30 January 2008

o ovo da serpente


Parece uma coisa normal. Uma coisinha engraçadinha. Pra gente achar bonitinho e rir. Brincadeirinha. Penduradas num camelô do Largo da Carioca (tem tb em outros lugares, mas é lá que passo constantemente). Umas camisetas de criança (tem tb pra adulto, mas esta era pra criança) escritas na frente SALVE GATINHOS e atrás AFOGUE OS FEINHOS.

Democracia é assim, qualquer um pode externar seu ponto de vista. Dizer qualquer coisa. Mas... esta frase é democracia?????? Isto é puro nazismo, totalitarismo. Como pode uma camiseta destas vender? quem compra? afogar é matar. Matar os feios? a criança que veste uma coisa destas, dependendo da idade, nem sabe ler ainda, é inocente na história. Ou os que já sabem ler... andar por aí achando justo afogar os feios... Que mãe compra isto? que pai? quem compra? com certeza devem se achar bonitos. O filho pode ser um monstrinho de feio (mas como são os pais, não acham, pois o pimpolho é carne da mesma carne, nasceu deles...). Eles nem ventilam a hipótese que um louco na rua pode achar que a criança é feia, lê aquilo escrito em sua camiseta- afogue os feinhos- e vai seguir à risca??? ou então alguém olhar e começar a rir pelo absurdo da situação????

A versão de adulto, além de nazista, é também machista, com um -salva gatas- na frente. Atrás- afogue as feias. Pode ser que eu esteja errada, mas deve ter sido um homem que bolou este pensamento genial, porque não vi nenhuma versão pra mulher.

A camiseta (T-shirt) é originária dos Estados Unidos, era indumentária do povão, trabalhador, operário, mas foi nos anos 60 que ela se glamourizou e se universalizou. Pra nós hippies, passou a ter uma nova função: revolucionar o sistema careta conservador da época. Era a nossa arma para difundir pensamentos, ideais, utopias, frases que expressavam nossos sentimentos e nossas ações ("leia na minha camisa"- verso de Baby, de Caetano). Também pintávamos camisetas das maneiras mais criativas: imagens pintadas à mão, ou com várias técnicas (por exemplo, aquela em que enrolávamos uma camiseta e amarrávamos com barbantes, mergulhávamos a dita cuja na tinta guarany, depois era só secar e tirar os barbantes, e pronto: uns desenhos lindos, concêntricos, verdadeiras mandalas. Também com cera (batik) e tantas outras técnicas que aprendíamos ou inventávamos.

Trinta anos depois, e me deparo com esta camiseta nazista. Vendendo ali ao ar, livre ao léu.

Uns dizem- que bobagem diana! é uma brincadeira! Não é pra ficar irada deste jeito! Não se deve levar isso tão à sério!

Não acho. Isto é o próprio ôvo da serpente. Vemos o ôvo, branquinho, aparentemente inofensivo, mas dentro dele se esconde o que há de mais perigoso. É como no começo da ascensão de Hitler. Ninguém acreditava que fosse dar no que deu. Debochavam dele. Uns diziam que era um palhaço. Só uns poucos previam o horror que acabou sendo. Hanna Arendt (to lendo a biografia dela, depois vou comentar aqui em outra ocasião) foi uma desses poucos.

E o germe tá solto por aí, vivinho da silva. O neo-nazismo tá forte na França, Alemanha, o fascismo na Espanha, EUA, Inglaterra, e não pensa que aqui no Brasil a gente escapa não. Esta camiseta é um pequeno detalhinho, mas é a tal coisa- o ôvo da serpente. Senão o que é a atitude destes rapazes de classe média espancando empregada, pondo fogo em mendigo, e por aí vai????? e tem mais...

Todo cuidado é pouco.

