28 October 2007

primavera


Ela chegou há pouco mais de um mes, e está no auge de sua beleza, trazendo estiagem, seguida de chuvas violentas. E calorzinho que faz lembrar que daqui a pouco estarei me derretendo nos 40 e poucos graus do verão carioca. Mas por enquanto, não quero pensar em coisa ruim. Por onde passo, as flores estão pipocando, explodindo.

Estas que estão na foto são os bouganvilles que plantei no canteirinho atrás de casa. Deram tão certo -apesar do fato de terem sido plantados em canteiro- mas cresceram tanto tanto, que tomaram conta do varal.

Aí tem na verdade quatro cores, apesar de eu ter só plantado três: maravilha, pêssego e coral. Acontece que o coral nasce rosa, então... fico um tempão contemplando, apreciando, e fico orgulhosa: fui eu que plantei. Bom pra quando se está triste, é só ir lá atrás, olhar pra cima e levitar. E cantar...

Primavera. E neste instante me lembro da música do Cassiano com este título, e que virou sucesso na voz de Tim Maia. Gosto muito desta gravação, mas a que mais me arrepia é a do próprio autor, uáu! a sua interpretação é o máximo, não deixe de escutar. A letra é de uma singeleza só, olha só... é uma das músicas mais lindas que conheço. Soul puro.

quando o inverno chegar
eu quero estar junto a ti
pode o outono voltar
eu quero estar junto a ti
porque
é primavera
te amo
é primavera
te amo
meu amor

trago esta rosa
para lhe dar
trago esta rosa
para lhe dar
trago esta rosa
para lhe dar
meu amor...

Sensível do jeito que tô, fico com lágrimas nos olhos...

26 October 2007

um olhar


Este olhar que cê tá vendo aí é da Emilinha, Poderia ser o meu. Nenhuma foto explica melhor o que estou sentindo neste momento. Pode parecer que tem tristeza, tem também, mas não é só. É um olhar profundo. O meu, além de tristeza e profundidade, tá perplexo. Tão perplexa estou, que não consigo estar inteiramente presente nas coisas que tenho que fazer. Tem um pedaço que tá perplexo e parado olhando um ponto fixo distante, e não vendo nada. Penso. De manhã à noite, penso. Mas penso nesta coisa só, neste nó no meu presente, neste vácuo no meu passado. Pensar pra entender, chegar mais perto do que poderia ser uma compreensão. Mas é difícil compreender alguma coisa com tantos sentimentos antagônicos embaralhando tudo. É difícil compreender alguma coisa quando não se entende nada. Cada dia penso o contrário... e enquanto estiverem voando lembranças palavras corações flechas e fígados num rodamoinho violento perfurando meu cérebro, não posso me mexer, além de pra dentro. Nada decidir numa hora destas.

Mas eu entendo sim. Acho que entendo. Não tudo. Haja coragem pra entender! Entender, virar a página e ir em frente... Emilinha, me ensina please!

15 October 2007

... e tantos mais...


... e tantos mais são as Plásticas Sonoras de Walter Smetak. Poderia ficar o ano inteiro falando disto. Mas vamos ficar por aqui, esperando que a exposição venha para o Rio. Aqui vão mais uns instrumentos. A da foto de cima é o Beija-Flor.
FECUNDAÇÃO CÓSMICA


IMPREVISTO


METÁSTESE


MIMENTO


MIRCUR


PÁSSARO MAMÍFERO


QUEBRA-GALHO


VIOLA DA GAMBA


E ainda:
Namorados Abstratos
Reta na Curva
Piston Cretino
Mulher Faladora, movida pelo vento
Chicote
Violão Eólico
Aranha
Constelação
Peixe
Vau
Vir a Ser
Olho Público

E tem mais... mas como eu disse, vamos ficar por aqui. Como disse Smetak, "falar sobre a música é uma besteira; executá-la, uma loucura". Encerro este post com um poema seu, que está no livro A Simbologia dos Instrumentos. Axé e até!

PLÁSTICAS SONORAS
Sinto estes corpos milenares
com mil pregos furados em tábuas
igual aos cristos nos calvários

coladas as costuras e emendas
tapadas com os dedos nove fendas
para segurar as folhas tremendas

e se decompondo em fragmentos
num buquê de flores e legendas
em ritmos lentos aos quatro ventos

13 October 2007

o Pindorama


Toquei neste muito também, quando participei do Laboratório de Criação Espontânea em 76 no Solar do Unhão. Mas só tem graça se tem mais de 20 pessoas. É uma viagem sonora-sensorial inenarrável!

"De 1973, instrumento musical de sopro e percussão, feito de cabaças, tubos de plásticos, bambu, cano de pvc, madeira e metal, com altura de 2,20 m. Instrumento coletivo, contendo no meio o sextante, instrumento dos navegantes, anterior à bússola. A cabaça central, usada com boré (boré- uma família de instrumentos de sopro de Smetak, feitos de tubos de poliéster, com uma cabaça para a saída do som, e um bocal aberto, que dá bramidos, típicos dos índios, para a chamada da guerra), significa uma projeção em 6 direções, ou seja: norte, sul, leste, oeste, nadir e zênite.

