07 June 2009

Hypatia

Li no outro dia que vão fazer um filme sobre a Hypatia, egípcia de origem grega nascida em Alexandria no século IV. Quem era esta mulher, e por que eu nunca tinha ouvido falar dela? Fiquei curiosa, e dei uma pesquisada. Fiquei besta: a sua importância é imensa, ela foi fundamental para o desenvolvimento da matemática. Durante séculos sua obra serviu de base para o ensino de gerações. Foi a primeira mulher matemática da história da humanidade de que se tem conhecimento (à propósito, li que 12% dos matemáticos da Grécia Antiga eram mulheres. Um número surpreendente. Só de curiosidade: qual seria a porcentagem hoje em dia?). Escreveu livros sobre geometria, álgebra e astronomia, além de aperfeiçoar os primitivos astrolábios e, se interessando por mecânica, inventou o hidrômetro (aparelho que mede a densidade e a velocidade dos fluidos). Publicou trabalhos sobre seções cônicas, desenvolvendo os primeiros conceitos sobre hipérboles, parábolas e elipses. Cartografava os corpos celestes, mapeando os astros das mais variadas galáxias. Eis o que o historiador Sócrates Escolástico fala dela: “Havia uma mulher em Alexandria que se chamava Hypatia, que alcançou tais avanços na literatura e ciencia, que se sobrepos em muito a todos os filósofos de seu próprio tempo. Havendo sucedido a escola de Platão e Plotino, explicava os princípios da filosofia a seus ouvintes, muitos dos quais vinham de longe para receber sua instrução. Por causa de seu autodomínio e auto-confiança, ela frequentemente liderava os ambientes da intelectualidade. Tampouco se retraía ao frequentar assembléias compostas só de homens, pois todos admiravam-na e respeitavam-na imensamente pela sua extraordinária dignidade, virtude e sabedoria”.

Hypatia foi filha de Theon de Alexandria, renomado matemático e astrônomo, e foi primeiramente através dele que Hypatia desenvolveu seu gosto pelas questões científicas. Mestre em matemática, ela se dedicou também aos estudos de filosofia, religião, oratória, se dividindo entre Atenas e Roma, criando uma rede de mestres e alunos que a seguiam. Em torno do ano 400, virou líder dos neoplatônicos alexandrinos, e para sua casa se dirigiam sábios e intelectuais de todo o mundo para assistir suas aulas. Nesta época, o Egito havia se convertido numa das mais importantes comunidades cristãs do mundo, pressionando e perseguindo outras religiões, que passaram a ser vistas como heresias, como o paganismo e outras variantes de fé cristãs. Os neoplatônicos foram particularmente pressionados, a ponto de muitos acabarem se convertendo ao cristianismo. Como Hypatia era pagã, neoplatônica e cientista, ela era triplamente vista como herege.

Em 412, Cirilo foi nomeado patriarca de Alexandria, e o prefeito desta cidade era Orestes, aluno e amigo de Hypatia. Cirilo e Orestes eram rivais políticos: igreja e estado lutando pelo poder. Conta a história que Cirilo, passando por uma casa, viu um movimento intenso de entra e sai, portas sendo empurradas, homens e cavalos, uns vindo, outros partindo, e ainda uma multidão parada ali em frente. Quando perguntou o que estava acontecendo e de quem era a casa, responderam que era da filósofa Hypatia e que ela estava no meio de uma fala, discursando para uma platéia. Foi aí que ele se deu conta da força e do poder que tinha esta mulher, e a partir deste dia foi planejando o seu linchamento brutal, com detalhes de crueldade bárbaros. E num dia do mes de março, no ano 415, em plena quaresma, uma horda de cristãos e fanáticos, formada pelos seguidores de Cirilo, pegaram-na e arrancaram suas roupas, arrastando-a violentamente para a igreja e ali Hypatia foi ferozmente esquartejada. Sua carne foi raspada dos ossos com a borda afiada de conchas de ostras, e seus membros atirados às chamas.

Um pouco antes, a Biblioteca de Alexandria havia sido reduzida a cinzas por monges fanáticos cristãos, depois acabaram com os jogos olímpicos e em 529 fecharam a Academia de Platão. A morte de Hypatia marca o fim do mundo pagão e o fim do progresso da ciência e da tecnologia pelos próximos mil anos, quando o mundo entraria nas mais profundas trevas.

06 June 2009

é muito triste

Já tem uma semana que caiu este airbus da Air France, todo equipado, todo computadorizado, e no entanto isso tudo não serviu pra nada, aliás, até atrapalhou, porque o piloto ou não viu a área de tempestade, ou não estava na velocidade certa, ou estava na altitude errada, e tudo baseado no que o computador dizia. O computador falhou. Adoro a tecnologia, mas deixar que uma máquina substitua o piloto é loucura. Não dá pra entender, não dá pra aceitar. Só agora a Air France vai substituir os censores dos aviões daquele tipo, mas teve que esperar uma tragédia acontecer pra fazer isto??? houve vários alertas, estes aviões já tinham dado problema. Agora, passada quase uma semana, ainda não sabem a causa, e nem se tem a certeza de nada. Nem os destroços são confiáveis, podem não ser do avião. Dia após dia a gente procura no jornal algo que consiga explicar o que não tem explicação. E que definitivamente não podemos controlar.

A morte. Se pudéssemos escolher como morrer e quando, os seres humanos seriam melhores, acho.

É muito triste. Penso nas famílias que perderam suas pessoas queridas, seus amigos e penso nas pessoas que se foram. Tenho muito medo de avião, nunca viajo numa boa, mas enfrento. Agora vai ser muito mais difícil. Sei que é o meio mais seguro, sei que tem milhões decolando e aterrisando diariamente, cada hora, cada minuto, sei que preciso visitar minha família, sei que não vou gostar de mim se eu deixar este medo ditar a minha vida, mas na hora é algo mais forte, não é racional, é inconsciente. Detesto a sensação de estar lá em cima flutuando numa máquina que pesa toneladas, mas não há outra maneira de eu ver a minha família, a não ser esperar que eles venham pra cá pra me visitar. Pra poder ter dias maravilhosos e inesquecíveis com eles, tenho que viver horas de tortura. Fazer o que?


Não quero pensar mais nas pessoas que sacaram que iam morrer naquele maldito vôo, o desespero que sentiram. Que tristeza. Que horror. Ninguém deveria passar por tamanho pavor. Pessoas do bem, cheias de saúde, cheias de sonhos, cheias de idéias, cheias de coisas a fazer ainda, felizes por estar fazendo uma viagem tão linda.Todas com suas histórias bonitas: não tem um assassino, um mau-caráter, um ladrão, um psicopata, um foragido... um avião cheio de boa energia, boa vibração, como é que um avião destes cai???

Agora só viajo com gente que não presta. Se pudesse escolher...

E Deus?