19 January 2008

Roberto Carlos em Detalhes


Acabei de ler Roberto Carlos em Detalhes, livro "proibido" (pelo próprio) de Paulo Cesar de Araújo. Sensacional. Lê-se sem querer parar. O título é perfeito, pois o Rei é detalhado detalhadamente em detalhes mínimos e íntimos. Não há uma única palavra falando mal do homenageado, pelo contrário, foi feito por alguém que o idolatra, por isso é ainda mais estranho que RC tenha tirado os livros de circulação. Durante 15 anos o autor pesquisou não só sobre o RC, mas também sobre tudo tudo tudo que pudesse ter a ver com ele... tudo, e ainda mais sobre o ambiente musical, fonográfico, televisivo, produção cultural... um verdadeiro documentário focando principalmente os anos 50 a 80!! O livro chegou a ser lançado, mas rapidamente tirado de circulação, com a questão indo a juízo, vencendo o RC. Rapidamente foi lançado na internet, existe o exemplar virtual, mas... quem vai ler 500 páginas assim? bom é folhear, ver as fotos, sentir o peso (um tijolão!) do exemplar nas mãos. Livro é livro, insubstituível.

Uns dizem que é porque ele relata o episódio do acidente, mas não acho. Não seria segredo pra ninguém mais esta tragédia. E o autor conta o caso com muita sensibilidade.

Foi no feriado do santo padroeiro de Cachoeiro, a cidade estava em festa, desfiles, músicas, bandeiras, discursos...Zunga (seu apelido de infância) e mais a Fifinha, uma amiguinha, se juntaram à multidão pra ver um desfile escolar. Uma velha locomotiva foi fazer uma manobra perto de onde estavam as duas crianças, uma professora se assustou e empurrou a menina pra calçada, Zunga se assustou com o movimento brusco daquela pessoa desconhecida, e caiu no trilho. Nisso a locomotiva foi chegando e avançou por cima da perna dele. Gritaria, corre-corre, ele ali deitado, se esvaindo em sangue. Nem deu tempo de esperar ambulância, um rapaz pegou o paletó de linho branco e deu um garrote na perna da criança. "Até hoje me lembro do sangue empapando aquele paletó. E só então percebi a extensão do meu desastre", diz Roberto, que desmaiou logo depois que foi socorrido. A professora, querendo evitar uma tragédia com duas crianças, provocou um acidente com uma.

Desde criança ele já mostra dotes musicais, se apresentando em festinhas, clubes e na radio local. Ele vem pro Rio pra tentar a sorte, e a família resolve depois se juntar a ele, na casa de uma tia em Niterói. Depois se mudam pro Lins, onde entra num curso de datilografia e conheceu Otávio Terceiro, que trabalhava com um produtor de TV, que chama o RC pra cantar no programa Teletur, segundas à noite na TV Tupi. Apesar de já ter se apresentado na TV, esta foi a sua estréia profissional, aos desesseis anos de idade, em 1957. Ganhou 200 cruzeiros velhos e deu tudo à mãe, pois era muito dinheiro pra ele administrar!!

É tudo contado nos mínimos detalhes, e vira um filme diante dos olhos, e coisas que só ouvi falar, mas não sabia como tinha sido, e nem havia onde procurar informação a respeito: por exemplo, o movimento musical que nasceu na Tijuca, composto de gente que depois ficou famosa. Quem os apresentou foi Arlênio Lívio, seu amigo do Colégio Ultra (onde cursavam o Artigo 91- uma espécie de supletivo, ginásio em 6 meses), e passou a frequentar o Bar Divino, na Rua do Matoso, onde conheceu Jorge Ben (do Rio Comprido), os rapazes dos Fevers (do Méier), outros do Renato e seus Blue Caps (da Piedade), Sebastião (depois Tim) Maia, que liderava um quarteto vocal chamado The Sputniks (o satélite russo que tinha sido lançado, que inspirou tb o nome do filme brasileiro O Homem do Sputnik), e os ensaios eram na casa do pai do Tim, com direito a lanchinhos nos intervalos, quando seu Altivo Maia os brindavam com rabanadas feitas por ele mesmo.