Uma corda, em volta horizontal e vertical, dá a possibilidade do contraste sonoro entre uma série de flautas harmônicas, uma série de chocalhos. O seu aspecto exterior monstruoso, de uma ameba em constante divisão e desdobramento, dá a possibilidade de 60 pessoas se ativarem musicalmente" (do livro de Smetak, A Simbologia dos Instrumentos).

08 October 2007

o Bisnadinha


De 1969, plástica sonora feita de arame, madeira, metal, papel e fio de plástico, com 60 cm de altura.

Este é o mais comovente das criaturas. É o próprio João Ninguém de Noel, o Nowhere Man dos Beatles, e podemos, cada um de nós, nos identificar com este serzinho niilista nos momentos down de nossa vida, em que nos achamos um zero. Contundente, horripilante, expressionista, real e profundo.

Do livro de Smetak, a Simbologia dos Instrumentos, um dos textos mais poéticos, na minha opinião. : "Torna-se realmente difícil escrever uma biografia sobre um serzinho que se tornou o Nadinha, já repetidas vezes. Escapa à nossa percepção, entretanto ele está aqui, entre nós, mexendo os pauzinhos. Valor, sem valor e validade, inconsciente como uma molécula de matéria despejada do imenso forno do universo. Nasceu de uma chama de vela que um amigo colocou em suas mãos frias, como última dádiva para o longo caminho da morte. Junto, uma rosa vermelha, enfeitando a morte. Porque o Bis-Nadinha, durante a sua vida que terminou de repente, sempre foi um sujeito alegre e dotado de certa filosofia. Julgava-se sem liderança, convencido de sua absoluta nulidade, e usava com abundância os perfumes da natureza. Fez o dia de noite, e a noite de dia. Era, e ainda é, um Beatle, se é permitido dizer tal coisa quanto à mais abusada dualidade. E se dá bem nesses termos, como assegura repetidas vezes. Não quer outra vida. Eis a forma magnífica da sua existência. Continua fielmente a ser aquilo que não era (!). Eis a sua tragédia. Sente nas costas o fixo-móvel do espírito invulgar coletivo, mas sem poder dar a moldura de uma personalidade constante e amadurecida. Esforça-se para enquadrar-se na vida. para este fim, suportou dezenas de exames e testes, e traz o selo da borboleta na testa, simbolismo do tradicional laço de seda que a mãe coloca nos cabelos das meninas...

Passaporte para nova vaga da vida.

A sua saudade é profunda, encontrando-se num grande vale vertiginoso. o que está em cima agora está embaixo, e vice-versa, como se a inteligência da percepção das coisas fosse nos pés, e a cabeça andando. Os olhos procuram um caminho neste labirinto de xadrez preto e branco. Mas não o acham. Estão olhando de fora para dentro, e enxergam apenas uma folha verde que ocupa o espaço onde normalmente se escondem os miolos.

Quo Vadis? Para onde eu vou, suspira o ponto de interrogação que sai como fumaça do cigarro, da sua boca sem boca. Eis aqui o seu fantasma. Estará vivo ou morto? Um vivo-morto, um morto-vivo?

Somos nós ele, ou está sendo ele nós?

Bis-Nadinha, um fantasma; em vida, era um grande farrista, morreu muito cedo e está aqui dependendo de duas coisas: vemos, na frente, uma elipse e, atrás, um quadrado, isto é, ele está fazendo um grande esforço para reconhecer seus erros e quer se enquadrar novamente como pessoa viva... Fica na dependência de sua alma... procurando uma nova personalidade.

Mostra, ainda, sua juventude com uma perfeita dentadura. Botou uma rosa no cabelo e lembra um pouco as criaturas de hoje, os cabeludos.

Tem um som tétrico.

Bis acaba de repetir... repetir o nadinha.

Seu sustentáculo é uma cravelha. Tem um lacinho na cabeça, símbolo do infinito, um oito".

SALVE O NOSSO HERÓI!!!!

06 October 2007

o Coloquio


Adoro este também. Estas duas cabeças esculpidas em barro por Smetak são tão expressivas (além de tudo, um escultor!!!!), e quando a gente toca nas cordas, elas tremem, se mexem, dando vida a este diálogo.

Do livro de Smetak, "A Simbologia dos Instrumentos": "Montado em dois vergalhões de ferro que se cruzam, as duas potestades da dualidade milenária, formando a letra X, simbolismo do tempo. Vemos os dois Brasis: aquele que funciona com a explosão da gasolina, do ouro negro, e aquele outro Brasil, encostado como um fac-símile no seu irmão, reservatório "sui generis"de tudo, conhecido e desconhecido em matéria de comparação. O Distrito Federal, meio século mais tarde, denominará este quadrado de terras encravado no estado de Goiás, vizinho de Mato Grosso e do Amazonas, com outro nome : Federação Divina. E toda a riqueza espiritual que este irmão desconhecido possui será derramada sobre o mundo, que se salvará das ruínas.

O colóquio tem 7 cordas, no meio, uma cruz. No meio do X, coloquei um ponto vermelho e dourado, mostrando o fogo sagrado.

O som dele é muito solto, treme".