22 April 2007

Aretha Franklin


Desde quando eu ouço a Aretha? sei lá, há mais de 40 anos. Ela começou a cantar nos anos 50 com suas irmãs Carolyn e Erma numa igreja em Detroit onde seu pai era reverendo. Repertório gospel (música de igreja batista americano, aqueles corais de negros de onde sairam muitos cantores de blues, soul e jazz; não confundir com o gospel evangélico que se ouve aqui e agora). Gravou seu primeiro disco aos 14 (The Gospel Soul of Aretha Franklin), e no começo dos 60, na Columbia, seu estilo foi mudando, ficando mais popular, mais Rhythm&Blues, mais Soul, e ela foi sendo mais ouvida nas rádios: Rock-a-bye Your Baby with a Dixie Melody, Lee Cross, Soulville... Mas ainda não conseguiu o sucesso merecido, muito devido à direção dos produtores, que escolhiam um repertório fraco, e apresentando-a como uma "entertainer" mais do que uma cantora de R&B.

Então ela trocou a Columbia pela Atlantic, e seu próximo single foi "I Never Loved a Man (The Way I Love You)", que gravou no estúdio Muscle Shoals em Alabama com excelentes músicos de R&B locais (Muscle Shoals Sound Rhythm Section), o que fez a gravação estourar (e dali por diante só foi sucesso!!!!), pois a combinação dos músicos com Aretha foi aquela alquimia perfeita, feita de instantes mágicos que acontecem quando existe um entrosamento total. Sua voz nunca tinha soado com tanta paixão, parecia que seu espírito havia se soltado e havia lançado vôo pela primeira vez.

No final dos 60, Aretha se tornou a maior cantora pop internacional, e daí por diante não parou de gravar sucessos, vindo a se tornar também um ícone do Movimento Negro pelos direitos civis, aumentando a confiança e a auto-estima da Comunidade. Seus discos estavam no topo das listas das 10 Mais, seu repertório era inspiradíssima e diversificada, indo desde Sam Cooke aos Beatles, dos The Drifters a Stevie Wonder, de Billie Holiday aos Rolling Stones, passando por Leonard Bernstein e Mamas and Papas...

Ela também tocava (toca) piano super bem, um piano blues, o que lhe dava (dá) um charme a mais, tipo Nina Simone, que tocava um estilo mais erudito-jazz... ai ai... essas Negas!!!!!!

Ouvindo Aretha, dá pra sacar em quem a Janis Joplin se influenciou...

Billie Holiday (1915 em Filadélfia-1959 em Nova York) e Aretha Franklin (1942 em Memphis) são as maiores cantoras pra mim. Nada a ver comparar uma com a outra: viveram em épocas distintas, Billie é jazz, Aretha é R&B, mas quando as duas abrem a boca eu fecho a minha bem fechada, fico de joelhos e jogo as minhas mãos para o Céu em êxtase supremo. Elas me arrepiam e me tomam a alma, me levando a caminhos nuncantes trilhados. E vou mimbora com elas.

Mas vamos à Aretha.

Sua voz de timbre inconfundível vai de suave à rascante, de vermelho a cor-de-rosa, de sol a tempestades. De climas contrastantes e imprevisíveis, a emoção explode em gritos gemidos urros sussurros (naaaaaada cool!). À cada música que interpreta ela dá um tom tão pessoal (Satisfaction, A Change is Gonna Come, Misty, Groovin'), criando em cima das melodias. Sua interpretação de Bridge Over Troubled Waters é demais! Tenho a gravação ao vivo no Fillmore West, a banda é incrível, ainda com um vocal de Negonas no vocal (aliás, este vocal é marca registrada dela, aquela coisa "soul", sempre presente nas gravações), ai!!! ainda um órgão hammond com caixa leslie, e um pianista - SERÁ ELA??? que no começo faz um solo de chorar. Como não se arrepiar?

Favoritas que não me canso de escutar: I Say a Little Prayer (pop anos 60 adorável, fico dançando sozinha), I Never Loved a Man (The Way I Love You), Respect (que foi regravada naquele filme recente (ops! recente?) do filme The Blues Brothers), Chain of Fools, Trouble in Mind, Muddy Waters, (You Make Me Feel Like) A Natural Woman, Baby I Love You, Never Let Me Go, Without the One You Love, Night Life (gravada por B.B.King tb), Nobody Knows The Way I Feel This Morning (bluesão), People Get Ready (gospel), Somewhere (do filme West Side Story, sua versão é jazz!!!!), e por aí vai, não dá pra citar todas. Outra favorita: Hey Now Hey (The Other Side of the Sky) -começa funkão, depois uma mudança repentina prum clima melosão, aí volta funkão, aquele baixo a mil. Outra favorita: Niki Hoeki, com um baixo também maldito, do álbum -Aretha: Lady Soul- Tem também o disco gravado ao vivo com o saxofonista King Curtis, ma-ra-vi--lho-so!!!

Apesar de seu auge ter sido nos anos 60 e 70, ela continua na ativa até hoje, gravando e ganhando prêmios, como por exemplo em 1991 -prêmio pelo conjunto da obra- e os dois Grammy pela melhor performance vocal de R&B Tradicional (em 2004 com a música Wonderful e em 2006, com A House Is Not A Home), assim como fazendo participações em filmes (Os Irmãos Cara de Pau- The Blue Brothers, de 1980 e 2000) e documentários (Immaculate Funk, em 2000, Tom Dowd and the Language of Music, em 2003 e Singing in the Shadow: The Children of Rock Royalty, também de 2003). O que ela fizer, vai ter sempre milhares de fãs a lotar seus shows, pois ela é a legenda viva do R&B, representante de uma época de efervescência cultural, criativa e importantíssima na História da Música do nosso planeta. Uma diva.

Linda adorável encantadora, minha Ariiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiita!!! eis-me aqui a te adorar!!!!

2 comments:

Yelloweesa said...

Ótima essa aula sobre Aretha! Também adoro ela, mas não sabia muito de sua trajetória. Valeu, Di! "Tem outras coisas" também é cultura, e como! Beijos

Yelloweesa said...

eu de novo, é que esqueci de dizer que depois de ler seu texto, me deu vontade de ouvir Aretha. Ainda bem que tenho alguma coisa, uffa!!
É o que ouço agora enquanto digito e leio sobre a música do Sol. Que coisa incrível!