Da primeira vez que RC ouviu a batida do Tim tocando Long Tall Sally, ele confessa: "ouvi atentamente, fui pra casa e fiquei tocando a noite inteira. Aquilo mudou a minha forma de tocar (Tim vinha da escola do Little Richard, James Brown, artistas da Motown gravadora americana. Soul music). RC começou então a fazer parte do The Sputniks, mas curiosamente, quem era o crooner principal era um outro integrante, porque nem o Roberto nem o Tim tinham uma pronúncia muito boa no inglês. Mas RC não ficou muito tempo no grupo, o suficiente pra conseguir se destacar e se apresentar sozinho no programa na TV Tupi Clube do Rock, de Carlos Imperial terças a a uma da tarde.

E o começo da amizade com Erasmo foi quando, numa tarde de abril de 58, RC precisou da letra de Hound Dog, sucesso de Elvis Presley, e este mesmo Arlênio conhecia um cara que "sabia tudo sobre o Elvis"- era o Erasmo (Esteves, ainda não era Carlos)- e fez o contato. A parceria só viria a se concretizar 5 anos depois, mas foi aí que eles selaram sua amizade que dura até hoje (a parceria tb).

João Gilberto foi uma verdadeira revelação pra RC: o fraseado sincopado do cantor e os incríveis jogos ritmicos entre voz e violão deixaram-no encantado. "Nunca tinha ouvido nada parecido antes. A forma de ele cantar, a colocação da voz, a emissão, a afinação, a divisão, tudo ali era perfeito. Quando ouvi João Gilberto, eu fiquei parado, porque aquilo era algo simplesmente maravilhoso". Este acontecimento deu a RC mais ânimo pra continuar a tentar a carreira artística. Pois com sua voz pequena, porém afinada e bem colocada, RC poderia também ser um astro de música popular. Então foi ser crooner na Boite Plaza, tendo como maior influência o João Gilberto, com repertório de bossa-nova e samba canção. Quem o acompanhava ora era o grupo do guitarrista Bola Sete, ora o grupo do tecladista Zé Maria, ora pelo conjunto do saxofonista Barriquinha, cujo pianista era o João Donato, que aconselhava RC a balançar mais: "tá legal, afinadinho, mas tem que ter mais balanço". E uma noite, aconteceu o encontro entre o criador e a criatura. RC ficou nervosíssimo, e João fala ao autor: "lembro quando entrei na boate, Roberto estava cantando Brigas Nunca Mais. Achei o menino muito musical".

Depois de uma verdadeira peregrinação às gravadoras, conseguiu finalmente na Polydor, um compacto simples estilo bossanovista. Foi o primeiro de sua geração a gravar um disco, e o primeiro a registrar a influência de João Gilberto. Não fez o menor sucesso, e finalmente chegou à conclusão de que imitar JG era uma furada, nunca ia chegar ao sucesso neste caminho. João era único. Continuando a cantar nas boates, rádios e circos, estes às vezes de lona rasgada, dias de chuva, e quase ninguém na platéia. Gravou uns outros compactos, mudou de gravadora, o rock começou a invadir o planeta, apareceram The Beatles. Numa noite no ônibus, vindos de uma festa em Copacabana, Erasmo mostrou a ele uma versão que estava fazendo pra Splish Splash, cantada por Bobby Darin, e RC adorou, gravou e pronto!- foi o seu primeiro grande sucesso, mas ainda não em âmbito nacional. Esta gravação foi importante porque vinha com uma sonoridade nova, arranjos modernos ao estilo Beatles, sem aqueles inevitáveis e datados dos anos 50 solos de sax característicos daquele período. É verdade que em músicas posteriores ele chegou a usar o solo de sax, mas esta gravação de Splish Splash foi um marco, super-antenado com a modernidade.

Mas a turma começou a sacar que ficar fazendo versões de músicas estrangeiras não ia levar a lugar nenhum, o negócio era compor suas próprias canções. Roberto Carlos considera o Parei na Contramão sua "moedinha nº 1", sua primeira parceria com Erasmo Carlos. Foi um sucesso, mas ainda assim só atingiu a garotada interessada em rock, mas não havia dúvida: o caminho era por aí. Na sequência, o retumbante sucesso, gravado por Ronnie Cord- Rua Augusta, com temática de carros, garotas e velocidade. Composta por ninguém mais ninguém menos que o pai do cantor, Hervé Cordovil, maestro e arranjador. Ora, o autor não era um jovem roqueiro, mas um veterano da música popular: foi parceiro de Noel e Lamartine Babo entre outros. Se aquele sucesso foi composto por um veterano de samba, por que eles, jovens, com o rítmo na veia, não poderiam fazer também?

