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O pato
vinha cantando alegremente
quém quém
quando na frente seu caminho virou dois
não sabia pronde ia
vou pra cá vou pra lá?
A vida, entre outras coisas, é um caminhar repleto de encruzilhadas, e cada vez que a gente dá de cara com uma, a gente tem que escolher pra onde ir, senão fica parado ali de bobeira, a vida passando, e a gente ali parado a ver naviões.
Optar. Escolher. Ora trôpegos, ora convictos, ora iludidos, errando pra caramba pra acertar da próxima vez, a gente vai decidindo com cores, dores e sabores a nossa vida.
É um pouco assustador isso... saber que está tudo nas nossas mãos... Não que a gente tenha o controle das coisas, não, nada disso... elas acontecem independentes da nossa vontade. A maneira pela qual vamos (re) agir a isto é que está em nossas mãos. Que atitude tomar quando o imponderável ponderar-se sobre nós?
O pato em questão vê seu caminho virar dois, e não sabe pra onde leva nenhum deles. Decidir assim é um salto no escuro, tanto faz escolher um ou outro, vai-se pela sorte. Intuição. Molha-se o dedo indicador na língua, aponta-se para o alto e segue-se a direção do vento. Mas optar, escolher, ponderar, por na balança as perdas e ganhos, os prós e contras, ai! isso coça.
Que situação: pra cá ou pra lá? isso ou aquilo? faço ou não faço? vou ou não vou? falo ou não falo? Tem que escolher. Tem que optar. E optar significa se privar. Chato, né? Il faut choisir, et choisir c'est se priver.
Pra mim, decidir é muito difícil, penso muito, crio mil histórias na cabeça, muitas suposições. Pode se tratar de uma coisa banal, como escolher a cor de uma camiseta. Ou então algo mais sério, como por exemplo, uma profissão... ter animal doméstico... engravidar... morar no mato ou na cidade... se separar de alguém... E se for deixando, é pior, porque a angústia da dúvida fica pairando no ar que nem morcego tirando rasante das mangas maduras na mangueira. Mas também, decidir vencida pelo cansaço é um risco... o dia seguinte pode amanhecer amarelo desespero!!!
Talvez seja difícil porque nem sempre a gente sabe o que quer, ou reconhece o que quer, ou tem coragem de querer ou não querer. O desejo também não é estático- acompanha as batidas do nosso tambor- e um dia a gente acorda não querendo mais o que tanto pensava querer, ou nos surpreendendo em querer coisas nuncantes queridas... A gente também não muda? a gente também não é multifacetada? nosso querer também. Tem ainda o Inconsciente, que nos rege, o poderoso irrefreável incontrolável Inconsciente. Tem ainda o universo, galáxias e estalactites em cada um de nós, buracos negros pessoais e intransferíveis. Bota isso tudo num caldeirão, mexe e -está formado o grude!!!
O ganso
gostou do pato e fez também
quém quém
jogaram par ou ímpar
e foi assim
que decidiram ir em frente
cair nágua
muito bom muito bem