18 August 2008

se eu fosse você...


se eu fosse você...

... eu faria....

esta é uma das frases mais absurdas que alguém pode pensar e dizer. Se eu fosse você? como é que a gente pode dizer o que faria se fosse uma outra pessoa? que pretensão!! a gente sabe o que está dentro do outro? e mesmo que se tratasse de uma pessoa que conhecemos durante décadas, mesmo que ela possa ser parecida com a gente, ter os mesmos gostos, falar a mesma língua, mesmo assim, o que a gente sente é com o nosso sentimento, com a nossa cabeça, com o que vivemos. E mesmo que estivéssemos acostumadas por looongos anos com as reações do outro, a ponto de achar que o conhece muito mais que bem, as pessoas mudam, e sempre podem vir a nos surpreender, assim como nós nos surpreendemos com certas atitudes nossas, que nuncantes havíamos tomado... ou não?

Cada um é um universo inteiramente distinto, cada um vai desde neném reagir diferente em relação a cada minuto que passa... o seio da mãe, o calor de um colo, comidas novas, um irmão que nasce na família, a escola, férias, uma briga com um colega, uma nota baixa, um passeio com o pai, a sensação de pisar na areia, um banho de cachoeira, ser passada pra trás, discussões em família, namorados, sexo drogas e rock n'roll... é uma própria vida individual pessoal intransferível que se forma e se transforma, e assim a gente vai se virando aqui e ali, tentando fazer o melhor, os anos vão passando e criamos alguma coisa como uma personalidade, um caráter, opiniões. Como então alguém pode chegar e me dizer que faria assim ou assado como se fosse eu? como, se fosse eu? ora, se você fosse eu, ce faria exatamente o que eu fiz!!! a pessoa ainda diz achando nas entrelinhas que ela é que está certa, e se sente gabaritada a opinar, assim como dando um conselho. Quem está fora do nosso turbilhão individual pessoal intransferível opina pelo que vê por fora somente. Vá viver lá dentro, vá, pra ver o que é bom!!!

E mesmo quando alguém nos pede opinião, é bom deixar sempre bem claro que - "mas você é quem sabe!" Vamos sempre estar de fora, e ter uma visão que nem a de um satélite lá no alto do céu que vê um tornado rodopiando, contorcendo as casas e destruindo as pessoas aqui embaixo na terra e achar que é um algodão doce... Às vezes até funciona, é até bom, ajuda, mas... quem sabe de si é "si mesmo"!!!

16 August 2008

morreu o Caymmi


Morreu o Caymmi. Eu tava no quarto fazendo coisas, Nelson veio me falar (a tv tá sempre ligada, com ele na frente), interrompi o que tava fazendo e fui ver. Me deu uma tristeza tamanha. Claro, sabia que ele tava doente, sabia que ele tinha 94 anos (a idade que teria meu pai se estivesse vivo... eram amigos "naquele" tempo), mas fiquei triste mesmo assim. É como se estivesse morrido um pedaço de mim. Pra mim ele era pra sempre, pois desde que me entendo por gente, ele existe, faz parte do meu viver. Muito do meu entender do mundo foi através dele. Não posso nem dizer qual a música que gosto mais... são tantas... são tantas... e marcaram a minha vida tanto e com tanta intensidade... muito mais que Jobim, João Gilberto, talvez qualquer outro, nem me lembro agora no momento quem me influenciou tanto assim... Luiz Gonzaga?? sei lá...

Caymmi foi o precursor de tudo que está aí: sua voz profunda e seu violão, só voz e violão pela primeira vez, pela primeira vez temas sobre o mar, tragédias de jangada não voltar, sobre a Bahia que eu não conhecia (ce não foi à Bahia? não? então vá!) e passei a querer conhecer tanto (minha avó era baiana) por causa dele, e quando a conheci me apaixonei e quis morar lá pra sempre, e amo até hoje, é a terra que escolhi pra morar, apesar de morar no Rio...

Meu pai me embalava com suas músicas, tocava no violão, cantava, a gente cantava junto, era tão presente, tão familiar...

A imagem que tenho de Caymmi é de uma pessoa doce, meiga, bonitão, tranquila... me lembro dele com aqueles olhinhos revirando, que a Carmen pegou bem e incorporou ao seu jeito de cantar... foi ela que o lançou, com a música O Que é Que a Baiana Tem? no filme Banana da Terra, acompanhada pelo Bando da Lua (meu pai)... me lembro de uma vez ver o Caymmi contar que a Carmen não conseguia lembrar na gravação da lista de coisas que fala a letra, e ele ficou na frente dela, apontando, fazendo mímica- corrente, bata, brinco, pulseira, sandália, saia engomada... posso imaginar a cena direitinho...

Morreu o Caymmi, mas não morreu.