Começaram a surgir cantores-compositores: Demétrius, Baby Santiago, Getúlio Cortes (um dos compositores que mais fizeram música pro Roberto). Em 1964, Roberto e Erasmo compuseram É Proibido Fumar, clássico do rock brasileiro. A partir daí, foi a escalada para o sucesso: contratado da CBS, com Edy Silva na divulgação, não parou mais.

Paralelamente à história do Rei, o livro analisa com detalhes a hístoria do rádio e o comêço da TV, a época dos festivais, a briga truculenta pela audiência, é pra se ler sem conseguir parar até chegar no final. Por exemplo, uma passagem importante, que pouca gente tem idéia, é sobre a "guerra" que se travou entre a turma da recém-formada sigla MPB contra o pessoal do Iê-Iê-Iê (me lembro bem desta guerra, eu era fã do RC e estava na Faculdade de Arquitetura, época de passeatas estudantis, assembléias da UNE). Aliás, foi graças ao Roberto Carlos que se institucionalizou esta sigla. Foi por causa do seu enorme sucesso que o ambiente musical popular de então se armou e se defendeu atrás desta sigla, que tinha um caráter marcadamente nacionalista, surgindo como uma bandeira de luta contra um outro tipo de música popular "não-brasileira", confundindo o rock nacional com alienação política, entreguismo cultural. Estava-se em plena ditadura militar. Realizavam-se reuniões onde pregavam-se idéias de arte nacional-popular, cultivadas desde antes do golpe militar desde 1961 no CPC (Centro Popular de Cultura), ligado à UNE (União Nacional dos Estudantes). O CPC reunia artistas de teatro, música, cinema, literatura, artes plásticas, e seu projeto era a construção de uma cultura nacional, popular e democrática, por meio da conscientização das classes populares. Partia em defesa de nossas tradições musicais contra a internacional americanização. A Jovem Guarda sofreu um patrulhamento e uma dura perseguição, como se fosse um terrível inimigo.

No meio disso tudo, aconteceu o I Festival da TV Excelsior, Ellis passou a ser a maior estrela da música brasileira com o sucesso do seu programa O Fino da Bossa na TV Record e o seu LP Dois na Bossa (com Jair Rodrigues) em 65. Ellis viaja no fim do ano e quando voltou, encontrou o cenário inteiramente transformado. Radicalmente!! 180 graus!!: Quero Que Vá Tudo Pro Inferno estourava estrondoso o dia inteiro em todas as rádios. O mega-sucesso nacional de Roberto e Erasmo, atingindo os brasileiros de norte a sul, de todas as faixas etárias, de todos os estilos musicais!!!! O programa da Jovem Guarda (do Roberto) estava liderando as pesquisas de audiência, o que fazer? Formou-se um movimento e uma marcação ferrenha contra. Foi afixado uma proclamação nos bastidores do Teatro Record, onde lia-se o seguinte texto: "Atenção pessoal: o Fino não pode cair. De sua sobrevivência depende a sobrevivência da própria música moderna brasileira. Esqueçam quaisquer rusgas pessoais, ponham de lado todas as vaidades e unam-se todos contra o inimigo comum: o Iê-Iê-Iê". A briga foi feia, o clima era de tensão, e o assunto gerava polêmica na rua, nas universidades, dentro e fora do meio musical. Naquela época, era que nem futebol: se ce não torcesse pelo mesmo time, o pau comia.

