Li no outro dia que vão fazer um filme sobre a Hypatia, egípcia de origem grega nascida em Alexandria no século IV. Quem era esta mulher, e por que eu nunca tinha ouvido falar dela? Fiquei curiosa, e dei uma pesquisada. Fiquei besta: a sua importância é imensa, ela foi fundamental para o desenvolvimento da matemática. Durante séculos sua obra serviu de base para o ensino de gerações. Foi a primeira mulher matemática da história da humanidade de que se tem conhecimento (à propósito, li que 12% dos matemáticos da Grécia Antiga eram mulheres. Um número surpreendente. Só de curiosidade: qual seria a porcentagem hoje em dia?). Escreveu livros sobre geometria, álgebra e astronomia, além de aperfeiçoar os primitivos astrolábios e, se interessando por mecânica, inventou o hidrômetro (aparelho que mede a densidade e a velocidade dos fluidos). Publicou trabalhos sobre seções cônicas, desenvolvendo os primeiros conceitos sobre hipérboles, parábolas e elipses. Cartografava os corpos celestes, mapeando os astros das mais variadas galáxias. Eis o que o historiador Sócrates Escolástico fala dela: “Havia uma mulher em Alexandria que se chamava Hypatia, que alcançou tais avanços na literatura e ciencia, que se sobrepos em muito a todos os filósofos de seu próprio tempo. Havendo sucedido a escola de Platão e Plotino, explicava os princípios da filosofia a seus ouvintes, muitos dos quais vinham de longe para receber sua instrução. Por causa de seu autodomínio e auto-confiança, ela frequentemente liderava os ambientes da intelectualidade. Tampouco se retraía ao frequentar assembléias compostas só de homens, pois todos admiravam-na e respeitavam-na imensamente pela sua extraordinária dignidade, virtude e sabedoria”.
Hypatia foi filha de Theon de Alexandria, renomado matemático e astrônomo, e foi primeiramente através dele que Hypatia desenvolveu seu gosto pelas questões científicas. Mestre em matemática, ela se dedicou também aos estudos de filosofia, religião, oratória, se dividindo entre Atenas e Roma, criando uma rede de mestres e alunos que a seguiam. Em torno do ano 400, virou líder dos neoplatônicos alexandrinos, e para sua casa se dirigiam sábios e intelectuais de todo o mundo para assistir suas aulas. Nesta época, o Egito havia se convertido numa das mais importantes comunidades cristãs do mundo, pressionando e perseguindo outras religiões, que passaram a ser vistas como heresias, como o paganismo e outras variantes de fé cristãs. Os neoplatônicos foram particularmente pressionados, a ponto de muitos acabarem se convertendo ao cristianismo. Como Hypatia era pagã, neoplatônica e cientista, ela era triplamente vista como herege.
Em 412, Cirilo foi nomeado patriarca de Alexandria, e o prefeito desta cidade era Orestes, aluno e amigo de Hypatia. Cirilo e Orestes eram rivais políticos: igreja e estado lutando pelo poder. Conta a história que Cirilo, passando por uma casa, viu um movimento intenso de entra e sai, portas sendo empurradas, homens e cavalos, uns vindo, outros partindo, e ainda uma multidão parada ali em frente. Quando perguntou o que estava acontecendo e de quem era a casa, responderam que era da filósofa Hypatia e que ela estava no meio de uma fala, discursando para uma platéia. Foi aí que ele se deu conta da força e do poder que tinha esta mulher, e a partir deste dia foi planejando o seu linchamento brutal, com detalhes de crueldade bárbaros. E num dia do mes de março, no ano 415, em plena quaresma, uma horda de cristãos e fanáticos, formada pelos seguidores de Cirilo, pegaram-na e arrancaram suas roupas, arrastando-a violentamente para a igreja e ali Hypatia foi ferozmente esquartejada. Sua carne foi raspada dos ossos com a borda afiada de conchas de ostras, e seus membros atirados às chamas.
Um pouco antes, a Biblioteca de Alexandria havia sido reduzida a cinzas por monges fanáticos cristãos, depois acabaram com os jogos olímpicos e em 529 fecharam a Academia de Platão. A morte de Hypatia marca o fim do mundo pagão e o fim do progresso da ciência e da tecnologia pelos próximos mil anos, quando o mundo entraria nas mais profundas trevas.
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07 June 2009
06 June 2009
é muito triste
A morte. Se pudéssemos escolher como morrer e quando, os seres humanos seriam melhores, acho.
É muito triste. Penso nas famílias que perderam suas pessoas queridas, seus amigos e penso nas pessoas que se foram. Tenho muito medo de avião, nunca viajo numa boa, mas enfrento. Agora vai ser muito mais difícil. Sei que é o meio mais seguro, sei que tem milhões decolando e aterrisando diariamente, cada hora, cada minuto, sei que preciso visitar minha família, sei que não vou gostar de mim se eu deixar este medo ditar a minha vida, mas na hora é algo mais forte, não é racional, é inconsciente. Detesto a sensação de estar lá em cima flutuando numa máquina que pesa toneladas, mas não há outra maneira de eu ver a minha família, a não ser esperar que eles venham pra cá pra me visitar. Pra poder ter dias maravilhosos e inesquecíveis com eles, tenho que viver horas de tortura. Fazer o que?
Não quero pensar mais nas pessoas que sacaram que iam morrer naquele maldito vôo, o desespero que sentiram. Que tristeza. Que horror. Ninguém deveria passar por tamanho pavor. Pessoas do bem, cheias de saúde, cheias de sonhos, cheias de idéias, cheias de coisas a fazer ainda, felizes por estar fazendo uma viagem tão linda.Todas com suas histórias bonitas: não tem um assassino, um mau-caráter, um ladrão, um psicopata, um foragido... um avião cheio de boa energia, boa vibração, como é que um avião destes cai???
Agora só viajo com gente que não presta. Se pudesse escolher...
E Deus?
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