, quantas citações estranhas, fiquei muito confusa. Na verdade, um caos na cabeça. Por onde começar?

Pane. Vácuo. Triângulo das Bermudas. Buraco negro. Hiato. Tenho que organizar isso tudo. Planilha na mão, caneta, papel. Na rua. No elevador. Onde for, anotar pra não esquecer. Preciso de uma cadeira boa pra trabalhar horas no computador. Começar uns cursos novos, pintura, dança, leque. Ver de que maneira a Música pode fazer parte da minha vida, aqui e agora. Reinventar. Renascer. O quarto precisa de uma geral. Tenho que afinar o piano, arrebentou uma corda grave, vai ser uma nota:) Ligar pros amigos, marcar uma coisa. Marcar médicos. Começar a ensaiar. Começar o livro. Ler uns manuais aí pra saber como funcionam coisas que quero usar e não sei.

Enquanto silencio, o Sol canta. Saiu ontem dia 21 de abril um artigo interessantíssimo no JB, no Vida Saúde & Ciência. "SOL PRODUZ MELODIA PARECIDA COM A DE FLAUTAS NA ATMOSFERA. Cientistas descobrem formação de ondas sonoras na estrela". E continua: "Além de aquecer, iluminar a alimentar a vida, o Sol também canta. Com informações de satélites na órbita da estrela e de modelos teóricos de processos como as explosões solares, cientistas da Universidade de Sheffield, no Reino Unido, revelaram que ondas sonoras produzidas pelo astro têm melodia semelhante a de instrumentos de sopro e guitarras. A frequência do som não consegue ser captada pelo ouvido humano (....) mas conseguimos modificar o som em laboratório e torná-lo audível. Está disponível na internet".

http://www.robertus. staff. shef.ac.uk

Bem, entrei no site pra escutar esse som, mas não consegui achar aonde, é um site da Universidade, um site de Matemática Pura e Aplicada, Física Quântica, com muita informação, mas vou entrar de novo com mais calma, estou curiosíssima. Como será esse som?

Isto tem a ver com aquilo que eu dizia no começo... o silêncio tem som e assunto. Pois imagina uma noite calma, num lugar tranquilo, ce olha pro céu, e tudo parece quieto lento e sossegado. Mas não, naquela calmaria toda estão acontecendo explosões estelares, meteoritos se chocando, astros cantando, massas de ventos entre as galáxias uivando, o diabo a quatro, ou a oito, que é o símbolo do infinito.

Isso me lembra de uma vez em que eu estava no Solar do Unhão em Salvador, trabalhando num workshop com Smetak. Tínhamos chegado mais cedo pra dar uma ensaiada, e estávamos descansando, deitados nos bancos em frente ao mar, fim de tarde, olhando para aquele plácido céu enorme e azul. Era um daqueles momentos mágicos e bastante frequentes que aconteciam entre nós em que conversávamos sobre filosofia, religião, sonhos, sentimentos. O assunto era algo como a relatividade das coisas... como tuuuuudo era relativo... e deitados assim, cabeça contra cabeça, de forma que eu não o via, só ouvia, escutei sua voz me dizendo, bem devagar, com aquele sotaque de suiço-baiano: "Olha prra esse azulllll. Êh tudou iluson... tudou iluson!!!" E foi engraçado, porque a minha criança não gostou de ouvir aquilo, não tava preparada, caramba... tirou todo encanto daquela hora (estragou a minha "ilusão"), e me deu uma agonia doida: pois se nem a ilusão de um céu azul eu podia ter, não me restava mais nada...

Mas Smetak estava certo.

06 April 2007

meu site ta no ar!!!!!!!!!


Um sonho, esse site no ar. Demorou um ano, mas valeu. Quando cheguei na Espalhafato Comunicações, ninguém -nem eu- imaginou que fosse crescer tanto. Começou modesto, mas fui levando material, garimpando daqui e dali (afinal, eram 38 anos de informação!!!!!), trazendo pastas e mais pastas, jornais, fotos, gravações, K7, o negócio foi tomando um vulto que por pouco não explodiu. Mas ei-lo lindo e resplandecente.

Não dá pra ver de uma vez, a não ser que se tenha muuuuito tempo, pois como eu disse, é grande, cheio de caminhos a percorrer, labirintos a se perder, e quando ce pensa que acabou, que nada... tem muito mais coisa.

Ele é o exemplo de um sonho que virou realidade, aquela coisa que a gente um dia deseja, mas tá longe demais pra acreditar que vai acontecer, mas vai sonhando de teimoso, só pelo prazer de sonhar. Como quem não quer nada, pede informações aqui, lê sobre o assunto ali, telefona pra pessoas ligadas à área, mas nada se concretiza, não rola, o tempo vai passando e o sonho lá. Quando menos se espera, quando já se está na beira do desistir, não se está mais pensando em fazer site porcaria nenhuma, eis que surge uma informação importante, um contato surpreendente, que vai mudar todo o curso da história.