Outras informações interessantes: uma das mais importantes referências musicais de Roberto Carlos foi a cantora e compositora Dolores Duran, que era atração no Little Club no Beco das Garrafas, e ele no seu primeiro emprego de crooner na Boate Plaza. E a amizade com Claudete Soares, que defendia RC e gravou Como É Grande O Meu Amor Por Você. E Sylvinha Teles (tem um bom trecho falando sobre ela), que foi a primeira pessoa da MPB a cantar e gravar Roberto Carlos nos anos 50, enfrentando uma vaia estrondosa no Teatro Paramount.

Um ótimo capítulo também é sobre a imagem de rebelde que ele no início passou: não queria nada com casamento, mandava tudo pro inferno, infringia leis de trânsito, vai fumar mesmo sendo proibido, fala sobre a garota independente e liberada em É Papo Firme e por aí vai. Só o fato de usar cabelo comprido era tido como uma afronta à ordem, à família e à moral vigentes, e nisso o RC foi dos primeiros. Também foi de muita audácia ter se casado com Nice, uma mulher mais velha, desquitada e mãe de uma filha, sem se importar com os que diziam que isto iria arruinar a sua popularidade com as fãs. E também ficar 11 anos sem casar com a Myriam Rios.

Os capítulos são estes, na ordem do livro:
1. Força Estranha no Ar (RC e o rádio)
2 Little Darling (RC e a turma do suburbio)
3. Fora do tom (RC e a Bossa Nova)
4. Daqui pra frente tudo vai ser diferente (RC e o rock)
5. Jovens tardes de domingo (RC e a televisão)
6. Parei na Contramão (RC e a MPB)
7. O mais certo das horas incertas (RC e Erasmo Carlos)
8. Quando eu estou aqui (RC e o palco)
9. Ilegal, imoral ou engorda (RC e a transgressão)
10. Vou cavalgar por toda a noite (RC e o sexo)
11. Todos estão surdos (RC e a política)
12. Como vai você (RC e os compositores)
13. Amante à moda antiga (RC e o amor)
14. Uma luz lá no alto (RC e a fé)
15. Faço no tempo soar minha sílaba (RC e o sucesso)

E pra encerrar, a definição de Roberto Carlos dado por Jorge Mautner: "é o poeta popular das cidades do Brasil. Provinciano e puro, com ingenuidade de caiçara e urbano, fatalista e arisco, doce e nostálgico, rebelde e submisso, puritano e sexy, ídolo e cidadão humilde, eis o grande rei, situado exatamente na fronteira do permitido e do não permitido".

16 January 2008

medo de tempestade


Sempre que vem uma tempestade lá no horizonte se achegando, no calor do verão, fico apreensiva. Antigamente era muito mais. Quase não fico agora, mas ainda fico um pouco. É dos raios que não gosto, apesar de ficar fascinada com sua beleza. São tão lindos, tão imprevisíveis, tão radicais, tão violentos, tão assusstadores. Não é raro eu ler sobre gente morrendo de raio caindo, e eu me impressionando com o absurdo de uma morte assim. Assim como ser pegado de surpresa num barco no meio do mar. Ou num campo aberto. Ou numa rua afastada sem ter onde se abrigar. Sem ter pra onde correr. Um dos cenários de meus pesadelos. Conheci um rapaz que morreu no alto de uma escada, consertando o telhado de sua casa. Dizem que ficou que nem carvão. Mas tem casos loucos como aquele que é contado no livro Alucinações Musicais, de Oliver Sacks: um cara virou um pianista virtuosíssimo depois de ser atravessado por um raio, sem nunca ter estudado ou se interessado pelo piano antes!!!! Como saber o que nos espera, se nos arriscarmos a por esta experiência: a morte ou o estrelato??

Minha mãe foi uma camponesa russa morando nos States até os 18 anos, e ela respeitava estes deuses. Mais que respeitava: morria de medo. Quando eu era pequena e vinha uma tempestade durante a noite, eu e Lili minha irmã do meio, éramos acordadas e a família ia toda pra sala. Púnhamos os nossos congas (nome de uma marca de tênis da época) que tinham sola de borracha (ela dizia que isolava a eletricidade), e sentíamos tão seguros ali na sala abraçados aos nossos pais.

