18 October 2008

a vida é longa 2

Pois é, o título poderia muito bem ser Quando Fui Outra, como sugeriu o Adriano (aliás, título de um livro de Fernando Pessoa). Mas A Vida É Longa também é bom, porque é longa mesmo e a gente nem sempre se dá conta disto.

E continuando com a sessão de slides digitalizados, primeiramente vamos contemplar uma imagem minha de 73 no camarim do Teatro João Caetano, prestes a entrar em cena.

Amy Winehouse perde. Não a conheço pessoalmente, só sei pelos jornais que ela se detona legal. Era o que eu fazia naquela época. Mas no estilo Janis Joplin, Jimi Hendrix. Agora eu poderia estar perfeitamente onde eles estão, mas não era a minha hora. Estava escrito nas estrelas que eu iria sobreviver, morrer e nascer outra.
Anos 60-70. Outro momento histórico. Brasil em plena ditadura militar. Contestação, revolução, sexo drogas rock & roll. Tropicalismo. Quem viveu, viu... e vice-versa...

Depois em 77, carnaval na Cinelândia, com o Bloco que fizemos na Equitativa contra o leilão. Eu, de casa própria, com direito a chaminé e fumacinha saindo.

Super-popular, com um cardume de gente ao meu redor, uma tchurma unida de amigos inseparáveis, galera esta que eu pensava que fosse ser pra sempre, e eu ali no meio, centro das atenções. Boêmia, doidivana, espumante colarinho de chope, rascante que nem bagaceira...

A próxima é na praia em Salvador, 78.

Praia... sol queimando... ondas do mar... Estava em Salvador, trabalhando com o Smetak, morando na Boca do Rio, depois Itapoã. Praia... sol em brasa... ondas do mar... Como hoje só posso ir à praia quando o sol já se pos -ordens médicas- vejo esta foto e me lembro COMO eu era rata de praia, ia todo dia, ficava o dia todo, de manhã até o entardecer. Minha pele ficava tão escura, virava mulata... meus dentes e branco do olho ficavam que nem se estivessem na luz negra, aquele branco ofuscante... Claro que já tive queimaduras exageradas, tipo no dia seguinte mal conseguir abrir o olho, tudo inchado... pura fissura de começo de verão.

Mais uma. São João na Lagoa das Lontras. De perfil, Milton.

As festas juninas que eu organizava- eram verdadeiras produções- quando ainda a Lagoa das Lontras era da gente. No caminho para Miguel Pereira. Era o meu paraíso de infância, adolescência e de adulta. Sempre foi meu refúgio. Ali eu falava com os deuses. Desde que vendemos, não tive vontade mais de ir... era muita lembrança, e lembrança cansa. 40 anos de passado, melhores momentos da minha vida, não dá não! voltar e ver, voltar e sentir... ai não! muito triste.

Jamais me passou pela cabeça que iria deixar de beber, não iria pegar mais sol, não teria uma galera fiel e onipresente comigo pra cima e pra baixo, que Lagoa das Lontras iria me desaparecer do mapa. Se tivesse vislumbrado este futuro, talvez preferisse morrer e me emburacaria até um patético fim...

Mas não foi isto que aconteceu. A vida é longa. E eu ADOOOOOORO viver. É a coisa que mais gosto de fazer. Por isso morri pra de novo nascer. Várias vezes.
OUTRAS.

13 October 2008

a vida é longa


Perdi a conta de quantas vezes morri nesta vida. Pra de novo nascer, outra.
Quantas fui eu????? incontáveis.

Ao contrário do que parece, a vida é longa, o tempo é infinito... Mas a sensação hoje em dia é de que não há tempo pra nada, os anos vão passando cada vez mais rápidos... a gente lembra de uma coisa, parece que foi há um ano mas não: foi há tres!!! ainda há pouco estávamos em maio, e já estamos em outubro... e as lojas já estão vendendo enfeites natalinos! Mas basta olhar uma foto de, digamos, 30 anos atrás -que nem esta aí- pra sentir que foi há tanto tanto TANTO tempo... numa “outra encarnação”!!!

Mandei digitalizar uma porção de slides (!) antigos. Nos anos 70 e no começo dos 80, um dos baratos era fotografar em slides, depois chamar os amigos e fazer sessões. Ninguém tinha máquina de fotografar, mas os que tinham costumavam curtir esse barato. Pra começo de conversa, tinha que ter um projetor, um carretel onde colocavam-se pacientemente os slides (de cabeça pra baixo e de frente pra gente- cabiam uns 80...), e um pedaço de parede de preferência liso e branco. Às vezes pendurávamos um lençol branco, tinha que ser esticadinho, senão ficava todo mundo deformado. Umas cervejas, uma cachacinha, uns tira-gostos e pronto!!! era diversão para a noite inteira!!! uma trilha sonora, K7 ou vinil.

Nós ainda temos um projetor, já pensei em chamar os amigos para uma sessão, mas não acontece... Então resolvi digitalizar, porque assim posso também mandar certas fotos para aquelas pessoas queridas, algumas não vão nem mais lembrar, outras vão se enternecer, enfim... uma viagem ao passado sempre mexe um pouco...

O Eduardo, que fez a digitalização, ainda me surpreendeu com “bônus”: um dvd maravilhoso editado por ele mesmo com as fotos passando em efeitos especiais e com a trilha musical Fome de Javali, meu disco vinil. NOSSA, QUE REVERTÉRIO!!!!!! muitos dali ainda são meus amigos, muitos nunca mais vi, e muitos já se foram....

Mas sem essa de saudosismo. Estas fotos são lembranças de momentos engraçados, momentos queridos, momentos de muito amor e amizade, momentos de muita emoção, momentos de sonhos e esperança, mas nada de dizer que naquele tempo é que era bom, não, nada disso!!! a gente lembra dos bons momentos, e os maus (que eram muuuuuuuitos também, venhamos e convenhamos!!!!!) ficam guardados no inconsciente, a gente querendo sempre deletar, mas estão lá!!!!! É claro, estamos todos lindíssimos e mais jovens 25, 30 anos, mas naquela época isso não era garantia de felicidade não, sofríamos também as perdas e os danos e os contras daquela idade... por amor e paixão então AI QUE DOR!!! era uma loucura... uma procura... uma quentura.... fora o horror que era viver sob uma ditadura (essa rima nem foi proposital....). Pois é, nem dá pra comparar com os tempos de agora, eu pelo menos estou mais feliz porque hoje me entendo um pouquinho mais, entendo um pouquinho mais as pessoas e este mundo em que vivo. Entendo justamente porque posso olhar pra trás. E não sou tão radical.

Ver estes 400 slides digitalizados também me fez pensar numa coisa: como é difícil abandonar o antigo personagem, seus hábitos, seus desejos... a gente vai mudando, vai morrendo e nascendo outra, mas não é como apagar uma coisa escrita a giz no quadro-negro.... nem é como acordar um dia, se olhar no espelho e dizer- mudei. Entre uma coisa e outra está uma zona de nebulosidade que pode durar meses e até anos. Aí a gente faz coisas que a outra fazia, mas sem sentir o mesmo prazer, e até se violentando em certos casos... é sinistro.... desconcertante... mas continuamos a insistir, querendo ser alguém que a gente já não é, e vem aquela insatisfação exdrúxula, até chegar à simples conclusão de que- não dá mais. Mudamos. Mas custa (em vários sentidos).

Vou postar outras fotos desta viagem no tempo.