Foi um ano de idas semanais à Espalhafato (porque eu também fiz parte da equipe de produção), leia-se Tania, Priscilla e Stéfano. Chegava naquela hora bacana em que o dia escurece na noite, hora mágica da "Ave-Maria", e chegava com um sacolão de pães quentinhos, queijo minas fresquinho, e dependendo da ocasião, otras cositas más... armávamos aqueles sanduichões e íamos trabalhando horas, tentando dar uma organização a aquele montão de material.

Também tenho que lembrar das visitas ao mago Eduardo, que digitalizou e remasterizou montanhas de K7, VHS, compactos, discos, negativos de fotos, realizando verdadeiros milagres, porque havia muito material carcomido pelas traças, pela umidade, pela poeira do tempo...

E dos amigos que me deram tanta força.

Um ano, e agora ele está no ar. Sinto até saudade daquela ligação louca que me dava, parecia que tinha tomado alguma coisa, ia dormir pensando no que foi feito e o que tinha que fazer, acordava pensando no que tinha que fazer e o que foi feito. Mas agora tem as atualizações, as continuações, as revisões, e principalmente: OS NOVOS PROJETOS que estão a despontar malemolentemente. Novos sonhos que parecem loooooonge, distaaaaaaantes, nem dá pra acreditar, mas vou sonhando, dando um passo acá, otro allá, dois pra frente, um pra trás, um pra frente, dois pro lado, tres pra frente até que opa! quando vou ver, já virou realidade.

Obrigada a vocês todos lindos seres amados encantados!!!!!!!

04 April 2007

camelos

Camelos me impressionam. Bicho bíblicos, imponentes, atravessando desertos fumegantes , subindo dunas enormes de areia, enfrentando tempestades e mudanças bruscas de temperaturas, sem ver nada além de areia areia areia nos 360º em volta até a linha do horizonte, ou então subindo montanhas escorregadias e perigosas, fornecendo aos ser humano leite, lã, carne e sua própria pele... Carregando 200 quilos no lombo, andando 80 km em um dia, sempre eretos, fortes, responsáveis, e com isso tudo ainda portando uma cara risonha, jocosa, bem humorada, meio cômica até...

Bichos lindos.

Camelos e dromedários. Diferença? é que o camelo propriamente dito (camelus bactriano) é peludão, habita a Ásia, tem duas corcovas. Os dromedários (camelus dromedarius) têem uma só, de pelagem curta e amarelada, são todos domesticados, e vivem no norte da África.

Minha primeira relação com camelos realmente marcante foi quando fui fazer uma temporada na Tunísia, cantando toda noite por tres meses no Hotel Diar Al Andaluz. Esta experiência foi das mais belas, mais felizes de toda a minha vida, merece um livro a ser escrito. Tratava-se de um show de mulatas em que eu tinha tres entradas como cantora, quando então interagia com os atores e dançarinas, e antes e depois desse show turístico, eu e a banda fazíamos duas horas de show nosso. Mas voltemos aos camelos. Saíndo do aeroporto de Tunis, um micro-onibus nos esperando para ir para o hotel em Sousse. Enquanto olhava pra fora da janela, me extasiando com o cenário, de repente vi um deles, que rapidamente fotografei esbaforida e emocionada, a mão tremendo na máquina (analógica, na época não havia digital, começo dos 80), sem saber se ia sair direito. Mas ficou lindo:

O hotel ficava à beira-mar. De manhã eu ia à praia, naquela água verde transparente, chegamos a comprar pé-de-pato e máscara pra brincar de mergulho. De tarde, piscina (o show era à beira dela). E na praia, lá estavam eles, aqui em vários ângulos, juntos com burricos e eu de "bico".



Bem, agora passados 25 anos, eis que tive a maior surpresa quando fui a Natal. Nas dunas de Genipabu. Camelos. Parece que se deram bem aqui no Norteste, e lá estão eles pra turistada andar.


Eu particularmente não entro numas, prefiro vê-los soltos, sem estas amarras e cadeirinhas ridículas, humilhantes prum bicho tão digno e.... que saco horrível no focinho... que é isto? não dá pra ver seus sorrisos... os da Tunísia não tinham esta coisa... Bem, pelo menos esta vidinha à beira-mar, com turistas a passear, pouco movimento, um visual estonteante, esta vida comparada à brabeira das jornadas no deserto, é tudo que um camelo desejaria, não? Eu, se fosse camelo, não ia querer outra coisa...