Talvez daí tenha nascido o meu medo. Eu tinha muito medo. Ficava muito tensa. Fechar janelas, que a faísca poderia atravessar a sala em direção de um metal ou espelho. Esconder metais e espelhos. Jamais tomar banho numa hora destas (a água atrai). Nem pensar em pegar numa tesoura ou faca. E morávamos num prédio na Rua Paissandu, no Flamengo, numa área urbana!!!!

E na Lagoa das Lontras, nosso sítio em Miguel Pereira? a casa ficava no mais alto morro, e dalí descorria-se uma vista esplêndida de 360 graus. Quando ouvíamos de longe aquela trovoada, bem ao longe ainda, pronto! acabava-se a alegria e nos preparávamos para o pior. Quando passei a beber, era o sinal pra eu correr pra venda e comprar uma garrafa de cachaça e voltar correndo. Às vezes, ficava ali mesmo na venda bebendo, achava mais seguro do que lá encima nas nuvens.

Ali, quem não tinha medo de raio passava a ter, porque ficávamos dentro da nuvem, tão pertinho do apocalipse. Aconteceu com vários amigos meus. Os estalos eram terrificantes, e raio e trovão eram quase simultâneos, clarão e estrondo medonhos encima da gente. Um horror, mas belo visto de longe. Força da natureza em toda sua grandeza.

Colocar um pára-raio encima da casa? havia controvérsias à respeito. Uns diziam que protegia, outros que era pior, assim atraía o raio pra casa direto. Bom mesmo era ter um há uns 10 metros afastado. Melhor ainda, ter árvores altas por perto. Bem, árvores altas nós tínhamos, e depois meu pai resolveu por um pára-raio perto da piscina, e não é que caiu um ali, deixando tudo chamuscado em volta, e uma marca em linha reta atravessando a dita cuja!!!! Ainda bem que não estávamos lá neste dia pra presenciar.

E as árvores ao lado da casa? as casuarinas que cantavam ao vento? volta e meia uma era atingida, virava carvão e morria, tendo que ser cortada.

Mas tudo isso ficou pra trás no tempo, são névoas de um passado feliz. Lagoa das Lontras não existe mais, não fico mais de porre por causa de uma tempestade, nem por causa de mais nada. Nem visto tênis pra isolar faísca. Posso agora ficar meio apreensiva, vou prum lugar seguro, mas tá tudo controlado. O que me fez escrever sobre isto tudo é outra história: tenho um gato que MOOOOOOOORRRRRRRE de medo de tempestade. Ismael. É um nome forte pra gato, mas na hora da tempestade ele vira um gatinho... Quando ele nasceu, eu já havia dominado o meu medo. Ou será que ele sentiu lá no fundo de mim o pavor em estado bruto que eu tentava domar? sei lá... só sei que quando rola o primeiro trovão muuuuuito longe ainda (ele ouve antes de mim!!!! fico sabendo que vem coisa por ele), ele começa a soltar um uivo triste, repetidamente, e se estiver dentro de casa, corre pra debaixo da mesa, onde tem uma viga e fica lá imóvel, chorando, de cabeça baixa. Rezando pro Grande Tigre talvez. E de lá não sai, chorando o tempo todo. Quando está lá fora, vai pra dentro de um caixote, ou atrás da máquina de lavar, algum lugar protegido e chora chora chora. Morro de pena, ponho ele no colo, e canto sua música pra ele. Cada gato aqui tem uma música. A dele é a melodia de Edelweiss do filme Noviça Rebelde, com uma letra minha que diz (eles adoram quando ouvem seu próprio nome):
Ismael Ismael
é um gato valente
Ismael Ismael
é meu gatinho fiel

E assim bicho e gente se consola.

12 January 2008

ache o bicho


Adoro fotografar, como já falei aqui. Seria a minha segunda profissão, se talvez nos anos 70 tivesse acesso. Mas agora sou amadora, amadora com uma intensidade de amar medonha!!!