11 August 2008

mas tem uma questao...


mas tem uma questão... a gente pode não gostar de início de uma coisa, mas vai acostumando, depois acaba vendo que gostava daquilo, mas não sabia. E o contrário também: achar que tá adorando, aí acostuma, vai pesando, vai pesando, mas como a gente acostumou, não nota, até que acontece uma coisa pra interromper, às vezes até um movimento que independe de nós, aí a gente diz: caramba! como pude aguentar por tanto tempo???

Acho que foi isto que aconteceu com esta Pata de Vaca, que de árvore virou trepadeira!!!

10 August 2008

tres meses!!!!


Veja só: tres meses cravados sem escrever aqui no blog!!!!!!!! TRES MESES CRAVADOS!!!!! papagaio!!! macacos me mordam!!! cruzes!!! caracóis!!! céus!!! pindorama!!! melaleuca!!! Como passou voando. Como passou lento. Como passou. Como ainda não passou. Quanta coisa aconteceu e virou passado. Quanto ainda está no presente de cada dia meu... Bem, aqui e agora estamos em pleno quase meio de agosto, e quero retomar o rítmo, ali na aquarela, acolá na música. E também, por que não? um pouco de prazer: por no colo e acariciar os gatos, brincar com as cachorras. Ver os amigos, um filme. Fazer uns almoços e chamar gente, mandar presentes pros que estão longe. Plantar minhas sementes de cajá. Ver repertório. Cantar. Arrumar as gavetas, prateleiras. Jogar coisa fora. Assistir os pores-de-sol. Escrever letra, gravar uma música, imprimir camisetas. Ligar pra quem não falo há muito tempo. Coisas que a gente não faz por estar ocupada demais. Com outras coisas. Tem outras coisas. Coisas nada lúdicas ou aprazíveis.

Não faltaram motivos para esta ausência prolongada, mas disso todos já sabem, então bola pra frente! E uma das diferenças que venho sentindo ao dedilhar estas palavras que titubeiam que nem criança aprendendo a andar, é que acho que estou precisando de um novo grau de óculos. ou óculos de um grau diferente. ou mudar o grau dos meus óculos. Porque está tudo um pouco fora de foco. Oculista já marcado.

Novidade: entrei na musculação há um mes. Estava pra entrar há tempos- to com uma pequena osteopenia- mas agora sei porque demorei tanto pra me matricular. É muito chato! será que tem alguém que realmente gosta daquilo? acho que não. Né pussívi!!! Devem ter uma compensação! Acho que ficam pensando em desfilar saradões (e taradões) na praia, ego, vaidade, conquistas drásticas e bombásticas, aí aguentam aquelas séries repetitivas, aquela música altíssima na Transamérica, locutores contando piadas machistas aos berros, né mole não... Mas engraçado como são as coisas: fui me acostumando, e agora o rádio altíssimo não me incomoda tanto, chego a sentir um mini-minúsculo prazer físico quando exercito, e olha que minha série é mínima (dura uns 25 minutos, com um minuto de intervalo entre cada série), e nem chego a sentir, quando me dou conta, já foi...

A gente se acostuma a tudo. Dependendo do que for, o pior é se acostumar!!!

Isto me faz lembrar de um fato curioso. Morei numa época (morei em tanto lugar aqui em Santa, pulava constantemente de galho em galho), numa casa incrível na Rua Oriente, situada numa curva em que havia uma certa inclinação. A foto é da vista do segundo andar (tinha quatro, contando com o porão). O bonde passava na ida, descendo pro Largo das Neves, e na volta, subindo pro Largo do Guimarães. Na ida, ele vinha mais manso, freiado, pois era uma descida, mas na volta, engrenava numa reta, e lá vinha ele bufando correndo à toda, e quando fazia esta tal curva, parecia que ia se desgrudar dos trilhos e sair voando pra cima da minha casa, que nem touro em tourada. A primeira noite que lá dormi eu não havia me dado conta disso, e quando às 5 da manhã passou o primeiro bonde, eu tive a nítida impressão de que ele estava ali no quarto, e que ia passar em cima da minha cabeça, me esquartejando!!! Levantei num só impulso, pra constatar que a casa meio que tremia junto comigo (era uma casa de uns 100 anos, à base de pedra), mas que desta vez pelo menos eu havia me salvado. Passei oito anos nesta casa, foi uma época maravilhosa, uma das melhores da minha vida, quanta recordação boa, quanta festa e alegria!!! e quanto ao bonde, nem escutava mais o bicho passar, incorporei ao tirintar dos bem-te-vis, ao latido dos cães, ao falar das pessoas passando, virou brisa na janela!

A gente se acostuma a tudo. A quase tudo. Por ser assim mesmo, é muito importante saber exatamente do que se gosta e o que se quer, pra não se acostumar com coisas que não tem nada a ver, que nos farão infelizes mais pra frente, porque depois a gente se acostuma com um monstrengo, e aí não tem santo que o desgruda... entenda-se por monstrengo qualquer coisa que não nos faça bem. Como, por exemplo, eu me acostumar a não escrever mais no blog. Viu como é fácil se acostumar? a gente nem percebe! mais uns meses e...

Pior é se acostumar!!!