Ninguém que chega aqui em casa escapa. Click click click. Os pores-de-sol. Os bichos. As plantas. Click click click. Depois da digital, é um xuáááá. Tira-se uma porrada, transfere, deleta as piores (às vezes estas até ficam, por preguiça, indecisão na escolha ou estética mesmo). Foto ajuda a gente se lembrar. É eternizar um segundo.

A minha maquininha é uma maquinona, aproveitei uma viagem pra ver a família em New Jersey e comprei, custou baratinho. É antigona, pesadona mas pro que eu queria, ela sempre me serviu: tirar foto-lembranças e mandar pela internet. Tira boas fotos. Agora tá começando a dar problema, não fixa certas opções que faço, o monitor apaga voluntariosamente, mas por enquanto tá dando pro gasto.

Neste exercício de jogar as piores fora, me deparo às vezes com umas que olho, olho, olho e me pergunto_ por que tirei esta foto? depois vou achar o porquê, escondidinho num canto, ou no meio de uma paisagem.

A brincadeira é achar o bicho. Que nem aquela série de livros "Ache o Wally". Wally era um rapaz gaiato de camiseta de manga comprida listada, óculos e touca vermelha na cabeça (era isso mesmo?). Muito bem desenhado, com detalhes mínimos, o autor escondia o Wally, e às vezes demorava pra achar.

Todos podem participar. Todas as idades e gêneros. Todas as classes sociais. É uma brincadeira democrática, e nem precisa concorrer, assinar, telefonar... achou, ganhou. Ganhou o quê? ganhou ué...

Primeiramente, a foto acima que abre o blog. Ache o urubu. Procure bem. É difícil, ce tem que saber o visual da ave bem, senão dança. E pior: tá.... Não, não vou dar dica.

Achou? agora a de baixo: ache o mico.


A próxima: ache o tucano (esta também é difícil, mas não desista. cê pode ganhar!!!)


E finalmente, uma colher de chá pra relaxar: ache a gatinha.


Tem mais, mas acho que já tá de bom tamanho. Passatempo prum fim de semana de intenso calor e bafo. Eu no ar.

11 January 2008

rir


Preciso rir. Preciso rir. Preciso rir urgentemente. Preciso achar que isso tudo vai um dia passar magicamente. Preciso dos amigos mais que nunca. Preciso não me levar tão a sério. Preciso fazer força pra rir, mesmo se estiver difícil. Preciso começar a transformar a dor em criação. Preciso ver comédias. Preciso de risadas do meu lado. Preciso de piadas. Bobas mesmo. Porque:

A person without a sense of humor is like a wagon without springs--jolted by every pebble in the road."
(Uma pessoa sem senso de humor é como uma carroça sem molas- sacudido por cada pedra no caminho)~Henry Ward Beecher

"Laughter is a tranquilizer with no side effects."(O riso é um tranquilizante sem efeitos colaterais)
--Arnold Glasow

"Laughter is by definition healthy." (O riso é, por definição, saudável)
--Doris Lessing


"If somebody makes me laugh, I'm his slave for life." (Se alguém me faz rir, sou sua escravo pro resto da vida)
--Bette Midler

"The human race has one really effective weapon, and that is laughter." (A raça humana tem, na verdade, uma única arma, que é o riso) --Mark Twain

 "What soap is to the body, laughter is to the soul." (O que o sabonete é para o corpo, o riso é para a alma)
-- Yiddish Proverb

"Laughter is an instant vacation." (O riso é um período de férias instantâneo)
-- Milton Berle

 "Laughter is the shortest distance between two people." (O riso é o caminho mais curto entre duas pessoas)
-- Victor Borge 

01 January 2008

salve!!!!!


... salve 2008!!! salve a alegria. salve o prazer. salve a amizade. salve o riso. salve o risco. salve o humor. salve o trabalho. salve a criação. salve a diversidade. salve a contradição. salve o surreal. salve o inusitado. salve o inesperado. salve o inexplicável. salve a coragem. salve o absurdo. salve o imensurável. salve o movimento. salve a imaginação. salve o sonho. salve a mudança. salve o coração!!!